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ÁSIA
No 7º aniversário do retorno do território à China, ato exige eleições diretas para o governo local; Pequim ignora protesto
Milhares pedem democracia em Hong Kong
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Centenas de milhares de pessoas saíram ontem às ruas de
Hong Kong, sob um calor de
36C, para exigir democracia e
protestar contra a decisão da China de impedir eleições diretas para a escolha do novo governo da
ex-colônia britânica em 2007.
"Estou aqui para dizer a Pequim
que queremos eleger nosso próprio chefe do Executivo", afirmou
o operário Cham Sum Kee, 54, à
agência Reuters. O protesto ocorreu no 7º aniversário do retorno
de Hong Kong à China, após 156
anos de domínio do Reino Unido.
Segundo os organizadores, cerca de 530 mil compareceram. De
acordo com a polícia, foram 200
mil. Há um ano, cerca de 500 mil
pessoas surpreenderam o governo chinês ao protestar contra um
projeto de lei anti-subversão
apresentado pelo impopular chefe do Executivo local, Tung Chee-hwa, escolhido por Pequim.
A proposta acabou sendo retirada, mas, em abril, o Congresso
Nacional do Povo, em Pequim,
descartou a realização de eleições
diretas na ex-colônia para a escolha do novo chefe do Executivo,
em 2007. Também desconsiderou
os pedidos para que o Legislativo
local passasse a ser eleito inteiramente pelo voto popular a partir
de 2008. Atualmente, apenas parte dos legisladores é escolhida diretamente; o restante é apontado
por meios indiretos.
Numa interpretação polêmica
da Lei Básica de Hong Kong, Pequim anunciou que a transição
para o regime democrático no território será feita de maneira "gradual", mas não estabeleceu nenhum cronograma.
Os ativistas pró-democracia de
Hong Kong afirmam que as decisões da China violam o princípio
de "um país, dois sistemas", definido no acordo firmado entre o
Reino Unido e a China antes da
devolução do território, em 1º de
julho de 1997.
Segundo o acordo, a ex-colônia
passou a ter o status de região administrativa especial, com elevado grau de autonomia por 50
anos. O documento também prevê uma democratização crescente, embora não detalhe a questão.
As autoridades em Pequim temem que avanços democráticos
em Hong Kong resultem em pressão por mais democracia na China continental. E acusa os grupos
pró-democracia de utilizar slogans subversivos como "fim do
regime de partido único" ou "devolvam o poder às pessoas".
"Estamos aqui para lutar por
democracia. Nenhuma pessoa
aqui quer independência [em relação à China]", disse o líder pró-democracia Martin Lee, numa
tentativa de apaziguar Pequim.
Muitos manifestantes vestiam
branco em nome da paz, da democracia e da liberdade.
O protesto de Hong Kong foi ignorado pela imprensa chinesa,
controlada pelo Partido Comunista e pelo governo. As reportagens sobre o aniversário da reintegração da ex-colônia à China falavam em "celebração" e só faziam referência à cerimônia oficial presidida pelo chefe do Executivo, Tung Chee-hwa, à qual
compareceram 3.000 pessoas.
Mas, em uma mudança de atitude, o governo chinês amenizou a
censura nas transmissões das redes de TV internacionais. A CNN
levou ao ar pelo menos duas reportagens ao vivo com seu correspondente em Hong Kong, sem interrupção, algo raro no caso de temas sensíveis. A BBC não teve a
mesma sorte: a reportagem que
transmitiu no fim da tarde foi interrompida na metade.
Ao mesmo tempo em que ignoraram o protesto de Hong Kong,
os jornais chineses destacaram o
83º aniversário do Partido Comunista da China, também celebrado ontem, e noticiaram o discurso
que o presidente Hu Jintao fez no
encontro do Comitê Central do
Partido Comunista.
Hu, que também é secretário-geral do Partido Comunista, disse
que o partido, que chegou ao poder em 1949, tem de cumprir sua
tarefa história, que é a de completar o processo de desenvolvimento econômico da China.
Com agências internacionais
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