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"Tribunal preenche lacuna no direito"
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
O Tribunal Penal Internacional preenche uma lacuna na evolução
do direito penal internacional para que não haja a necessidade de
tribunais "ad hoc" (extraordinário), diz a desembargadora brasileira Sylvia Steiner, da comissão preparatória do TPI.
Folha - Qual a importância do Tribunal Penal Internacional (TPI)?
Sylvia Steiner - Ele preenche
uma lacuna na evolução do direito penal internacional. Recentemente tivemos dois tribunais "ad
hoc", de Ruanda e da Iugoslávia.
O TPI é um tribunal imparcial e
permanente, para que não precisemos mais de tribunais "ad hoc",
decididos pelo Conselho de Segurança, que usa critérios seletivos.
Folha - Quem poderá ser julgado?
Steiner - Pessoas provenientes
de países que ratificaram o TPI ou
que tenham praticado crimes em
países que o ratificaram. Não se
trata de julgar Estados. É o princípio da responsabilidade pessoal.
Folha - Que tipos de caso poderão
ser julgados?
Steiner - Crimes de genocídio,
crimes de guerra e crimes contra a
humanidade. No futuro, será possível incluir crimes de agressão.
Folha - O crime de agressão ainda
não foi definido?
Steiner - Não, mas os crimes de
competência do TPI são os cometidos de forma maciça. Não é uma
agressão de uma pessoa contra
outra, mas de um grupo de pessoas contra outro grupo.
Folha - A jurisdição é retroativa?
Steiner - Não, o tribunal entrou
em vigor hoje [ontem" só para crimes praticados a partir de agora.
Folha - Quem vai encaminhar os
casos ao TPI?
Steiner - O Conselho de Segurança da ONU, qualquer Estado-parte, organizações internacionais etc. Quem decide a instauração do processo é o promotor. Só
no caso em que a queixa for enviada pelo Conselho de Segurança, o tribunal é obrigado a reconhecer o processo.
Folha - Por que os EUA não ratificaram o tribunal?
Steiner - São avessos a se submeterem a instrumentos internacionais. Em relação ao TPI, há um
agravante. Os EUA compõem o
Conselho de Segurança da ONU,
com poder de veto. Esse tribunal
tira poderes do Conselho de Segurança na medida em que podem
ser instauradas ações penais sem
aqueles critérios seletivos do Conselho de Segurança. Em segundo
lugar, os EUA partem do princípio de que um cidadão americano
não pode ser julgado por nenhum
tribunal que não seja americano.
Folha - Os EUA ameaçam retirar
seus soldados da Bósnia...
Steiner - O tribunal veio para ficar. Vai se instalar com ou sem o
apoio de países como EUA e China. O ideal seria que eles participassem, pois não é um tribunal
criado para julgar soldado americano. Seria a exceção.
Folha - Com a ausência de EUA,
China, Rússia e Índia, entre outros,
o TPI vai ter uma influência efetiva
sobre a Justiça internacional?
Steiner - Não tenho a menor dúvida. É um tribunal necessário.
Lamentavelmente, ocorrem violações graves de direitos humanos
em todos os pontos, com conflitos na África, no Oriente, na América
Latina. E, nos últimos 50 anos, só tivemos impunidade.
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