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Defesa ataca legitimidade do tribunal
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
Os advogados do ex-ditador
Saddam Hussein, contratados
por sua mulher, Sajida Khairallah,
questionaram ontem a legitimidade do tribunal instalado para
julgá-lo e disseram que a guerra
que o tirou do poder foi ilegítima
e que, portanto, Saddam continua
sendo o presidente do Iraque legalmente.
Tim Hughes, advogado britânico do ex-ditador, questionou a legitimidade do tribunal estabelecido para o julgamento, pondo em
xeque a veracidade da soberania
do atual governo iraquiano.
"Afirmamos que o regime atual
não tem fundamento na lei. E as
forças da coalizão ainda estão no
Iraque", declarou. "O atual governo iraquiano é um governo interino. Não temos o devido Estado
soberano. Vamos argumentar
que Saddam continua sendo o
presidente do Iraque devido à
guerra ilegal que depôs o governo
[que ele liderava]."
Integrantes da Anistia Internacional e do grupo Human Rights
Watch criticaram o sistema jurídico estabelecido no Iraque para o
julgamento de Saddam.
Eles pediram maior envolvimento internacional no julgamento e afirmaram que Saddam
deveria ter tido direito a um advogado na sua primeira audiência.
Richard Dicker, diretor do programa de Justiça internacional do
Human Rights Watch, disse à Folha que Saddam tem direito a um
advogado mesmo nos processos
iniciais anteriores ao julgamento.
"Ele não assinou [o documento
dado a ele pelo juiz iraquiano], e
não acredito que muitas pessoas
tivessem assinado o documento
sem o acompanhamento de um
advogado", declarou Dicker.
Said Boumedouha, da Anistia
Internacional, afirmou que vê
com preocupação a alegação dos
cerca de 20 advogados de Saddam
que estão na Jordânia. Eles disseram ainda não ter tido permissão
para entrar no Iraque.
Dicker também vê problemas
no modelo adotado para o julgamento de Saddam. Ele diz que o
documento de criação do tribunal
vê como legítimas provas conseguidas por meio do uso de tortura. Os dois especialistas criticaram a possibilidade de a pena de
morte ser aplicada a Saddam.
Tanto Boumedouha quanto
Dicker declaram ainda que o Iraque não tem experiência em julgamentos independentes. "Não
houve tribunais livres no país por
anos", diz o representante do Human Rights Watch.
Ambos disseram defender uma
participação maior das Nações
Unidas no julgamento. Dicker
afirmou não ser favorável à remoção da corte do Iraque, mas disse
que juízes indicados pela ONU
deveriam participar do processo
ao lado de autoridades iraquianas. Segundo ele, "o governo
americano não queria nada que
sugerisse participação internacional no processo". "Eles [os americanos] não gostam do multilateralismo e menos ainda de cortes
internacionais", afirmou.
Já Helle Dale, diretora de política externa e estudos de defesa da
Fundação Heritage -um dos
principais centros de estudos de
direita dos EUA-, disse considerar legítimo o tribunal instalado
no Iraque. "Não acredito que seus
direitos estejam sendo violados",
afirmou Dale sobre Saddam.
Ela disse acreditar que o julgamento do ex-ditador "possa ajudar a administração" de George
W. Bush, que é candidato à reeleição. Isso porque, ela afirma, o
processo trará à tona provas dos
"crimes horrendos" de Saddam e
reforçará o argumento da necessidade da Guerra do Iraque.
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