São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

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Bush e Putin têm prioridades diversas em cúpula informal

Americano quer apoio para nova sanção ao Irã; Russo deseja um recuo da Casa Branca sobre escudo antimísseis e Kosovo

Encontro, que começou com jantar ontem à noite, tem a presença de Bush pai, que era presidente quando a União Soviética acabou

DA REDAÇÃO

O presidente russo, Vladimir Putin, chegou no fim da tarde de ontem aos Estados Unidos para um dia de conversas "informais" com o colega George W. Bush na casa de veraneio do ex-presidente George Bush (1989-1993), pai do atual presidente americano, em Kennebunkport, no Estado do Maine.
Apesar da tensão recente entre os dois países, expressa nas queixas públicas de Putin em relação à política externa de Bush, os dois presidentes se encontram com prioridades diferentes, de acordo com a imprensa americana.
Segundo o "New York Times", Bush pretende pedir o apoio de Putin para a aprovação de novas sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU. Já o objetivo de Putin é discutir temas como o projeto da Casa Branca de instalar bases do sistema antimísseis americano na Polônia e na República Tcheca e o apoio dos EUA à independência da Província sérvia de Kosovo. O "Times" não esclarece se o pedido de Bush sobre o Irã pode ser objeto de barganha com o russo.
O encontro foi apelidado de "cúpula da lagosta" por causa da abundância do crustáceo na costa do Maine. Deve ser uma das últimas reuniões entre os dois, pois o mandato de Putin termina no início de 2008. Teria sido sugestão do russo fazer essa escala antes de seguir para a Guatemala, onde ele tem uma reunião com o COI (Comitê Olímpico Internacional).

Jantar em família
As conversas começaram ontem com um jantar do qual participaram, além dos dois presidentes, Bush pai e sua mulher, Barbara, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Stephen J. Hadley.
Bush pai era presidente quando a União Soviética acabou, em 1991, e tinha bom relacionamento com os dirigentes russos da época. Muitas das reclamações de Putin se referem ao que considera um avanço dos EUA sobre áreas de influência da antiga URSS.
Para Bush, diz o "Times", o esforço para pressionar o Irã é a pauta mais importante. Na sexta-feira, os EUA discutiram no Conselho de Segurança da ONU uma proposta que pede que todos os países inspecionem mercadorias que cheguem do Irã ou se destinem ao país em busca de materiais que possam ser usados no enriquecimento de urânio.
A ONU exige que o Irã suspenda o programa, temerosa de que o país use o combustível para armas atômicas; Teerã alega que o projeto tem fins pacíficos. A Rússia teme que Washington use o fracasso das sanções como argumento para atacar o Irã sob o manto de legitimidade das Nações Unidas.
Em relação ao sistema antimísseis americano, o presidente russo quer discutir sua proposta de que uma das bases que seriam instaladas no Leste Europeu seja construída em uma instalação russa no Azerbaijão. O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, já disse que o Azerbaijão poderia ser um complemento e não uma alternativa ao plano original.
O especialista em Rússia Andrew Kuchins, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, disse ao "Financial Times" que a decisão de reunir-se na casa de Bush pai, com a presença dele, simboliza a necessidade de "supervisão adulta" de um dos relacionamentos bilaterais mais importantes do mundo.
"Ambos estão agindo com o pensamento na história e no legado que deixarão e acho que nenhum deles vai querer que parte desse legado seja uma relação EUA-Rússia estragada."
Um alto funcionário americano avisou que não se devem esperar acordos concretos. "Não é uma cúpula formal, da qual se devem esperar anúncios, comunicados conjuntos ou iniciativas de grande alcance", disse ao jornal britânico.
Antes da chegada de Putin, cerca de 1.500 manifestantes marcharam no balneário contra as guerras de Bush no Iraque e de Putin na Tchetchênia.


Com agências internacionais, "New York Times" e "Financial Times"


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