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Pequim esfria boicote a Carrefour
Protesto marcado para ontem fracassou depois que autoridades agiram para diminuir furor nacionalista
Após avaliar que recado à França já estava dado,
governo passou a difundir a idéia de que ação contra
mercado era prejudicial
Reuters
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Manifestação contra Carrefour em Chongqing; atos reuniram pouca gente e não houve boicote
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O anunciado boicote à rede
de supermercados francesa
Carrefour, que começaria ontem na China, reduziu-se a alguns poucos protestos no interior do país. Um dos maiores
supermercados da rede francesa, no distrito pequinês de
Chaoyang, estava lotado ontem, apesar do feriado prolongado. Duas bandeiras chinesas
foram colocadas estrategicamente na entrada da loja.
A convocação do boicote
aconteceu há menos de duas
semanas, quando milhões de
mensagens foram enviadas para celulares, denunciando que
acionistas do Carrefour seriam
doadores de ONGs ligadas ao
movimento pela independência do Tibete.
A reportagem da Folha recebeu três desses torpedos, que
sugeriam um boicote contra o
Carrefour a partir de 1º de
maio. No maior protesto realizado ontem, em um Carrefour
de Fuzhou, no sudeste do país,
apenas 400 pessoas estavam
presentes, número reduzido
para as aglomerações chinesas.
Para diversos analistas da
política chinesa, o governo estimulou a onda nacionalista
contra a França e decidiu frear
o movimento quando seus objetivos foram atingidos: dar um
recado ao mundo de que não se
tolerará interferência em assuntos internos, como a questão da autonomia do Tibete, e
quando o governo de Nicolas
Sarkozy não parou de pedir
desculpas à China.
Como a China "esfriou" a fúria patriótica contra os franceses? Ministros foram à TV dizer que 40 mil chineses trabalham nas 112 lojas do Carrefour
no país e que quase a totalidade
dos produtos à venda são "made in China". Até Jin Jing, a
atleta paraolímpica atacada em
Paris por um manifestante tibetano, disse que era contra o
boicote ao Carrefour, "que prejudicaria a economia chinesa".
Bloqueio no Google
Desde o início da semana,
qualquer pesquisa com a palavra Carrefour no Google ou em
seus similares chineses é bloqueada por um dispositivo da
censura informática do país.
Além da acusação de que a
França não soube proteger a
tocha olímpica em sua passagem por Paris, a ira chinesa começou quando Sarkozy ameaçou não participar da cerimônia de abertura dos Jogos, caso
a China se negasse a dialogar
com o dalai-lama, o líder tibetano no exílio.
O prefeito de Paris, Bertrand
Delanoë, chegou a dar o título
de cidadão honorário da capital
francesa ao líder budista.
"Os líderes chineses aprenderam as lições dos protestos
contra o Japão, há dois anos,
que saíram do controle, e não
deixaram a onda nacionalista
crescer mais ainda", disse à Folha o diretor do Centro de Estudos do Leste Asiático da Universidade de Cingapura, Dali
Yang. "Agora, o governo apelou
aos estudantes que não coloquem em risco a Olimpíada".
Sem permissão
Em um fórum da internet da
Universidade Beijing Union,
alunos comentaram que uma
reunião para se decidir uma
manifestação na frente de um
Carrefour recebeu a visita inesperada de dois membros do Escritório de Segurança Pública
de Pequim. Na lanchonete
KFC, onde os oito alunos discutiam, os policiais sugeriram que
o protesto poderia sair do controle e que a atitude deles poderia "atrapalhar a ordem social".
Depois perguntaram se os estudantes tinham permissão
oficial para realizar uma manifestação e disseram que eles teriam problemas se fizessem algo sem a autorização.
Algo parecido aconteceu na
Universidade Tsinghua, uma
das mais renomadas do país. E
assim os nove supermercados
do Carrefour em Pequim passaram o dia sem protestos.
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