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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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Conflito pode criar nova ordem no mercado de petróleo

DE WASHINGTON

A substituição do regime de Saddam Hussein por um governo próximo da Casa Branca pode significar um duro golpe contra o cartel da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e forçar uma nova ordem na indústria mundial do produto.
Com 112 bilhões de barris, as reservas conhecidas do Iraque perdem apenas para as da Arábia Saudita, país com o qual os EUA mantêm uma incômoda relação de dependência. Ao transformar o Iraque numa fonte segura e barata, os EUA conseguiriam reduzir sua dependência da Opep e garantir um preço do petróleo no nível anterior aos tempos do cartel -quando sete grandes companhias privadas (as "sete irmãs", quatro delas americanas) dominavam o mercado mundial.
Mas representantes do governo e da indústria do setor de energia definem como simplória e equivocada a suposição de que os EUA estejam indo à guerra motivados pelo petróleo iraquiano.
"Se petróleo fosse a motivação, os EUA nunca teriam rompido com Saddam", disse à Folha John Felmy, economista-chefe do Instituto de Petróleo da América, associação que representa as maiores companhias americanas do setor. "Seria melhor montar uma aliança com o ditador e deixá-lo cometer seus abusos, desde que o fornecimento fosse garantido."
"Essa guerra tem tudo a ver com petróleo", discorda Michael Renner, pesquisador do Worldwatch Institute. "Diretamente com petróleo e indiretamente com a balança de poder econômico e político no Oriente Médio."
Indagado sobre o assunto, o secretário de Estado americano, Colin Powell, disse que os EUA irão "proteger" a soberania dos iraquianos sobre suas reservas de petróleo. "Elas são propriedade do povo iraquiano e serão protegidas e desenvolvidas em benefício do futuro do Iraque."
Seja qual for a motivação direta para a guerra, é certo que uma eventual substituição de Saddam por um líder aliado dos EUA teria o potencial de abalar o mercado global de petróleo e abrir oportunidades para um "novo cenário".
Hoje, a Opep responde por 28% da produção mundial e por dois terços das reservas conhecidas de petróleo. Nas próximas duas décadas, ela pretende aumentar em 76% sua produção. Já a produção dos países que não integram a organização crescerá somente 18%, segundo a própria Opep.
Simultaneamente, o Departamento de Energia dos EUA estima que a dependência americana de petróleo importado -pouco superior a 50% hoje- atinja 75% em 2020. "Em suma: se nada acontecer, os EUA tendem a depender cada vez mais da Opep, e isso incomoda muito Bush e a Casa Branca", afirmou Renner.
Segundo ele, os EUA querem que grandes companhias americanas controlem o mercado da "reconstrução" da indústria petrolífera do Iraque - estimado em cerca de US$ 40 bilhões. Nesse mercado estariam os interesses econômicos mais diretamente associados à iniciativa militar.
Após a Guerra do Golfo (1991), a Halliburton, empresa texana presidida até 2000 pelo vice-presidente Dick Cheney, foi uma das duas contratadas pelo Kuait para consertar os poços destruídos pelas forças iraquianas em fuga.
Além de Cheney, também trabalharam para indústrias de energia o próprio presidente Bush, sua conselheira para assuntos de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, o secretário de Comércio, Donald Evans, e o secretário do Exército, Thomas White. (MA)


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