São Paulo, sexta-feira, 02 de janeiro de 2009

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Ação de Israel deve ter efeito oposto a planejado

ROULA KHALAF
DO "FINANCIAL TIMES"

Israel escolheu seu timing com cuidado quando decidiu tentar restabelecer seu poder de dissuasão, destroçado há dois anos quando travou guerra contra o Hizbollah, do Líbano, e saiu fortemente contundido.
O país escolheu um alvo mais fraco -a miserável Faixa de Gaza, governada pelo grupo islâmico Hamas, muito menos disciplinado e menos armado.
Empregou força avassaladora, durante a transição presidencial americana e antes da posse de Barack Obama, que poderia mostrar-se menos favorável a suas aventuras militares. E agiu contra o Hamas num momento em que muitos Estados árabes, em especial o Egito, se voltam contra o grupo.
Mas será que a nova guerra de Israel era necessária? E pode o país emergir dela mais forte que em 2006? Faltando poucas semanas para uma eleição, não surpreende que todos os líderes israelenses estejam fazendo o possível para provar que podem impedir a saraivada de foguetes do Hamas.
Entretanto, com um pouco de paciência e diplomacia, a trégua com Hamas poderia ter sido renovada. Foi Israel quem desferiu o primeiro golpe contra o cessar-fogo, matando seis militantes do Hamas.
Como é de praxe, boa parte da comunidade internacional ou está mantendo silêncio ou dando apoio a Israel. Talvez tenham a impressão de que, batendo forte no Hamas, Israel consiga mudar o equilíbrio de poder na região, que nos últimos anos pendeu em favor de forças mais radicais.
Ao escolher a opção militar, porém, Israel pode gerar mais baixas políticas do que pretendia. Os chamados moderados do mundo árabe dificilmente sairão desta crise reforçados.
A reação de apoio de Bush também dificultará a tarefa de Obama de restaurar a imagem dos EUA na região. Não faz muito tempo que o Oriente Médio estava comemorando a eleição americana, prevendo que a diplomacia tomaria o lugar da força.
Mas seria ilusão imaginar que é possível travar guerra numa frente e fazer paz na outra, ou que a Cisjordânia, governada pelo secular Fatah, possa prosperar enquanto a Faixa de Gaza arde em chamas. Infelizmente, a consequência provável dos ataques será o fortalecimento das próprias forças que eles visavam enfraquecer, Os perdedores serão as vozes que argumentam em favor de uma resolução pacífica do conflito do Oriente Médio.

Tradução de CLARA ALLAIN



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