São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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ÁSIA

No 7º aniversário do retorno do território à China, ato exige eleições diretas para o governo local; Pequim ignora protesto

Milhares pedem democracia em Hong Kong

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Centenas de milhares de pessoas saíram ontem às ruas de Hong Kong, sob um calor de 36C, para exigir democracia e protestar contra a decisão da China de impedir eleições diretas para a escolha do novo governo da ex-colônia britânica em 2007.
"Estou aqui para dizer a Pequim que queremos eleger nosso próprio chefe do Executivo", afirmou o operário Cham Sum Kee, 54, à agência Reuters. O protesto ocorreu no 7º aniversário do retorno de Hong Kong à China, após 156 anos de domínio do Reino Unido.
Segundo os organizadores, cerca de 530 mil compareceram. De acordo com a polícia, foram 200 mil. Há um ano, cerca de 500 mil pessoas surpreenderam o governo chinês ao protestar contra um projeto de lei anti-subversão apresentado pelo impopular chefe do Executivo local, Tung Chee-hwa, escolhido por Pequim.
A proposta acabou sendo retirada, mas, em abril, o Congresso Nacional do Povo, em Pequim, descartou a realização de eleições diretas na ex-colônia para a escolha do novo chefe do Executivo, em 2007. Também desconsiderou os pedidos para que o Legislativo local passasse a ser eleito inteiramente pelo voto popular a partir de 2008. Atualmente, apenas parte dos legisladores é escolhida diretamente; o restante é apontado por meios indiretos.
Numa interpretação polêmica da Lei Básica de Hong Kong, Pequim anunciou que a transição para o regime democrático no território será feita de maneira "gradual", mas não estabeleceu nenhum cronograma.
Os ativistas pró-democracia de Hong Kong afirmam que as decisões da China violam o princípio de "um país, dois sistemas", definido no acordo firmado entre o Reino Unido e a China antes da devolução do território, em 1º de julho de 1997.
Segundo o acordo, a ex-colônia passou a ter o status de região administrativa especial, com elevado grau de autonomia por 50 anos. O documento também prevê uma democratização crescente, embora não detalhe a questão.
As autoridades em Pequim temem que avanços democráticos em Hong Kong resultem em pressão por mais democracia na China continental. E acusa os grupos pró-democracia de utilizar slogans subversivos como "fim do regime de partido único" ou "devolvam o poder às pessoas".
"Estamos aqui para lutar por democracia. Nenhuma pessoa aqui quer independência [em relação à China]", disse o líder pró-democracia Martin Lee, numa tentativa de apaziguar Pequim. Muitos manifestantes vestiam branco em nome da paz, da democracia e da liberdade.
O protesto de Hong Kong foi ignorado pela imprensa chinesa, controlada pelo Partido Comunista e pelo governo. As reportagens sobre o aniversário da reintegração da ex-colônia à China falavam em "celebração" e só faziam referência à cerimônia oficial presidida pelo chefe do Executivo, Tung Chee-hwa, à qual compareceram 3.000 pessoas.
Mas, em uma mudança de atitude, o governo chinês amenizou a censura nas transmissões das redes de TV internacionais. A CNN levou ao ar pelo menos duas reportagens ao vivo com seu correspondente em Hong Kong, sem interrupção, algo raro no caso de temas sensíveis. A BBC não teve a mesma sorte: a reportagem que transmitiu no fim da tarde foi interrompida na metade.
Ao mesmo tempo em que ignoraram o protesto de Hong Kong, os jornais chineses destacaram o 83º aniversário do Partido Comunista da China, também celebrado ontem, e noticiaram o discurso que o presidente Hu Jintao fez no encontro do Comitê Central do Partido Comunista.
Hu, que também é secretário-geral do Partido Comunista, disse que o partido, que chegou ao poder em 1949, tem de cumprir sua tarefa história, que é a de completar o processo de desenvolvimento econômico da China.


Com agências internacionais

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