São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

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Reciclagem de escombros se torna ganha-pão

DO ENVIADO A GAZA

Dois anos após a ofensiva israelense à faixa de Gaza, o território palestino é um cenário dominado por escombros, areia e lixo.
O alívio no embargo decidido por Israel em junho, após intensa pressão internacional, encheu as prateleiras dos mercados, mas não melhorou a vida da empobrecida população.
Os principais problemas são o desemprego, que atinge quase 40% dos trabalhadores, e a falta de materiais de construção. Sem matéria-prima e maquinário, 95% das fábricas fecharam.
Israel embarga produtos como ferro, cimento, brita e vidro sob a alegação de que eles poderiam ser usados com objetivos terroristas.
Das cerca de 4.000 casas destruídas nos bombardeios israelenses, só 400 foram refeitas, estima a UNRWA (agência da ONU para os palestinos).
Segundo Christer Nordahl, vice-diretor de operações da UNRWA, o impacto do alívio concedido por Israel em junho foi insignificante para os necessitados, que são a maioria.
Ele lembra que 80% da população de Gaza depende de ajuda humanitária.
"O alívio do bloqueio beneficiou os poucos que têm dinheiro. Agora, eles podem comprar chocolate, batata frita e perfume", ironiza Nordahl. "Mas não ajudou em nada o desenvolvimento de Gaza".
A política oficial de Israel é aprovar a entrada de material de construção apenas para projetos da ONU. Mas Nordahl afirma que só 7% da demanda da agência foi atendida.
Sem escolas novas, 40 mil crianças devem ficar fora das salas de aula no próximo ano letivo.
Os montes de escombros deixados pela ofensiva lançada por Israel há exatamente dois anos se acumulam por toda a faixa de Gaza, ao lado de montes de lixo.
Cerca de 1.400 pessoas foram mortas pelos ataques, e centenas continuam desabrigadas.
Em meio à miséria, a destruição tem fornecido um inesperado sustento para alguns e fez surgir um inusitado setor da economia: a reciclagem dos escombros.
É um trabalho de paciência e pouco lucro. No sul da faixa de Gaza, os irmãos Bahaa, 17, e Azam, 18, descarregam um caminhão de pedras que recolheram em escombros. Pelo desgastante serviço, ganharam apenas dez shequels (R$ 5).
"O importante é que depois ganhamos os tijolos reciclados de graça", diz Bahaa, vestido numa camiseta da UNRWA. "Meu pai já construiu um prédio de quatro andares com eles", afirma.(MN)


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