São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009

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Sudanês espera apoio de Lula contra tribunal internacional

Bashir participou de cúpula da União Africana, que teve brasileiro como convidado

Em discurso de abertura de evento na Líbia, petista defende não ingerência em assuntos domésticos de países do continente


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SIRTE (LÍBIA)

O ditador do Sudão, Omar al Bashir, que teve ordem de prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra e contra a humanidade, quer aprofundar a parceria econômica com o Brasil e contar com o apoio político do presidente Lula.
Bashir assistiu ontem ao discurso de Lula na abertura da cúpula da União Africana (UA), em Sirte, cidade costeira da Líbia, na qual o presidente brasileiro defendeu a não ingerência nos assuntos domésticos dos países do continente.
Embora seja signatário do TPI e tenha reiterado que cumprirá a ordem de prisão contra Bashir se ele for ao Brasil, o Itamaraty mantém uma posição cautelosa em relação ao indiciamento, pois acredita que ele pode prejudicar os esforços para pacificar o Sudão.
Abordado pela Folha pouco antes da abertura da cúpula africana, o ditador sudanês respondeu com um sorriso à pergunta sobre o que espera do Brasil. "Temos uma parceria na área de agricultura, para a produção de etanol, e queremos aprofundar as relações econômicas", disse Bashir.
Sobre a sua própria situação e a ordem de prisão do TPI, o sudanês não escondeu que busca no fortalecimento dos laços com o Brasil mais que cooperação econômica.
"Conto com o apoio do presidente Lula", disse Bashir, ao ser indagado sobre o que espera da posição do Brasil sobre seu indiciamento.
Bashir era o líder mais assediado pelos fotógrafos ontem, em meio à expectativa de que a UA emita uma declaração de repúdio à decisão do TPI. O que incomoda os líderes africanos é que, desde que foi criada, a corte só escolheu como alvos países do continente. Para eles, isso caracterizaria uma atitude discriminatória.
Em seu discurso como convidado de honra da cúpula africana, o presidente Lula não fez menção a nenhum país específico, mas ressaltou a posição da diplomacia brasileira de não interferência.
"Não se constrói um continente em harmonia do dia para a noite. Consolidar a democracia é um processo evolutivo", disse Lula. "O Brasil aplaude a crescente conscientização de que ninguém melhor do que os africanos para lidar com seus próprios problemas e elaborar suas próprias soluções."
Em março, poucos dias após o indiciamento do TPI, Lula já havia passado por um momento de mal-estar envolvendo Bashir, quando se viu sentado ao lado de onde deveria ficar o ditador sudanês durante um almoço na cúpula de países árabes e sul-americanos, no Qatar. Para evitar o contato, saiu antes de Bashir chegar.
Ontem, Lula parecia aliviado com a ausência de outro líder polêmico, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Sua participação na abertura da cúpula, que havia sido confirmada pela organização, foi cancelada sem nenhuma explicação.
"Vocês viram como é duro fazer preconceito premeditado?", disse Lula aos jornalistas brasileiros, que na véspera da cúpula haviam lhe indagado se haveria desconforto com a presença de Ahmadinejad, Bashir e outros líderes polêmicos.
O presidente, contudo, negou que tenha ficado aliviado.
"Eu não trabalho com este preconceito. Se eu trabalhasse, não estaríamos na ONU, tamanha é a sua diversidade, não teria Câmara de Deputados, não teria Senado, não teria Redação dos jornais, porque vocês não gostam de muita gente que está lá", disse Lula.


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