São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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Israel recua de plano para Estado palestino

Chanceler recém-empossado rompe com acordo mediado pelos EUA em 2007 e diz que concessões "causariam mais guerra"

Declarações de Liberman contrariam projeto de paz da Casa Branca; Autoridade Nacional Palestina se diz ameaçada de dissolução


DA REDAÇÃO

Em seu primeiro discurso como chanceler, o ultranacionalista Avigdor Liberman disse ontem que o novo governo israelense rejeita as atuais negociações de paz com os palestinos, norteadas pela solução de dois Estados para dois povos. Ele alegou que concessões provocariam mais conflitos.
As declarações de Liberman reforçam a previsão de que o governo do premiê direitista Binyamin Netanyahu, empossado anteontem, entrará em rota de colisão com os EUA, o maior aliado de Israel.
A Casa Branca vem pilotando desde a Conferência de Annapolis (EUA), em 2007, a retomada das conversas entre israelenses e palestinos. O texto final do encontro estipulou condições para cada lado e o objetivo principal de criar um Estado palestino independente em Gaza e na Cisjordânia.
Durante a campanha, Netanyahu defendera a criação de zonas econômicas palestinas em vez de um Estado nacional.
Mas, para viabilizar a coalizão governista, prometeu ao Partido Trabalhista (centro-esquerda) respeitar os acordos de paz anteriormente firmados.
"Aqueles que pensam conseguir respeito e paz por meio de concessões estão errados. É o contrário: [concessões] só causarão mais guerra", disse o novo chanceler. Líder do Israel Beitenu, terceiro maior partido no Parlamento, ele afirmou que não tem obrigação de seguir a Declaração de Annapolis.
"[O texto] não foi ratificado no Parlamento israelense e, portanto, não tem validade", disse Liberman. Ele afirmou que o único acordo respeitado pelo novo governo é o Mapa do Caminho, assinado em 2003 entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Diferenças
Ao contrário da Declaração de Annapolis, o Mapa do Caminho, patrocinado pela Casa Branca de George W. Bush durante a Segunda Intifada (revolta) palestina nos territórios ocupados, não falava em objetivos finais para as negociações. Ele enfatizava a exigência de que a ANP reprimisse os militantes radicais.
Quatro anos depois, em derradeira tentativa de retomar a questão dos dois Estados, paralisada durante a maior parte do seu mandato, Bush promoveu o encontro em Annapolis.
O discurso de Liberman levou o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, a ameaçar romper o diálogo com Israel. "O mundo precisa saber que [o premiê Netanyahu] não acredita na paz e, portanto, não podemos tratar com ele", disse.
Um assessor de Abbas disse ao "Financial Times" que a posição de Israel pode levar à dissolução da ANP, criada pelos Acordos de Oslo, em 1993, como governo embrionário do futuro Estado palestino. "Se não puder cumprir a promessa de um Estado independente, a ANP deverá seguir outro caminho", afirmou Rafik Husseini.
A Casa Branca usou um tom conciliador, mas deixou clara a sua posição: "Trabalharemos com [Israel] para chegar a uma solução de dois Estados".


Com agências internacionais


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