São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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IRÃ

Medida se deveu à decisão do Conselho dos Guardiães de manter o veto a 2.400 candidatos pró-reformas de concorrer em eleições

Reformistas iranianos renunciam em massa

DA REDAÇÃO

Mais de 40% dos deputados iranianos renunciaram aos seus cargos ontem, acentuando ainda mais a disputa política entre reformistas e conservadores, que ameaça a eleição parlamentar do próximo dia 20. A renúncia se deveu à decisão do Conselho de Guardiães de impedir a candidatura de mais de 2.400 reformistas no pleito deste mês.
Dos 290 integrantes do Parlamento, 124 renunciaram -todos reformistas. Esse grupo, majoritário na Casa, é liderado por Reza Khatami, que também renunciou e é irmão do presidente do país, Mohammad Khatami. A disputa envolvendo os dois lados não é nova -desde que Khatami foi eleito em 1997, reformistas e conservadores brigam por poder-, mas se acentuou em janeiro.
O Conselho de Guardiães -um corpo composto por juristas e clérigos conservadores- decidira vetar a candidatura de 3.600 reformistas nas eleições do dia 20. Após apelação dos reformistas e orientação do aiatolá Ali Khamenei, o conselho aceitou rever a decisão. Porém concordou em voltar atrás em 1.160 nomes, mantendo os outros dois terços impedidos de participar da eleição.
Entre os que tiveram o nome vetado, estão 80 membros do atual Parlamento -todos estes renunciaram ontem. Segundo o Conselho de Guardiães, eles não atendem aos critérios necessários para se candidatarem aos cargos. Os reformistas dizem que a decisão é política e visa impedir que os conservadores percam poder.
"Eles [os conservadores] querem encobrir uma horrorosa ditadura com a bonita roupagem da democracia", afirmou o proeminente deputado reformista Mohsen Mirmadi em discurso na sessão extraordinária do Parlamento, na qual ele também anunciou a sua renúncia. "Não tivemos outra alternativa a não ser renunciar", afirmou o parlamentar.
O presidente do Parlamento e também reformista, Mahdi Karroubi, que recebeu o pedido de renúncia, disse que pedirá a intervenção de Khamenei na crise. Karroubi acusou o Conselho dos Guardiães de "desrespeitar os valores democráticos" e de não ter confiança nos votos das pessoas.
Khamenei, autoridade máxima do Irã, viajou ontem de Teerã para um local não divulgado.
Integrantes do governo de Khatami diziam ontem que as eleições poderão ser canceladas ou adiadas se o veto às candidaturas não for retirado. "A possibilidade de organizar uma eleição livre e competitiva não existe", afirmou Abdolvahed Moussavi Lari, ministro do Interior, cuja pasta responde pela organização do pleito.
O presidente Khatami evitou criticar diretamente o Conselho de Guardiães, mas fez uma referência indireta à crise ontem na inauguração do aeroporto em Teerã: "O Irã sempre esteve na vanguarda da luta contra as liberdades. No sábado, antes do anúncio das renúncias, ele havia dito que o Conselho de Guardiães deveria permitir a candidatura de todos os candidatos.
Porém Khatami não tem poder para intervir na decisão do Conselho de Guardiães -seria necessário envolvimento de Khamenei. Partidos reformistas ameaçaram boicotar as eleições.
Nas ruas, tem havido pouca mobilização. A população, desiludida com a falta de reformas prometidas pelo governo de Khatami, tem se mantido calada.
A renúncia dos parlamentares aconteceu no dia que marca o retorno do aiatolá Ruhollah Khomeini ao Irã, que culminaria na Revolução Islâmica de 1979.


Com agências internacionais


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