São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CRISTÃOS NA MIRA

Obama promete manter verba de Bush a religiosos

Iniciativa visa conquistar o eleitorado evangélico, fiel ao atual presidente, mas pouco entusiasmado com McCain

Para críticos da idéia, grupos podem usar critérios morais para limitar beneficiários; democrata ressalta crer em Igreja e Estado separados

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Tendo como principal alvo os cristãos evangélicos, que são quase um quarto dos americanos adultos e ajudaram a selar as duas vitórias do republicano George W. Bush, o democrata Barack Obama declarou em discurso ontem que, se eleito presidente, ampliará um programa de repasse de verbas federais para grupos de caridade ligados a igrejas e templos.
Lançado pelo governo Bush, o projeto é chamado de Escritório de Iniciativas Comunitárias e Baseadas na Fé (FBCI, na sigla em inglês) e distribui dinheiro para grupos comunitários ligados a religiões diversas.
Cercado de polêmicas, tem como principal crítica a possibilidade de que os grupos repassem a ajuda tendo como critério não a necessidade dos cidadãos, mas o alinhamento com a fé da instituição que provê o apoio. Também teme-se que o dinheiro seja usado para proselitismo.
Em discurso em Zanesville, Ohio (Estado crucial para a eleição de 4 de novembro), Obama tentou desconstruir a rejeição ao projeto. "Como alguém que lecionava direito constitucional, acredito profundamente na separação de Igreja e Estado, mas não creio que essa parceria coloque essa idéia em risco -desde que sigamos alguns princípios básicos", declarou o candidato. "Primeiro, se você consegue uma verba federal, você não pode usar esse dinheiro para tentar converter as pessoas que ajuda e não pode discriminá-las -nem quem você contrata- com base em sua religião", disse.
"Em segundo lugar, dólares federais que vão direto para igrejas, templos e mesquitas podem ser usados apenas para programas não-religiosos. E nós também nos certificaremos de que o dinheiro do contribuinte vá apenas para programas que funcionam."

Eficácia restrita
"O cortejo aos evangélicos é um ponto obrigatório para qualquer campanha, mas não creio que Obama espere com isso conquistar a maioria desse grupo. Ele só quer conseguir tantos votos quanto possível, assim como [o candidato republicano] John McCain está batalhando por mais votos latinos", disse à Folha Thomas Patterson, analista político da Universidade Harvard.
Para Patterson, é equivocada a idéia de que a direita cristã, que votou em massa em Bush em 2000 e 2004, abandone McCain nas urnas -o candidato da situação ainda tenta convencer o eleitorado republicano de que é suficientemente conservador.
"Os americanos evangélicos confiam menos em McCain do que em Bush, que é muito mais conservador, mas não é por isso que vão votar em Obama. McCain tem a credencial de ser antiaborto, que é o ponto que realmente importa para conseguir o voto religioso. Ele tem o ponto negativo de ser mais flexível sobre o casamento gay, mas esse é um assunto menor, e Obama é ainda mais liberal na questão", diz Patterson.
Para o analista, contudo, a estratégia de Obama pode surtir efeito. "É uma tática inteligente. Já que Obama não pode conquistar esses votos ideologicamente, ele tenta fazer isso por meio de um projeto de ações práticas, que envolve dinheiro. Pode ter impacto."
Após o discurso sobre patriotismo da véspera, foi mais um sinal de Obama de que caminha politicamente em direção ao centro, na busca pelo voto dos eleitores independentes. Além de conquistar a simpatia dos cidadãos que não têm preferência partidária clara, Obama e McCain tentam mobilizá-los para ir às urnas, já que o voto nos EUA não é obrigatório.


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