São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

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Colômbia anuncia morte de nº 2 das Farc

Segundo ministro da Defesa colombiano, Raúl Reyes foi morto em ataque aéreo na selva, em território equatoriano

É a maior baixa na direção das Farc em 40 anos e um trunfo para o governo de Uribe, que está sob pressão para negociar com guerrilha

João Wainer - 20.ago.03/Folha Imagem
Raúl Reyes na selva colombiana; ele era porta-voz do grupo


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O governo colombiano anunciou ontem a morte do porta-voz das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Raúl Reyes, 59, durante combates na fronteira com o Equador. É a primeira vez que um dos sete membros do alto secretariado da guerrilha de esquerda é abatido desde a sua fundação, em 1964.
A confirmação foi feita pelo ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, que classificou a operação como "o golpe mais contundente já sofrido pelo grupo terrorista em toda a sua história".
Santos informou que Reyes foi morto durante um bombardeio aéreo feito a um acampamento das Farc em território equatoriano a partir do lado colombiano. "Não houve invasão do espaço aéreo", assegurou.
O ministro afirmou, porém, que os corpos de Reyes, cujo nome verdadeiro é Luis Edgar Devia Silva, do ideólogo das Farc Julián Conrado e de outros 15 guerrilheiros "se encontram em poder das autoridades colombianas". À noite, a foto do cadáver de Reyes foi exibida no site do jornal "El Tiempo".
Na operação, um soldado colombiano também morreu.
Sempre de acordo com o governo colombiano, os guerrilheiros estariam em acampamento a 1.800 metros da fronteira. O presidente Álvaro Uribe, disse Santos, ligou ao colega equatoriano Rafael Correa para "informar-lhe sobre a situação". Correa, que lamentou as mortes e voltou a se oferecer como mediador, anunciou ontem uma investigação militar sobre os combates na área.
Reyes foi localizado e morto logo depois que o serviço de inteligência militar interceptou uma comunicação telefônica, provavelmente por meio de um telefone por satélite.
Muitas vezes chamado de "número 2" das Farc -atrás apenas de Manuel Marulanda, o "Tirofijo"-, Reyes era o encarregado da comunicação da guerrilha. Recebia jornalistas no mesmo território onde foi morto, entre os quais a reportagem da Folha, em 2003.
Em dezembro, em entrevista por e-mail ao jornal, Reyes se disse pessimista quanto a negociações com o governo Uribe. "Sua obstinação é a guerra, a aventura do resgate [dos reféns] pela força", afirmou.
Segundo o "El Tiempo", apenas o chefe militar das Farc, Mono Jojoy, tinha tanto poder nas Farc como Reyes, casado com uma filha de Marulanda.
Reyes se transformou no principal porta-voz da guerrilha durante os fracassados diálogos de paz sob o governo Andrés Pastrana (1998-2002). Desde então, se escondia na ampla região amazônica do departamento de Putumayo, fronteiriço com o Equador.

Momento político
A morte de Reyes contece num momento em que o governo Uribe tem sido criticado pelos reféns recém-soltos por não aceitar a exigência das Farc para a desmilitarização de dois municípios, Pradera e Florida, como condição para negociar a liberação de 39 reféns em troca de 500 guerrilheiros presos.
O presidente colombiano tem dito que a exigência é inaceitável e, em troca, oferece a criação de uma "zona de encontro" em área desmilitarizada.
Em nota, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, instou ontem as partes do conflito a "fazer prevalecer as considerações humanitárias". O comunicado diz que, neste momento, se "deveria pôr tudo em ação para confortar a dinâmica positiva que havia se iniciado com a libertação unilateral de reféns".
Sarkozy voltou a pedir a libertação da refém franco-colombiana Ingrid Betancourt, cujos parentes demonstraram preocupação ontem, temendo que a guerrilha aja contra os reféns em represália.
Enquanto apoiadores de Uribe avaliaram que as baixas podem forçar as Farc a negociar, o deputado da oposição Gustavo Petro (Polo Democrático) disse que a ação provocará "endurecimento político e militar da guerrilha" e cobrou do governo gesto em busca do diálogo "com base em sua própria vitória".
Até o fechamento desta edição, o governo venezuelano não havia comentado a operação. Formalmente afastado por Uribe da mediação com as Farc, o presidente Hugo Chávez fez gestões para as recentes libertações de reféns.

Linha-dura
Desde que assumiu o governo, em 2002, Uribe adotou uma política de linha-dura contra a guerrilha, financiada principalmente pelo governo dos EUA, por meio do Plano Colômbia.
Em 2007, dois comandantes médios haviam sido localizados e mortos pelo Exército, entre eles Negro Acácio, que tinha ligações com o traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar.
Segundo Bogotá, os efetivos das Farc foram reduzidos à metade nos últimos quatro anos. Seriam hoje 8.000 homens.
Acuada pela ofensiva, a guerrilha ocupa hoje sobretudo regiões amazônicas nas fronteiras com Equador, Brasil e Venezuela. Há três dias, o ex-senador Luis Eladio Pérez disse ter sido levado ao território equatoriano quando em cativeiro e que as Farc se abastecem de produtos brasileiros e venezuelanos.


Com agências internacionais


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