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Sudanês espera apoio de Lula contra tribunal internacional
Bashir participou de cúpula da União Africana, que teve brasileiro como convidado
Em discurso de abertura de evento na Líbia, petista defende não ingerência
em assuntos domésticos
de países do continente
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SIRTE (LÍBIA)
O ditador do Sudão, Omar al
Bashir, que teve ordem de prisão decretada pelo Tribunal
Penal Internacional (TPI) por
crimes de guerra e contra a humanidade, quer aprofundar a
parceria econômica com o Brasil e contar com o apoio político
do presidente Lula.
Bashir assistiu ontem ao discurso de Lula na abertura da
cúpula da União Africana (UA),
em Sirte, cidade costeira da Líbia, na qual o presidente brasileiro defendeu a não ingerência
nos assuntos domésticos dos
países do continente.
Embora seja signatário do
TPI e tenha reiterado que cumprirá a ordem de prisão contra
Bashir se ele for ao Brasil, o Itamaraty mantém uma posição
cautelosa em relação ao indiciamento, pois acredita que ele
pode prejudicar os esforços para pacificar o Sudão.
Abordado pela Folha pouco
antes da abertura da cúpula
africana, o ditador sudanês respondeu com um sorriso à pergunta sobre o que espera do
Brasil. "Temos uma parceria na
área de agricultura, para a produção de etanol, e queremos
aprofundar as relações econômicas", disse Bashir.
Sobre a sua própria situação
e a ordem de prisão do TPI, o
sudanês não escondeu que busca no fortalecimento dos laços
com o Brasil mais que cooperação econômica.
"Conto com o apoio do presidente Lula", disse Bashir, ao
ser indagado sobre o que espera da posição do Brasil sobre
seu indiciamento.
Bashir era o líder mais assediado pelos fotógrafos ontem,
em meio à expectativa de que a
UA emita uma declaração de
repúdio à decisão do TPI. O
que incomoda os líderes africanos é que, desde que foi criada,
a corte só escolheu como alvos
países do continente. Para eles,
isso caracterizaria uma atitude
discriminatória.
Em seu discurso como convidado de honra da cúpula africana, o presidente Lula não fez
menção a nenhum país específico, mas ressaltou a posição da
diplomacia brasileira de não
interferência.
"Não se constrói um continente em harmonia do dia para
a noite. Consolidar a democracia é um processo evolutivo",
disse Lula. "O Brasil aplaude a
crescente conscientização de
que ninguém melhor do que os
africanos para lidar com seus
próprios problemas e elaborar
suas próprias soluções."
Em março, poucos dias após
o indiciamento do TPI, Lula já
havia passado por um momento de mal-estar envolvendo
Bashir, quando se viu sentado
ao lado de onde deveria ficar o
ditador sudanês durante um almoço na cúpula de países árabes e sul-americanos, no Qatar.
Para evitar o contato, saiu antes de Bashir chegar.
Ontem, Lula parecia aliviado
com a ausência de outro líder
polêmico, o presidente do Irã,
Mahmoud Ahmadinejad. Sua
participação na abertura da cúpula, que havia sido confirmada pela organização, foi cancelada sem nenhuma explicação.
"Vocês viram como é duro
fazer preconceito premeditado?", disse Lula aos jornalistas
brasileiros, que na véspera da
cúpula haviam lhe indagado se
haveria desconforto com a presença de Ahmadinejad, Bashir
e outros líderes polêmicos.
O presidente, contudo, negou que tenha ficado aliviado.
"Eu não trabalho com este
preconceito. Se eu trabalhasse,
não estaríamos na ONU, tamanha é a sua diversidade, não teria Câmara de Deputados, não
teria Senado, não teria Redação
dos jornais, porque vocês não
gostam de muita gente que está
lá", disse Lula.
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