São Paulo, terça-feira, 02 de junho de 2009

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Em posse, salvadorenho diz se espelhar em Lula e Obama

Como primeiro ato no poder, Mauricio Funes, da ex-guerrilha FMLN, reata com Cuba

Agora, dos países da região, só os EUA não têm laços formais com Havana; "não temos direito de errar", diz presidente, citando petista


EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SAN SALVADOR

Ao tomar posse ontem na Presidência de El Salvador, Mauricio Funes confirmou a retomada das relações diplomáticas do país com Cuba.
Eleito pela ex-guerrilha marxista FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), Funes fez uma ode à esquerda moderada citando o presidente dos EUA, Barack Obama, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como exemplos de líderes que não significam "ameaça, mas um caminho novo e seguro".
"Vivemos um tempo de crise de ideologias e falência de modelos", disse o ex-jornalista da rede americana CNN, ante a notada ausência dos também esquerdistas Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Daniel Ortega (Nicarágua) -todos se dizem seguidores do "socialismo do século 21".
Chávez, que cancelou nos dois últimos dias seu programa de TV na Venezuela, não informou por que desistiu de comparecer à cerimônia. Morales alegou motivos de agenda.
Funes foi ovacionado quando fez o anúncio pró-Cuba, o ato final de 50 anos de isolamento diplomático da ilha na região. Agora, só os EUA, representados na plateia pela secretária de Estado, Hillary Clinton, não têm relações formais com o país comunista.
O reatamento diplomático com Cuba foi uma das promessas de Funes logo após a eleição na qual derrotou a Arena, partido de direita que governava o país desde 1989, ainda em meio à guerra civil que matou 75 mil pessoas entre 1980 e 1992.
Funes há apenas dois anos filiou-se à FMLN , convertida em partido em 1992, quando um acordo da ONU colocou fim à guerra civil. Ele não pegou em armas, mas indicou um ex-guerrilheiro como vice.

Sem direito de errar
A posse de Funes atraiu muita gente ao menor país da América Latina. Além do presidente Lula, compareceram a chilena Michelle Bachelet, o equatoriano Rafael Correa e o colombiano Álvaro Uribe. "A população pediu mudança, e a mudança começou agora", disse Funes.
O novo presidente prometeu governar para os mais pobres (40% da população vive abaixo da linha de pobreza), ampliar o atendimento de saúde e criar 100 mil empregos. Dependente das remessas de imigrantes nos EUA, El Salvador sofre com a crise financeira numa economia dolarizada e enfrenta crise na segurança pública.
Diante de um auditório superlotado, Funes citou sua proximidade com Lula e até copiou fala do petista do início do mandato. "Não temos o direito de errar", disse, em referência à expectativa criada pela chegada da esquerda ao poder.
Funes é casado com uma brasileira, a petista Vanda Pignato, e a cerimônia contou com uma delegação do partido, entre os quais o ex-ministro José Dirceu e a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy.
Durante a campanha e o período de transição logo após a eleição, Funes contou sempre com o apoio do PT e do Palácio do Planalto. Seu marqueteiro, por exemplo, foi João Santana, o mesmo da reeleição de Lula. O chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, ajudou pessoalmente Funes, depois de eleito, no período de transição para a montagem do gabinete presidencial.


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