São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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Hillary chega ao Oriente sem interlocutores

Em primeira visita à região, secretária de Estado tem pela frente Israel em transição de governo e divisão palestina

Ex-primeira-dama sofre ainda com esvaziamento de seu poder devido ao excesso de auxiliares envolvidos na diplomacia sob Obama

Efe
Homem prepara uma das mesas do centro de conferências de Sharm el Sheikh, palco de reunião internacional sobre a faixa de Gaza

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Ao iniciar sua participação hoje na reunião sobre a crise israelo-palestina, num resort de luxo em Sharm el Sheikh, na margem egípcia do mar Vermelho, a secretária de Estado Hillary Clinton encontrará um dos momentos mais complicados de uma região que é sinônimo de momentos complicados.
Apesar do caráter humanitário do evento, que levanta fundos para a reconstrução da faixa de Gaza após o conflito com Israel, a chanceler tenta avançar a agenda de paz de Barack Obama na região. Ao fazer isso agora, corre o risco de não ter interlocutores efetivos.
Por Israel, há a perspectiva de um governo de direita que rejeita a ideia de um Estado palestino -mas ainda não há um governo, já que Binyamin Netanyahu ainda está no processo de formação de sua coalizão. Pelos palestinos, há uma divisão profunda na liderança, apesar dos recentes esforços de reaproximação entre a Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas e o grupo radical Hamas.
Alguns especialistas dizem que Hillary deveria abandonar objetivos mais ambiciosos e se concentrar no imediato. "É hora de encarar certos fatos", escreveu Elliott Abrams, do Council on Foreign Relations. "Não estamos na iminência de uma paz israelo-palestina, um Estado palestino não deve ser criado no futuro próximo, e o foco deveria ser se concentrar em fortalecer instituições que permitam progresso palestino real a médio e longo prazo."

Concorrência
A secretária de Estado de Barack Obama enfrenta ainda problemas internos. Paradoxalmente, desde que assumiu a Casa Branca, Obama aumentou o orçamento para a diplomacia ao mesmo tempo que diluiu o poder de Hillary.
Primeiro, ao apontar o general da reserva James Jones para comandar o Conselho de Segurança Nacional. O militar disse que quer aumentar o alcance de seu departamento, que também lida com as ações diplomáticas dos EUA no mundo.
Jones conta com a geopolítica washingtoniana a seu favor: ele fica instalado na Ala Oeste da Casa Branca e se encontra diariamente com o presidente; já Hillary está a nove quarteirões da sede do Executivo e tem de requisitar horário na agenda de Obama se quer falar com ele.
Há também o fato de a influente Comissão de Relações Exteriores do Senado ser hoje comandada por John Kerry. Candidato derrotado na eleição presidencial de 2004 e preterido para o cargo de Hillary, o democrata assumiu o posto decidido a fazer diferença no setor.
Retomou prática abandonada nos últimos anos, as reuniões periódicas com especialistas em política internacional, diferentes das audiências oficiais por serem menos formais e fechadas ao público.
Além disso, há o fator Joe Biden. O vice-presidente, que fez carreira política ao se especializar em assuntos internacionais, visitou o Afeganistão antes mesmo da posse e fez o primeiro discurso oficial de política externa da nova administração, em reunião da Otan na Alemanha, em fevereiro.
Por fim, o excesso de "enviados especiais" a regiões problemáticas serve para diminuir o alcance da secretária. Do trio principal, Richard Holbrooke (Afeganistão e Paquistão), George Mitchell (Oriente Médio) e Dennis Ross (Irã), ela não tem ascendência sobre o primeiro, que fez acordo de se reportar diretamente a Obama.


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