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HISTÓRIA
Facções do movimento fazem cerimônias separadas pelos 30 anos da morte do maior mito político da Argentina
Peronistas se dividem até ao homenagear o líder
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
Trinta anos depois da morte de
Juan Domingo Perón, o general
que inaugurou a maior força política da Argentina, a iconografia
do mito perdeu força no governo, mas continua forte na política do país, embora dividida
-mesmo dentro do peronismo.
Ontem, cada facção do movimento rendeu sua própria homenagem ao fundador do Partido Justicialista, mas sem a presença dos presidentes que lideram as divisões do partido.
O Peronismo Renovado, de
centro-esquerda, do presidente
Néstor Kirchner, fez uma solenidade no Teatro Ateneo. Sem
Kirchner, que está em viagem
oficial a China.
Em 30 anos de história argentina sem o general, os peronistas
governaram a Argentina por
pouco mais de 15 anos. Kirchner,
porém, é o primeiro a ignorar a
simbologia do mito.
Embora, na campanha que o
elegeu, ele tenha se declarado o
autêntico herdeiro do líder morto, o presidente não cita Perón e
não usa a marcha peronista nas
solenidades do governo.
Para o analista político Rosendo Fraga, o problema de Kirchner com Perón é a farda. "Kirchner tem um duro discurso contra
a estrutura militar. Como poderia idolatrar Perón?"
O tradicional Movimento Peronismo por Perón se reuniu no
cemitério da Chacarita, onde depositou flores no túmulo do líder
que presidiu o país três vezes.
Já os peronistas partidários do
ex-presidente Eduardo Duhalde
celebraram a data na chácara 17
de Outubro, onde pretendem
inaugurar um mausoléu para
abrigar os corpos do general e de
sua mulher, Evita Perón. Duhalde também não compareceu.
Na catedral Metropolitana, a
corrente neoliberal Peronismo
Popular, do ex-presidente Carlos
Menem, também organizou sua
própria homenagem. Sem Menem, que está no Chile, fugindo
da Justiça argentina.
"Mais do que um partido, o peronismo é uma cultura política
de poder. Perón foi um pragmático que podia ser de direita, de
esquerda, conservador, revolucionário, tudo, de acordo com a
sua conveniência", disse Fraga.
O analista político Ricardo
Rouvier lembra que o Partido
Justicialista sempre abrigou da
esquerda mais radical à direita
mais conservadora.
"Apesar de dividido, o peronista é hoje a maior força política, praticamente sem oposição",
disse Rouvier.
Esse pragmatismo moldou
tanto a psicologia social e política da Argentina que permitiu
que o mesmo país que elevou às
alturas da mitologia nacional o
general que insuflou as massas
com um discurso nacionalista e
pró-industrialização elegesse e
reelegesse Menem, o peronista
que promoveu a maior privatização da América Latina.
Perón chegou ao poder após
um golpe militar em 1943, quando foi nomeado ministro do Trabalho. Sindicalizou o país e aumentou a participação da classe
trabalhadora. O crescimento de
sua popularidade provocou outro golpe, e Perón foi preso.
A prisão aumentou ainda mais
seu prestígio popular e, em 1946,
ele foi eleito presidente. Em 1952,
foi reeleito, e a morte de Evita,
sua mulher, idolatrada pelos
"descamisados", ampliou o mito. Em 1955, outro golpe militar o
levou ao exílio, mas Perón voltou
a ser eleito em 1973. Ele morreu
oito meses depois, em 1974.
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