|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Depois de assassinato, Dubai proíbe entrada de cidadãos de Israel
Medida é a primeira contra país judaico depois de morte, no emirado, de líder do Hamas; suspeita recai sobre o Mossad
Chefe da polícia emirati vira celebridade na região ao atacar Israel, que diz não haver evidências de seu envolvimento em trama
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Após provocar o chefe do serviço secreto israelense, desafiando-o a "ser homem", o comandante da polícia de Dubai
elevou um pouco mais o tom
contra Israel, a quem acusa de
estar por trás do assassinato de
um dos líderes do grupo extremista palestino Hamas, Mahmoud al Mabhouh.
Desconhecido do público até
duas semanas atrás, o general
Dahi Khalfan Tamim se tornou
uma celebridade instantânea
na região com suas alfinetadas
diárias em Israel e a divulgação
a conta-gotas de informações
sobre a morte de al Mabhouh
em um hotel de luxo de Dubai,
em janeiro.
Ontem Tamim deu um passo
além da retórica, anunciando
que visitantes suspeitos de ter
nacionalidade israelense, mesmo portando outro passaporte,
estão proibidos de entrar nos
Emirados Árabes Unidos. É a
primeira retaliação ao país pela
suspeita de que o Mossad (espionagem israelense) tenha
matado al Mabhouh.
Embora sem provas do envolvimento israelense, Tamim
tem mantido o suspense vivo e
o assunto nas manchetes.
Já disse que tem "99%" de
certeza da autoria do Mossad e
quer agora a criação de uma comissão de investigação formada pelos países cujos passaportes foram usados na operação:
França, Reino Unido, Alemanha, Irlanda, Austrália e Nova
Zelândia. Mais de metade dos
suspeitos usaram nomes de israelenses reais.
A polícia de Dubai divulgou
nomes e fotografias de 26 suspeitos, todos com passaportes
adulterados ou falsificados, que
entraram para a lista de procurados da Interpol.
Organogramas cada dia mais
intrincados mostram a ligação
entre os suspeitos, imagens deles circulando pelo hotel e no
aeroporto são exibidas à exaustão pelas redes de TV da região.
Israel diz que não há provas de
seu envolvimento.
Analistas indicam que o esclarecimento do assassinato se
tornou questão de honra para
as autoridades de Dubai, em
um momento em que a imagem
de estabilidade do emirado já
estava rachada pelo risco de calote da sua dívida.
A sucessão de revelações divulgadas por Tamim parece
não ter fim. Há dois dias, anunciou que a polícia tem o DNA de
um dos agentes, provavelmente uma mulher. Ontem, afirmou que há um 27º suspeito e
voltou a atacar Israel.
Al Mabhouh, responsável
por vários ataques terroristas
contra Israel, era o encarregado de comprar armas para o
Hamas.
"O Mossad não deveria vir
aqui. Não fizemos nada contra
Israel. Isso é um insulto a nós,
ao Reino Unido, à Austrália, à
Alemanha, à Nova Zelândia, e é
uma vergonha", afirmou Tamim.
Na semana passada, em entrevista a um jornal dos Emirados Árabes, o general desafiou
o chefe do Mossad a "ser homem" e admitir responsabilidade pelo atentado.
Para Yossi Melman, um dos
principais especialistas em inteligência da imprensa israelense, a tática de Tamim é provocar Israel a se incriminar.
"Ele está jogando a isca na esperança de que alguém em Israel a morda e se incrimine ou
revele informação confidencial", escreveu Melman no jornal "Haaretz".
Comércio
Embora não tenha relações
diplomáticas com os Emirados,
Israel mantém um escritório
comercial em Dubai, onde seus
empresários e diplomatas têm
uma base para se relacionar
com outros países árabes.
Números oficiais mostram
que o comércio de Israel com
países árabes e muçulmanos
com quem não tem relações diplomáticas chega a US$ 1,5 bilhão. Desse total, cerca de 8% é
no comércio com Dubai, principalmente equipamentos agrícolas e de segurança.
Ironicamente, o sistema de
segurança que gravou os suspeitos do assassinato pode ter
sido fornecido por uma empresa israelense. O veto à entrada
de israelenses em Dubai deve
esfriar esses laços.
Texto Anterior: Boa forma: Check-up indica Obama com saúde, embora ainda fumante Próximo Texto: Frase Índice
|