São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2010

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Recuo sobre Irã reaproxima China dos EUA

Embora não confirme oficialmente que aceitou discutir sanções, Pequim recebe elogios de Washington e de Paris por decisão

Ontem, negociador iraniano esteve na China para tentar convencer país a resistir a pressões; líder chinês irá a cúpula nuclear nos EUA

DA REDAÇÃO

Apesar de ter a sua mudança de posição elogiada ontem pelos EUA e pela França, a China manteve no ar as dúvidas sobre se apoiará ou não uma resolução do governo americano no Conselho de Segurança da ONU para impor novas sanções ao Irã. A indefinição sinaliza que Pequim ainda está avaliando que impacto sua posição sobre o programa nuclear iraniano poderá ter num contexto de apaziguamento das recentes tensões com os EUA.
Ontem, um porta-voz da Casa Branca disse que a China deu "um passo muito importante" ao aceitar, na véspera, participar de discussões com as outras quatro potências nucleares do Conselho de Segurança e com a Alemanha sobre uma nova rodada de sanções ao Irã. "A China reconheceu que, embora seja parte do esforço diplomático falar com o Irã, é fato que chegamos a um ponto no qual precisamos avaliar passos muito específicos que aumentem a pressão sobre o governo iraniano", disse Bill Burton.
Por sua vez, o chanceler francês, Bernard Kouchner, qualificou de "boa surpresa" a decisão chinesa, confirmando o entendimento americano de que Pequim aceitou debater sanções a Teerã pelo seu programa nuclear, cuja finalidade desperta suspeitas -o Ocidente teme que o Irã busque a bomba, o que o país nega.
Apesar dos elogios ocidentais, um porta-voz do governo chinês deu resposta evasiva ontem quando questionado sobre a mudança de posição de Pequim. "Reforçaremos as conversas com [todas as partes] para que a questão seja resolvida de maneira justa por meios diplomáticos", disse o representante, no mesmo dia em que o principal negociador nuclear iraniano, Said Jalili, visitava Pequim para convencer a China a não ceder às pressões.
Jalili ouviu de seus interlocutores que o governo chinês "dá grande importância à relação com o Irã", mas não obteve a promessa de que Pequim usará seu direito de veto no CS para barrar novas sanções a Teerã.
Embora não tenha oficializado a mudança de posição, a China confirmou ontem que o presidente Hu Jintao irá a Washington para participar de uma cúpula sobre segurança nuclear nos próximos dias 12 e 13 de abril - Luiz Inácio Lula da Silva também estará no evento.
A participação de Hu pode sinalizar uma aproximação das visões sobre o caso iraniano, um dos temas da cúpula. Mesmo apoiando as sanções, porém, a China deve trabalhar para que elas sejam brandas e não afetem os interesses chineses no Irã. A China se tornou em 2009 o maior parceiro econômico do país persa, que fornece ao menos 11% das importações de petróleo de Pequim.
O apoio incondicional a Teerã, porém, vinha se somando a outros focos de atrito entre a China e os EUA, o principal destino das exportações chinesas. A balança comercial bilateral, atualmente em US$ 298 billhões, é amplamente favorável à China. Mas o Tesouro americano está prestes a publicar um relatório formalizando acusações de que Pequim desvaloriza propositalmente a sua moeda, o yuan, para facilitar a entrada de produtos chineses nos EUA -atualmente prevista para o dia 15, a divulgação pode ser atrasada com a ida de Hu à cúpula em Washington.
A China também ficou enfurecida com a recente venda de US$ 64 bilhões de armas americanas a Taiwan, que Pequim considera uma "Província rebelde". Os chineses também não engoliram o fato de Barack Obama, ter recebido o dalai-lama, líder religioso que a China acusa de promover o separatismo do Tibete. Outro foco de conflito bilateral é o cerceamento chinês às atividades do Google no país.


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