|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IRÃ
Medida se deveu à decisão do Conselho dos Guardiães de manter o veto a 2.400 candidatos pró-reformas de concorrer em eleições
Reformistas iranianos renunciam em massa
DA REDAÇÃO
Mais de 40% dos deputados iranianos renunciaram aos seus cargos ontem, acentuando ainda
mais a disputa política entre reformistas e conservadores, que
ameaça a eleição parlamentar do
próximo dia 20. A renúncia se deveu à decisão do Conselho de
Guardiães de impedir a candidatura de mais de 2.400 reformistas
no pleito deste mês.
Dos 290 integrantes do Parlamento, 124 renunciaram -todos
reformistas. Esse grupo, majoritário na Casa, é liderado por Reza
Khatami, que também renunciou
e é irmão do presidente do país,
Mohammad Khatami. A disputa
envolvendo os dois lados não é
nova -desde que Khatami foi
eleito em 1997, reformistas e conservadores brigam por poder-,
mas se acentuou em janeiro.
O Conselho de Guardiães -um
corpo composto por juristas e clérigos conservadores- decidira
vetar a candidatura de 3.600 reformistas nas eleições do dia 20.
Após apelação dos reformistas e
orientação do aiatolá Ali Khamenei, o conselho aceitou rever a decisão. Porém concordou em voltar atrás em 1.160 nomes, mantendo os outros dois terços impedidos de participar da eleição.
Entre os que tiveram o nome vetado, estão 80 membros do atual
Parlamento -todos estes renunciaram ontem. Segundo o Conselho de Guardiães, eles não atendem aos critérios necessários para
se candidatarem aos cargos. Os
reformistas dizem que a decisão é
política e visa impedir que os conservadores percam poder.
"Eles [os conservadores] querem encobrir uma horrorosa ditadura com a bonita roupagem da
democracia", afirmou o proeminente deputado reformista Mohsen Mirmadi em discurso na sessão extraordinária do Parlamento, na qual ele também anunciou
a sua renúncia. "Não tivemos outra alternativa a não ser renunciar", afirmou o parlamentar.
O presidente do Parlamento e
também reformista, Mahdi Karroubi, que recebeu o pedido de renúncia, disse que pedirá a intervenção de Khamenei na crise.
Karroubi acusou o Conselho dos
Guardiães de "desrespeitar os valores democráticos" e de não ter
confiança nos votos das pessoas.
Khamenei, autoridade máxima
do Irã, viajou ontem de Teerã para um local não divulgado.
Integrantes do governo de Khatami diziam ontem que as eleições
poderão ser canceladas ou adiadas se o veto às candidaturas não
for retirado. "A possibilidade de
organizar uma eleição livre e
competitiva não existe", afirmou
Abdolvahed Moussavi Lari, ministro do Interior, cuja pasta responde pela organização do pleito.
O presidente Khatami evitou
criticar diretamente o Conselho
de Guardiães, mas fez uma referência indireta à crise ontem na
inauguração do aeroporto em
Teerã: "O Irã sempre esteve na
vanguarda da luta contra as liberdades. No sábado, antes do anúncio das renúncias, ele havia dito
que o Conselho de Guardiães deveria permitir a candidatura de
todos os candidatos.
Porém Khatami não tem poder
para intervir na decisão do Conselho de Guardiães -seria necessário envolvimento de Khamenei.
Partidos reformistas ameaçaram
boicotar as eleições.
Nas ruas, tem havido pouca
mobilização. A população, desiludida com a falta de reformas prometidas pelo governo de Khatami, tem se mantido calada.
A renúncia dos parlamentares
aconteceu no dia que marca o retorno do aiatolá Ruhollah Khomeini ao Irã, que culminaria na
Revolução Islâmica de 1979.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Intolerância: França planeja proibir anti-semitismo na TV Próximo Texto: Gripe do frango: OMS investiga transmissão da doença entre humanos Índice
|