São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2010

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ANÁLISE

Perda de apoio latino explica nova atenção a tema polêmico

EDWARD LUCE
DO "FINANCIAL TIMES"

Quem quer que esteja imaginando por que Barack Obama decidiu pressionar agora por uma reforma nas leis de imigração deveria consultar os números das pesquisas de opinião pública.
Nos seus 17 meses na Casa Branca, Obama se provou uma decepção para o eleitorado de origem hispânica, o grupo que mais cresce entre os votantes dos EUA.
Ao longo de 2010, os índices de aprovação a Obama entre os negros e os brancos dos EUA não mudaram nada -estão parados em 91% e 41%, respectivamente. Entre os hispânicos, em contraste, sua aprovação caiu 12 pontos percentuais, para 57%.
Num indicador que preocupa os democratas, outro grupo que vem demonstrando crescente relutância em comparecer às urnas nas eleições legislativas de novembro é a jovem geração do milênio, cujo entusiasmo, somado ao dos latinos, foi decisivo para dar ao partido uma ampla maioria em 2008.
O discurso de ontem é um esforço tardio de Obama para retomar uma causa que ele nem mesmo mencionou em seu discurso sobre o Estado da União, em janeiro.
A despeito da lógica eleitoral que justifica tratar da questão, Obama teve de contrariar a opinião cética de seus assessores políticos, para os quais não fazia sentido retomar uma causa que tem pouca chance de ser transformada em lei ainda este ano.

REPUBLICANOS
Mas esse senso de paralisia deve se fortalecer ainda mais depois de novembro, quando os republicanos provavelmente obterão ganhos consideráveis, talvez decisivos, no Congresso.
Tendo aplaudido seus colegas do Arizona, que em abril aprovaram a mais draconiana lei de restrição à imigração em décadas, os republicanos estão trabalhando em direta oposição a seus interesses como partido.
Ainda que esteja fora de moda elogiar George W. Bush, o ex-presidente compreendia de maneira instintiva que os imigrantes, legais ou não, formam parte essencial da tradição americana.
Como governador do Texas, ele conquistou forte apoio hispânico. "Se eles são capazes de cruzar o rio Grande para chegar até aqui, nós certamente os queremos", declarou Bush em certa ocasião. Em 2000, ele conquistou mais de 40% do voto hispânico, recorde que nenhum republicano atingiu.
Talvez a mais clara indicação de o quanto os republicanos mudaram seja John McCain. Em 2006, o senador colaborou estreitamente num projeto de lei bipartidário que reformaria o sistema de imigração dos EUA.
Em 2007, McCain repudiou o projeto, como parte de seu esforço para garantir a indicação presidencial.
Diante de um desafiante conservador nas primárias do Arizona para o Senado, ele completou neste ano sua reviravolta, apoiando a polêmica lei anti-imigração de seu Estado.


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