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Conflito pode criar nova ordem no mercado de petróleo
DE WASHINGTON
A substituição do regime de
Saddam Hussein por um governo
próximo da Casa Branca pode
significar um duro golpe contra o
cartel da Opep (Organização dos
Países Exportadores de Petróleo)
e forçar uma nova ordem na indústria mundial do produto.
Com 112 bilhões de barris, as reservas conhecidas do Iraque perdem apenas para as da Arábia
Saudita, país com o qual os EUA
mantêm uma incômoda relação
de dependência. Ao transformar
o Iraque numa fonte segura e barata, os EUA conseguiriam reduzir sua dependência da Opep e garantir um preço do petróleo no
nível anterior aos tempos do cartel -quando sete grandes companhias privadas (as "sete irmãs",
quatro delas americanas) dominavam o mercado mundial.
Mas representantes do governo
e da indústria do setor de energia
definem como simplória e equivocada a suposição de que os
EUA estejam indo à guerra motivados pelo petróleo iraquiano.
"Se petróleo fosse a motivação,
os EUA nunca teriam rompido
com Saddam", disse à Folha John
Felmy, economista-chefe do Instituto de Petróleo da América, associação que representa as maiores companhias americanas do
setor. "Seria melhor montar uma
aliança com o ditador e deixá-lo
cometer seus abusos, desde que o
fornecimento fosse garantido."
"Essa guerra tem tudo a ver com
petróleo", discorda Michael Renner, pesquisador do Worldwatch
Institute. "Diretamente com petróleo e indiretamente com a balança de poder econômico e político no Oriente Médio."
Indagado sobre o assunto, o secretário de Estado americano, Colin Powell, disse que os EUA irão
"proteger" a soberania dos iraquianos sobre suas reservas de
petróleo. "Elas são propriedade
do povo iraquiano e serão protegidas e desenvolvidas em benefício do futuro do Iraque."
Seja qual for a motivação direta
para a guerra, é certo que uma
eventual substituição de Saddam
por um líder aliado dos EUA teria
o potencial de abalar o mercado
global de petróleo e abrir oportunidades para um "novo cenário".
Hoje, a Opep responde por 28%
da produção mundial e por dois
terços das reservas conhecidas de
petróleo. Nas próximas duas décadas, ela pretende aumentar em
76% sua produção. Já a produção
dos países que não integram a organização crescerá somente 18%,
segundo a própria Opep.
Simultaneamente, o Departamento de Energia dos EUA estima que a dependência americana
de petróleo importado -pouco
superior a 50% hoje- atinja 75%
em 2020. "Em suma: se nada
acontecer, os EUA tendem a depender cada vez mais da Opep, e
isso incomoda muito Bush e a Casa Branca", afirmou Renner.
Segundo ele, os EUA querem
que grandes companhias americanas controlem o mercado da
"reconstrução" da indústria petrolífera do Iraque - estimado
em cerca de US$ 40 bilhões. Nesse
mercado estariam os interesses
econômicos mais diretamente associados à iniciativa militar.
Após a Guerra do Golfo (1991), a
Halliburton, empresa texana presidida até 2000 pelo vice-presidente Dick Cheney, foi uma das
duas contratadas pelo Kuait para
consertar os poços destruídos pelas forças iraquianas em fuga.
Além de Cheney, também trabalharam para indústrias de energia o próprio presidente Bush, sua
conselheira para assuntos de Segurança Nacional, Condoleezza
Rice, o secretário de Comércio,
Donald Evans, e o secretário do
Exército, Thomas White.
(MA)
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