São Paulo, terça-feira, 02 de julho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Número é estimativa afegã; americanos podem ter confundido disparos em casamento com forças hostis

Erro dos EUA mata cerca de 30 afegãos

Associated Press
Paliko, 6, dorme em hospital de Candahar; ela foi ferida e perdeu os pais em bombardeio dos EUA


DA REDAÇÃO

Aviões norte-americanos bombardearam uma vila no sul do Afeganistão, matando ao menos 30 pessoas e ferindo outras 70, segundo autoridades de Cabul. Os EUA não confirmam os números e disseram que a ação aconteceu após suas forças serem alvejadas. Informações divergentes chegam a falar em 120 mortos.
Os afegãos afirmaram que a maior parte dos mortos estava em um casamento. Durante a celebração, foram feitos disparos para o alto -o que é comum na região e pode ter causado a impressão de que se tratava de um ataque contra aviões dos EUA na área.
O Pentágono disse que uma das bombas que os aviões dos EUA dispararam saiu da trajetória e caiu em lugar incerto, possivelmente onde se realizava o casamento. Não estava claro ontem se os americanos se equivocaram ao achar que os disparos feitos no casamento teriam como alvo suas forças dos EUA ou se realmente eles foram atacados por forças hostis em algum local próximo.
Segundo o coronel Roger King, porta-voz militar dos EUA no Afeganistão, caças B-52 participaram do ataque após forças americanas no sul afegão serem alvo de disparos.
"Sabemos que há vítimas civis na operação, mas ainda não temos conhecimento de quantas seriam e de como tudo aconteceu", disse King, que está na base aérea de Bagram (Afeganistão). Ele acrescentou que "os Estados Unidos expressam suas mais profundas simpatias para os que perderam parentes".
O Pentágono disse que o Centro de Comando de Operações dos EUA no Afeganistão, baseado em Tampa (Flórida), estava coletando informações para descobrir exatamente o que aconteceu.

Celebração
De acordo com o Ministério da Defesa afegão, "mais de 30 pessoas foram mortas em uma cerimônia de casamento após dispararem para o ar como forma de celebração. Os americanos confessaram ter errado".
O chefe de comunicação da Província de Uruzgan, Bismullah, disse que, segundo suas informações, afegãos celebravam um casamento em Kakarak, na Província de Uruzgan, cerca de 280 km a sudoeste de Cabul, quando os aviões americanos atacaram, matando ao menos 40 e ferindo 70.
Durante a celebração de casamento, tiros foram disparados para o alto, o que é muito comum no Afeganistão, especialmente para quem pertence à etnia pashtu, majoritária na vila e no país.
Noor Mohamed, líder de um distrito na região onde aconteceu o incidente, disse que os afegãos estavam irritados porque "pessoas inocentes morreram".
Em Candahar, cidade para onde muitas das vítimas foram levadas, sobreviventes disseram que o ataque aconteceu durante a madrugada e durou cerca de duas horas. Médicos e enfermeiras afirmaram que mais de 120 teriam morrido.
De acordo com autoridades hospitalares de Candahar, a maior parte dos mortos é composta por mulheres e crianças. Paliko, uma menina de 6 anos, chegou ao hospital ferida e com um vestido de festa. Todos os seus parentes teriam morrido no ataque dos americanos.
Malika, 7, perdeu o pai, a mãe, um irmão e uma irmã. Ela também ficou ferida. "Há muitas crianças nessa situação. Suas famílias morreram", disse o enfermeiro Mohammed Nadir.

Repetição
O ataque americano ontem aconteceu na mesma região onde, em janeiro, morreram 21 afegãos após aviões dos EUA dispararem contra um prédio onde se imaginava funcionar um complexo da milícia extremista Taleban.
Além do episódio de ontem e do de janeiro, erros dos EUA já provocaram mortes em outros incidentes no país. Em abril deste ano, quatro canadenses foram mortos por equívoco durante exercícios militares americanos no Afeganistão.
Após investigações sobre o episódio, o Pentágono afirmou que o erro foi provocado pelo piloto, que não seguiu corretamente os procedimentos do exercício.
As forças dos EUA estão no Afeganistão para garantir a estabilidade do país no período pós-Taleban e para manter a busca por membros da rede terrorista Al Qaeda, entre eles o saudita Osama bin Laden, que assumiu em vídeo ter envolvimento nos atentados de 11 de setembro.

Com agências internacionais


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