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Egito faz muro subterrâneo na divisa de Gaza
Projetada por engenheiros do Exército dos EUA, construção prevê barreira de aço reforçado resistente a explosões
Inicialmente negado pelo governo egípcio, plano visa coibir fluxo pelos túneis para o território palestino controlado pelo Hamas
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO
Depois de inicialmente negar
o projeto, temendo reações adversas do mundo árabe, o Egito
confirmou que está construindo uma muralha subterrânea
na fronteira com a faixa de Gaza para interromper o contrabando que escoa pelos inúmeros túneis que abastecem o isolado território palestino.
Um ano após a ofensiva israelense contra o grupo extremista Hamas em Gaza, a iniciativa expõe um dos principais
dilemas que encurralam o governo egípcio. De um lado, o
compromisso de solidariedade
com os palestinos; de outro, a
preocupação com a segurança
na fronteira e a pressão americana para asfixiar o Hamas.
Cercada de sigilo, a construção prevê uma barreira subterrânea de aço reforçado para resistir a explosões. A imprensa
especula que ela pode chegar a
20 metros de profundidade, cobrindo toda a extensão da fronteira egípcia com Gaza, sob
uma superfície de 14 km.
Projetada pelo corpo de engenharia do Exército americano, segundo a rede BBC, a barreira de aço incluiria um sistema de canos com água destinados a inundar os túneis ilegais.
Assim que o projeto foi revelado, os líderes do Hamas reagiram com indignação e ameaças.
Sob bloqueio israelense desde
que passou a controlar Gaza, há
três anos, o grupo islâmico
transformou a rede de túneis
na divisa com o Egito em canal
vital de ligação econômica e sua
principal fonte de renda.
Antes dos ataques israelenses, havia algo entre 1.500 e
3.000 dessas passagens, compondo uma indústria tão lucrativa que o Hamas estuda criar
um Ministério dos Túneis, para
regular as exportações ilegais e
a cobrar impostos.
Após a ofensiva de Israel, que
destruiu boa parte deles, o número de túneis caiu para menos de 200. Mesmo assim, continuaram a ser o único elo de
Gaza com o comércio exterior.
De combustíveis a carros,
passando por todo tipo de maquinário, bens de consumo e,
de acordo com Israel, armas e
drogas, é através dos túneis que
o Hamas abastece a população
com produtos que não chegam
por meio da ajuda humanitária
e respira economicamente.
Num discurso que marcou o
início dos ataques israelenses,
no último domingo, um dos
principais líderes do Hamas em
Gaza, Ismail Haniyeh, fez um
apelo dramático ao presidente
egípcio, Hosni Mubarak, para
que desistisse de construir a
muralha subterrânea.
"Não estamos ameaçando a
segurança do Egito, nem interferindo nos assuntos do Egito,
mas fomos forçados a usar os
túneis como opção excepcional", disse Haniyeh, que ocupava o cargo de primeiro-ministro antes da cisão entre Hamas
e o Fatah, as duas principais
facções palestinas, em 2007.
Para o Egito, no entanto, que
foi criticado por países árabes
durante os ataques israelenses
por manter a sua fronteira com
Gaza fechada, voltando a atrair
as eternas acusações de cumplicidade com Israel, os túneis
são uma ameaça à segurança.
"O problema não é apenas o
contrabando, algo que país nenhum tolera, e o que entra em
Gaza", disse à Folha um membro do governo egípcio, pedindo que não fosse identificado.
"É também o que e quem sai".
Ele lembra casos nos últimos
anos de militantes do Hamas
que escaparam pelos túneis para a península do Sinai.
Mas a asfixia do fluxo comercial subterrâneo também terá
consequências econômicas negativas do lado egípcio. De
acordo com um cálculo feito
pelo jornal egípcio "Al-Youm
al-Sabe", a indústria dos túneis
já gerou quase US$ 1 bilhão para os residentes na região da
fronteira, a maioria beduínos,
envolvidos direta ou indiretamente no contrabando.
Uma hipótese estudada pelo
Cairo para aliviar esse impacto
seria a abertura de sua fronteira com Gaza para passagem de
pessoas e mercadorias, algo a
que o governo Mubarak tem
resistido devido às suas divergências com o Hamas.
A saída econômica, portanto,
depende de uma solução para o
dilema político. "O Egito caminha numa corda bamba entre
seu compromisso com os árabes e a causa palestina e a responsabilidade de manter a segurança internacional", diz Gamal Soltan, analista político do
Centro Al-Ahram, no Cairo.
Com agências internacionais
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