São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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HISTÓRIA

Facções do movimento fazem cerimônias separadas pelos 30 anos da morte do maior mito político da Argentina

Peronistas se dividem até ao homenagear o líder

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

Trinta anos depois da morte de Juan Domingo Perón, o general que inaugurou a maior força política da Argentina, a iconografia do mito perdeu força no governo, mas continua forte na política do país, embora dividida -mesmo dentro do peronismo.
Ontem, cada facção do movimento rendeu sua própria homenagem ao fundador do Partido Justicialista, mas sem a presença dos presidentes que lideram as divisões do partido.
O Peronismo Renovado, de centro-esquerda, do presidente Néstor Kirchner, fez uma solenidade no Teatro Ateneo. Sem Kirchner, que está em viagem oficial a China.
Em 30 anos de história argentina sem o general, os peronistas governaram a Argentina por pouco mais de 15 anos. Kirchner, porém, é o primeiro a ignorar a simbologia do mito.
Embora, na campanha que o elegeu, ele tenha se declarado o autêntico herdeiro do líder morto, o presidente não cita Perón e não usa a marcha peronista nas solenidades do governo.
Para o analista político Rosendo Fraga, o problema de Kirchner com Perón é a farda. "Kirchner tem um duro discurso contra a estrutura militar. Como poderia idolatrar Perón?"
O tradicional Movimento Peronismo por Perón se reuniu no cemitério da Chacarita, onde depositou flores no túmulo do líder que presidiu o país três vezes.
Já os peronistas partidários do ex-presidente Eduardo Duhalde celebraram a data na chácara 17 de Outubro, onde pretendem inaugurar um mausoléu para abrigar os corpos do general e de sua mulher, Evita Perón. Duhalde também não compareceu.
Na catedral Metropolitana, a corrente neoliberal Peronismo Popular, do ex-presidente Carlos Menem, também organizou sua própria homenagem. Sem Menem, que está no Chile, fugindo da Justiça argentina.
"Mais do que um partido, o peronismo é uma cultura política de poder. Perón foi um pragmático que podia ser de direita, de esquerda, conservador, revolucionário, tudo, de acordo com a sua conveniência", disse Fraga.
O analista político Ricardo Rouvier lembra que o Partido Justicialista sempre abrigou da esquerda mais radical à direita mais conservadora.
"Apesar de dividido, o peronista é hoje a maior força política, praticamente sem oposição", disse Rouvier.
Esse pragmatismo moldou tanto a psicologia social e política da Argentina que permitiu que o mesmo país que elevou às alturas da mitologia nacional o general que insuflou as massas com um discurso nacionalista e pró-industrialização elegesse e reelegesse Menem, o peronista que promoveu a maior privatização da América Latina.
Perón chegou ao poder após um golpe militar em 1943, quando foi nomeado ministro do Trabalho. Sindicalizou o país e aumentou a participação da classe trabalhadora. O crescimento de sua popularidade provocou outro golpe, e Perón foi preso.
A prisão aumentou ainda mais seu prestígio popular e, em 1946, ele foi eleito presidente. Em 1952, foi reeleito, e a morte de Evita, sua mulher, idolatrada pelos "descamisados", ampliou o mito. Em 1955, outro golpe militar o levou ao exílio, mas Perón voltou a ser eleito em 1973. Ele morreu oito meses depois, em 1974.


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