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Em posse, salvadorenho diz se espelhar em Lula e Obama
Como primeiro ato no poder, Mauricio Funes, da ex-guerrilha FMLN, reata com Cuba
Agora, dos países da região, só os EUA não têm laços formais com Havana; "não temos direito de errar", diz presidente, citando petista
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SAN SALVADOR
Ao tomar posse ontem na
Presidência de El Salvador,
Mauricio Funes confirmou a
retomada das relações diplomáticas do país com Cuba.
Eleito pela ex-guerrilha marxista FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), Funes fez uma ode à esquerda moderada citando o
presidente dos EUA, Barack
Obama, e o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva como
exemplos de líderes que não
significam "ameaça, mas um
caminho novo e seguro".
"Vivemos um tempo de crise
de ideologias e falência de modelos", disse o ex-jornalista da
rede americana CNN, ante a
notada ausência dos também
esquerdistas Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia)
e Daniel Ortega (Nicarágua)
-todos se dizem seguidores do
"socialismo do século 21".
Chávez, que cancelou nos
dois últimos dias seu programa
de TV na Venezuela, não informou por que desistiu de comparecer à cerimônia. Morales
alegou motivos de agenda.
Funes foi ovacionado quando fez o anúncio pró-Cuba, o
ato final de 50 anos de isolamento diplomático da ilha na
região. Agora, só os EUA, representados na plateia pela secretária de Estado, Hillary Clinton, não têm relações formais
com o país comunista.
O reatamento diplomático
com Cuba foi uma das promessas de Funes logo após a eleição
na qual derrotou a Arena, partido de direita que governava o
país desde 1989, ainda em meio
à guerra civil que matou 75 mil
pessoas entre 1980 e 1992.
Funes há apenas dois anos filiou-se à FMLN , convertida em
partido em 1992, quando um
acordo da ONU colocou fim à
guerra civil. Ele não pegou em
armas, mas indicou um ex-guerrilheiro como vice.
Sem direito de errar
A posse de Funes atraiu muita gente ao menor país da América Latina. Além do presidente
Lula, compareceram a chilena
Michelle Bachelet, o equatoriano Rafael Correa e o colombiano Álvaro Uribe. "A população
pediu mudança, e a mudança
começou agora", disse Funes.
O novo presidente prometeu
governar para os mais pobres
(40% da população vive abaixo
da linha de pobreza), ampliar o
atendimento de saúde e criar
100 mil empregos. Dependente
das remessas de imigrantes nos
EUA, El Salvador sofre com a
crise financeira numa economia dolarizada e enfrenta crise
na segurança pública.
Diante de um auditório superlotado, Funes citou sua proximidade com Lula e até copiou
fala do petista do início do
mandato. "Não temos o direito
de errar", disse, em referência à
expectativa criada pela chegada
da esquerda ao poder.
Funes é casado com uma brasileira, a petista Vanda Pignato,
e a cerimônia contou com uma
delegação do partido, entre os
quais o ex-ministro José Dirceu e a ex-prefeita paulistana
Marta Suplicy.
Durante a campanha e o período de transição logo após a
eleição, Funes contou sempre
com o apoio do PT e do Palácio
do Planalto. Seu marqueteiro,
por exemplo, foi João Santana,
o mesmo da reeleição de Lula.
O chefe de gabinete de Lula,
Gilberto Carvalho, ajudou pessoalmente Funes, depois de
eleito, no período de transição
para a montagem do gabinete
presidencial.
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