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Colômbia anuncia morte de nº 2 das Farc
Segundo ministro da Defesa colombiano, Raúl Reyes foi morto em ataque aéreo na selva, em território equatoriano
É a maior baixa na direção das Farc em 40 anos e um trunfo para o governo de Uribe, que está sob pressão para negociar com guerrilha
João Wainer - 20.ago.03/Folha Imagem
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Raúl Reyes na selva colombiana; ele era porta-voz do grupo |
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O governo colombiano anunciou ontem a morte do porta-voz das Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia),
Raúl Reyes, 59, durante combates na fronteira com o Equador.
É a primeira vez que um dos sete membros do alto secretariado da guerrilha de esquerda é
abatido desde a sua fundação,
em 1964.
A confirmação foi feita pelo
ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, que
classificou a operação como "o
golpe mais contundente já sofrido pelo grupo terrorista em
toda a sua história".
Santos informou que Reyes
foi morto durante um bombardeio aéreo feito a um acampamento das Farc em território
equatoriano a partir do lado colombiano. "Não houve invasão
do espaço aéreo", assegurou.
O ministro afirmou, porém,
que os corpos de Reyes, cujo
nome verdadeiro é Luis Edgar
Devia Silva, do ideólogo das
Farc Julián Conrado e de outros 15 guerrilheiros "se encontram em poder das autoridades
colombianas". À noite, a foto do
cadáver de Reyes foi exibida no
site do jornal "El Tiempo".
Na operação, um soldado colombiano também morreu.
Sempre de acordo com o governo colombiano, os guerrilheiros estariam em acampamento a 1.800 metros da fronteira. O presidente Álvaro Uribe, disse Santos, ligou ao colega
equatoriano Rafael Correa para
"informar-lhe sobre a situação". Correa, que lamentou as
mortes e voltou a se oferecer
como mediador, anunciou ontem uma investigação militar
sobre os combates na área.
Reyes foi localizado e morto
logo depois que o serviço de inteligência militar interceptou
uma comunicação telefônica,
provavelmente por meio de um
telefone por satélite.
Muitas vezes chamado de
"número 2" das Farc -atrás
apenas de Manuel Marulanda,
o "Tirofijo"-, Reyes era o encarregado da comunicação da
guerrilha. Recebia jornalistas
no mesmo território onde foi
morto, entre os quais a reportagem da Folha, em 2003.
Em dezembro, em entrevista
por e-mail ao jornal, Reyes se
disse pessimista quanto a negociações com o governo Uribe. "Sua obstinação é a guerra,
a aventura do resgate [dos reféns] pela força", afirmou.
Segundo o "El Tiempo", apenas o chefe militar das Farc,
Mono Jojoy, tinha tanto poder
nas Farc como Reyes, casado
com uma filha de Marulanda.
Reyes se transformou no
principal porta-voz da guerrilha durante os fracassados diálogos de paz sob o governo Andrés Pastrana (1998-2002).
Desde então, se escondia na
ampla região amazônica do departamento de Putumayo,
fronteiriço com o Equador.
Momento político
A morte de Reyes contece
num momento em que o governo Uribe tem sido criticado pelos reféns recém-soltos por não
aceitar a exigência das Farc para a desmilitarização de dois
municípios, Pradera e Florida,
como condição para negociar a
liberação de 39 reféns em troca
de 500 guerrilheiros presos.
O presidente colombiano
tem dito que a exigência é inaceitável e, em troca, oferece a
criação de uma "zona de encontro" em área desmilitarizada.
Em nota, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, instou ontem as partes do conflito a "fazer prevalecer as considerações
humanitárias". O comunicado
diz que, neste momento, se "deveria pôr tudo em ação para
confortar a dinâmica positiva
que havia se iniciado com a libertação unilateral de reféns".
Sarkozy voltou a pedir a libertação da refém franco-colombiana Ingrid Betancourt,
cujos parentes demonstraram
preocupação ontem, temendo
que a guerrilha aja contra os reféns em represália.
Enquanto apoiadores de Uribe avaliaram que as baixas podem forçar as Farc a negociar, o
deputado da oposição Gustavo
Petro (Polo Democrático) disse
que a ação provocará "endurecimento político e militar da
guerrilha" e cobrou do governo
gesto em busca do diálogo "com
base em sua própria vitória".
Até o fechamento desta edição, o governo venezuelano não
havia comentado a operação.
Formalmente afastado por Uribe da mediação com as Farc, o
presidente Hugo Chávez fez
gestões para as recentes libertações de reféns.
Linha-dura
Desde que assumiu o governo, em 2002, Uribe adotou uma
política de linha-dura contra a
guerrilha, financiada principalmente pelo governo dos EUA,
por meio do Plano Colômbia.
Em 2007, dois comandantes
médios haviam sido localizados
e mortos pelo Exército, entre
eles Negro Acácio, que tinha ligações com o traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar.
Segundo Bogotá, os efetivos
das Farc foram reduzidos à metade nos últimos quatro anos.
Seriam hoje 8.000 homens.
Acuada pela ofensiva, a guerrilha ocupa hoje sobretudo regiões amazônicas nas fronteiras com Equador, Brasil e Venezuela. Há três dias, o ex-senador Luis Eladio Pérez disse
ter sido levado ao território
equatoriano quando em cativeiro e que as Farc se abastecem de produtos brasileiros e
venezuelanos.
Com agências internacionais
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