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Israel sofre pressão interna e externa
Ataque contra frota é questionado por imprensa e membros do governo que foram excluídos de decisão
Egito abre passagem, e ativistas anunciam novo envio de ajuda, em atos que elevam clamor por fim de bloqueio
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Sob uma onda de condenação mundial pela ação naval que deixou nove ativistas
mortos, o governo israelense
também passou a ser alvo de
uma bateria de ataques domésticos de grosso calibre.
Na imprensa as críticas se
multiplicam contra a desastrada interceptação militar
da frota de seis navios que
tentava romper o bloqueio
marítimo imposto por Israel e
levar ajuda humanitária à
faixa de Gaza.
Dois dias após o cerco à
frota, algumas questões ainda intrigam os israelenses.
Entre elas, as principais
são: por que Israel enviou um
comando de elite, treinado
para situações de guerra, para lidar com ativistas? Se havia indícios de sobra de que
os tripulantes reagiriam com
violência a qualquer abordagem, por que os soldados foram pegos de surpresa? Por
que a ação se deu em águas
internacionais?
"Uma pequena organização turca imbuída de fanatismo religioso e hostilidade ante Israel recrutou centenas de
defensores de paz e justiça e
conduziu Israel a uma armadilha", escreveu o aclamado
autor David Grossman.
TV
As cenas de soldados descendo de helicópteros no navio Mari Marmara no meio de
dezenas de manifestantes,
que imediatamente começam a agredi-los com porretes, são exibidas repetidamente nas TVs israelenses. O
Exército tenta usá-las como
prova de que não havia alternativa senão abrir fogo para
evitar linchamentos.
Mas muitos especialistas
militares viram nas imagens
só uma evidência do despreparo das tropas envolvidas.
"Era para ser uma operação muito simples, em que o
Exército tem total controle da
comunicação dos navios e
capacidade de saber qual seria a reação dos ativistas",
diz o general da reserva Daniel Rothschild.
O premiê Binyamin Netanyahu, que estava no Canadá
quando ocorreu o incidente,
cancelou o encontro que teria com o presidente dos
EUA, Barack Obama, e antecipou sua volta a Israel. Numa reunião extraordinária
do gabinete, ele disse que
não cederá à pressão para
aliviar o bloqueio a Gaza.
"É verdade que há pressão
internacional e críticas a essa
política, mas o mundo precisa entender que é crucial preservar a segurança de Israel e
seu direito de defesa", disse.
EGITO
Ontem, porém, a pressão
internacional pelo fim do
bloqueio aumentou, com o
anúncio do Egito de que decidira reabrir a passagem de
Rafah, que liga Gaza ao país,
para "aliviar o sofrimento do
povo palestino".
A passagem, única saída
terrestre do território que não
passa por Israel, vinha sendo
mantida fechada desde que o
grupo extremista islâmico
Hamas tomou o poder em
Gaza, em 2007.
Ontem, o Movimento Gaza
Livre, que organizou a frota
interceptada na véspera por
Israel, anunciou que está enviando outros navios com
ajuda humanitária ao território palestino.
"Essa iniciativa não vai parar. Achamos que em algum
momento Israel vai cair em
si. Eles terão que pôr fim ao
bloqueio em Gaza, e uma das
maneiras de obrigá-los a isso
é que continuemos a mandar
os navios", disse Greta Berlin, líder da organização.
A pressão, contudo, não
vem só de fora, mas do próprio gabinete. Ministros criticaram que a operação de
abordagem da frota tenha sido aprovada numa reunião
de apenas sete ministros,
quando deveria ter passado
pelo crivo do gabinete.
"Os inimigos de Israel propagam que os eventos sangrentos são parte inseparável
da política de Israel. Não
uma ação fracassada, mas
assassinato a sangue-frio",
escreveu o articulista Sever
Plocker, do jornal "Yediot
Aharonot". "Só existe um jeito de cortar as pernas dessa
mentira: a demissão imediata de Ehud Barak [ministro
da Defesa]."
A crise corrói ainda mais a
imagem de Israel no mundo,
que já vinha se deteriorando
desde a ofensiva em Gaza, há
um ano e meio. E afeta cidadãos comuns, não só o governo. Em 2008 mais de 500 mil
turistas israelenses visitaram
a Turquia, origem da maioria
dos ativistas mortos. Ancara
reagiu duramente ao ataque
israelense, convocando inclusive o seu embaixador.
Ontem, o governo desaconselhou viagens e pediu
aos cerca de 2.000 israelenses que estavam na Turquia
que voltem o mais rapidamente possível para Israel.
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