São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Após escândalo, EUA darão aula de ética a soldados no Iraque

Antes da divulgação do relatório sobre as mortes de civis iraquianos em Haditha, exército anuncia treinamento para "humanizar" a conduta de suas tropas

Graham A. Paulsgrove/France Presse
Fuzileiro naval americano procura sinais de uma bomba improvisada na região de Gharma, próxima à cidade de Fallujah, no Iraque


DA REDAÇÃO

Mesmo antes da divulgação oficial do relatório militar que investiga a morte de 24 civis na cidade iraquiana de Haditha no fim do ano passado, o comandante-geral das tropas dos EUA no Iraque, general George Casey, ordenou que os soldados americanos e os das tropas aliadas passem por novo treinamento de "valores essenciais". O objetivo do curso é "humanizar" a conduta dos militares, principalmente no trato com os civis, segundo as regras internacionais de combate.
O treinamento, que inclui slides e simulações, vai destacar "a importância de aderir a padrões legais, morais e éticos no campo de batalha", segundo o comandante das tropas multinacionais no Iraque, general Peter Chiarelli. "Como militares profissionais, é importante que dediquemos tempo para refletir sobre os valores que nos separam de nossos inimigos."
O relatório, que começou a ser elaborado em fevereiro pelas próprias Forças Armadas dos EUA, aponta que 24 civis iraquianos desarmados foram mortos por soldados americanos na cidade de Haditha, em 19 de novembro de 2005.

Mentira
A investigação conclui que alguns oficiais deram informações falsas a seus superiores e que estes não tiveram o cuidado de checar os dados.
Segundo o jornal "New York Times", que teve acesso aos documentos, os corpos dos 24 iraquianos tinham marcas de tiros. Mas, no dia do massacre, um sargento informara que 15 deles haviam sido mortos pela mesma explosão de uma bomba improvisada que matara um fuzileiro naval americano, e descrevera os outros nove mortos como insurgentes. Agora acredita-se que fossem civis.
A segunda e pior falha, na avaliação dos autores do novo relatório, ocorreu quando uma equipe que ajudou a remover os corpos endossou a versão dos fuzileiros navais. Na época, o documento sobre as mortes foi classificado como "ato significativo" do Exército americano no Iraque.
O governo iraquiano decidiu ontem iniciar seu próprio inquérito sobre as mortes em Haditha. A investigação será conduzida por uma comissão especial dos Ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos e por membros da segurança, que também vão apurar outros casos em que haja suspeita de conduta imprópria das tropas americanas.
Pressionado pela crise e por grupos políticos, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, disse que deve anunciar os nomes dos ministros do Interior e da Defesa em três dias.
O caso ameaça tornar-se uma nova mancha no histórico americano no Iraque, já deteriorado em 2004 pelo escândalo envolvendo os abusos cometidos por seus soldados contra iraquianos na prisão de Abu Ghraib. Ontem, o sargento Santos Cardona, 32, tornou-se o 11º militar americano condenado no caso. Ele foi sentenciado a três anos e meio de detenção.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Análise: "Modelo líbio" inspira mudança tática dos EUA
Próximo Texto: Refugiados em Timor já se queixam de falta de comida
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.