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IRAQUE OCUPADO
Dois homens-bomba atacaram as sedes dos dois principais partidos do Curdistão durante festa muçulmana
Atentados matam 57 curdos iraquianos
DA REDAÇÃO
Ataques suicidas destruíram
ontem as instalações dos dois
principais partidos curdos na cidade de Arbil, capital administrativa do Curdistão iraquiano, matando pelo menos 57 pessoas e ferindo outras 235.
Foi o mais sangrento atentado
no Iraque desde que, a 29 de agosto último, explosivos detonados
na entrada de uma mesquita em
Najaf mataram ao menos 80 pessoas, entre elas o líder espiritual
xiita Mohammed al Hakim.
Apesar de o Iraque ser alvo
constante de ataques com carros-bomba, a ação conjunta de ontem
foi a primeira vez no país que terroristas carregaram consigo os
explosivos, escondidos debaixo
das roupas. Arbil fica a 320 km ao
norte de Bagdá.
O ato não foi reivindicado -líderes curdos, todos próximos dos
Estados Unidos, atribuíram a
ação a extremistas islâmicos do
Ansar al Islam, grupo que teria elo
com a rede terrorista Al Qaeda.
Os curdos pretendem manter
ou mesmo ampliar a autonomia
que conquistaram em 1992 na região rica em petróleo na qual têm
hegemonia demográfica e cultural. Isso gera tensões com os árabes sunitas, que têm sucessivamente governado a Mesopotâmia, e com a maioria xiita.
As explosões em Arbil coincidiram com o início do feriado religioso de quatro dias, o Eid al
Adha (cerimônia do sacrifício).
Dirigentes curdos do KDP (Partido Democrático do Curdistão),
de Massoud Barzani, e da KUP
(União Patriótica do Curdistão),
liderada por Jalal Talabani, recebiam centenas de convidados nas
sedes de suas agremiações.
Os dois partidos têm milícias
próprias, que ontem no entanto
não revistavam os visitantes, em
razão da motivação religiosa das
visitas, que são sempre numerosas durante essas festividades.
Líderes mortos
Entre os mortos de Arbil estão o
governador do Curdistão, Akram
Mintik, o vice-governador, Mehdi
Khoshnau, o vice-primeiro-ministro, Sami Abdul Rahman, o
ministro da Agricultura e outros
responsáveis de primeiro e segundo escalões partidários.
A morte em grande número de
dirigentes não deverá deixar os
curdos acéfalos ou em crise de liderança, disse à Associated Press
o cientista político Patrick Clawson, vice-diretor do Instituto de
Política do Oriente Médio, baseado em Washington. "Eles têm
quadros para manter um governo
autônomo", disse Clawson.
Por sua vez, Jonathan Schanzer,
especialista em terrorismo naquele instituto, afirmou que os atentados de ontem têm o perfil do
grupo Ansar al Islam, mas podem
ter sido praticado por árabes de
outros países ou por árabes das
regiões centrais do Iraque.
A seu ver, os autores do atentado procuram afastar os curdos
dos árabes, que dentro do Iraque
são seus vizinhos imediatos ao
sul, e reforçar a idéia de que os
curdos têm planos separatistas, o
que dificultaria qualquer composição interna entre as etnias e grupos religiosos no país.
Na sede do KDP restos de cadáveres e manchas de sangue nas
paredes semidestruídas davam,
segundo a Associated Press, uma
dimensão clara dos efeitos dos explosivos. Uma cabeça decapitada
no chão de cerâmica era, segundo
a polícia, a do terrorista suicida.
O comando das forças de ocupação americana no Iraque disse
em Bagdá que o número de mortos era de 56. Mas o médico que
chefia o Instituto de Medicina Legal de Arbil disse ter recebido 57
cadáveres.
Nos hospitais da cidade deram
entrada pelo menos 235 feridos.
Um ministro curdo não identificado pelas agências internacionais disse que os mortos seriam
80 na sede do KDP e 60 na sede da
KUP -estimativa que não foi
confirmada.
Estado de emergência
Os militares americanos decretaram estado de emergência no
Curdistão iraquiano. A região, do
tamanho aproximado da Suíça,
tem administração autônoma
desde 1992, quando resolução da
ONU a definiu como zona de exclusão aérea e militar ao governo
central do Iraque, então chefiado
por Saddam Hussein.
Nos anos 80 uma parte dos curdos, ala ligada ao KDP, aliou-se ao
Irã na guerra contra o Iraque. A
KUP foi mais cautelosa e procurou se colocar como interlocutora
regional de Saddam.
O genocídio com armas químicas, praticado por Saddam contra
populações civis curdas, foi noticiado no Iraque como uma operação "contra inimigos".
Em visita a Bagdá, o subsecretário da Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, criticou duramente os autores do atentado de Arbil.
O fato de escolherem um feriado islâmico para atingir suas vítimas demonstra, segundo Wolfowitz, que os terroristas "não
atuam em nome do islã, mas sim
em nome de sua visão fanática e
irresponsável do mundo". Mesmo assim, acrescentou, "eles estão perdendo, porque somos nós
que estamos ganhando".
Ainda ontem oficiais dos serviços de inteligência disseram que
persistem em Bagdá 14 células de
partidários de Saddam, com 250 a
300 terroristas que estariam dispostos a tudo para desestabilizar a
ocupação norte-americana.
Com agências internacionais
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