São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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entrevista

"Novo governo deve retomar ação em Gaza"

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Binyamin Netanyahu precisa agir para evitar que o Hamas se rearme e reforce seu controle sobre a faixa de Gaza, disse à Folha, por telefone, o analista Ely Karmon, do Instituto Internacional de Contraterrorismo e ligado à comunidade de inteligência israelense. Os principais trechos da entrevista:

 

FOLHA - O governo Netanyahu será mais linha-dura que o anterior em questões militares?
ELY KARMON
- A princípio, sim. Mas Ehud Olmert tomou várias iniciativas agressivas, como a guerra do Líbano [2006] e a ofensiva em Gaza, que não teve desfecho. O novo governo deve fechar com urgência a fronteira com o Egito, pois o contrabando de armas continua, ajudando o Hamas a controlar a população. O grupo anda tão confiante que vem convidando TVs a filmarem a reconstrução dos túneis.
A equação envolve ainda a relação do Hamas com [o rival secular] Fatah e as negociações com o Egito, que ocorrem em vários planos. Mas se Gilad Shalit [militar refém em Gaza desde 2006] não for solto e se houver mais disparos de foguetes [contra Israel], o novo governo atacará com mais firmeza.
Mas o Hamas já está sob pressão, pois seu objetivo maior, controlar a reconstrução de Gaza, está longe de ser alcançado, graças ao bloqueio de Israel ao território.
Já o Irã é um problema mais grave. Vamos ver se a nova estratégia de Barack Obama surtirá efeito. Acho que em até oito meses ele concluirá que Teerã não está disposta a abrir mão da opção nuclear. Israel entende que, até o fim do ano, o Irã poderá ter material para criar uma bomba. Mas tudo depende dos EUA.

FOLHA - A que ponto Israel depende militarmente dos EUA?
KARMON
- Se houver mais disparos de foguetes de Gaza contra Israel, o governo tomará as medidas cabíveis sem consultar quem quer que seja. Há uma enorme pressão popular. Moradores do sul passaram um mês sob constantes disparos de mísseis e temem que tudo recomece. Aquilo foi inaceitável.
A questão do Irã é diferente. Do ponto de vista operacional, Israel é capaz e independente. O problema é que os EUA têm tropas em muitos países em volta do Irã -Arábia Saudita, Qatar, Iraque. Não acho possível uma ação militar sem coordenar com os EUA. Há divergências de timing, mas não os descompassos que alguns citam. Os assessores próximos de Obama são da turma de Bill Clinton [1992-2000]. Sabem que os interesses de EUA e Israel andam juntos.

FOLHA - Qual o significado do recente ataque de Israel a um comboio no deserto do Sudão?
KARMON
- O objetivo era impedir a entrada em Gaza de mísseis que colocariam Tel Aviv sob alcance do Hamas e dizer ao Irã: "Cuidado, nosso braço é longo e preciso".


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