São Paulo, sábado, 02 de julho de 2011

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'Nem a Suíça está imune a efeito da crise'

Mesmo com reformas na Grécia, investidores apostam em moratória, que poderia causar efeitos em escala global

Risco de haver contágio ainda é visto como pequeno; temor é efeito dominó em países como a Itália e a Espanha

ÉRICA FRAGA
JULIANA ROCHA

DE SÃO PAULO

A aprovação de novos cortes de gastos pelo governo grego que garantirá ao país mais ajuda financeira externa não mudou a percepção de investidores e analistas de que um calote da dívida pública é inevitável.
Pelo contrário, essa avaliação ganhou força nas últimas semanas. Bancos e consultorias projetam em relatórios recentes datas para o provável default, entre 2013 e 2014.
Incluem ainda Irlanda e Portugal na lista dos países que não conseguirão arcar com obrigações financeiras.
Ativos negociados no mercado financeiro também refletem risco grande de calote de Grécia, Irlanda e Portugal.

RISCOS
O custo financeiro de se proteger contra uma moratória desses países -refletidos em instrumentos chamados "credit default swaps-" disparou nos últimos dias para níveis recordes, muito mais altos que os do Brasil e até da Argentina, que decretou default em 2002 (ver gráfico).
Duas razões principais embasam as análises de especialistas que acreditam que calotes da dívida pública na Europa serão inevitáveis.
A forte oposição social e a fragilidade do governo dificultarão a implementação das medidas impopulares como mais cortes de gastos, demissões e privatizações.
"O levante social na Grécia piorou a ponto de ameaçar a estabilidade política, criando dúvidas sobre a capacidade do governo de implementar as reformas exigidas", diz John Bowler, diretor de risco soberano da EIU (Economist Intelligence Unit).
Além disso, mesmo que o governo consiga tocar o plano de austeridade fiscal, o resultado será uma contração econômica tão significativa que dificilmente contribuirá para melhorar a situação fiscal do governo.
O Citibank prevê que a relação entre dívida pública e PIB (Produto Interno Bruto) dos países europeus vai aumentar nos próximos anos.
"Nós achamos que uma reestruturação da dívida se tornará inevitável (...) A pilha de dívida em 2014 será maior que hoje", dizem trechos de relatório recente do banco.

CONTÁGIO
A dúvida é se um calote ou reprogramação da dívida de países europeus causaria estrago na economia global parecido com a crise detonada pela falência do banco americano Lehman Brothers em setembro de 2008.
Esse cenário ainda não é considerado o mais provável, embora não seja descartado.
A percepção crescente nos últimos dois anos de que uma reestruturação da dívida se tornava inevitável deu a investidores tempo para reduzir sua exposição a ativos dos países mais afetados.
O temor é que Itália e Espanha- economias bem maiores e com dívidas maiores que Grécia, Irlanda e Portugal, mas também fragilizadas- sejam arrastadas em uma onda de calotes.
Ontem, a agência de classificação S&P (Standard & Poor´s) alertou para os riscos fiscais na Itália, apesar dos ajustes já feitos e os aprovados anteontem.
Uma onda de calotes teria impacto maior para a economia global, arrastando possivelmente a Europa.
Até a saída de vários países da União Europeia é contemplada nesse cenário mais drástico, que contaminaria outras partes do mundo, incluindo o Brasil.
"Não existe isolamento de crise, nem para a Suíça", diz o diretor-executivo da Fitch no Brasil, Rafael Guedes.
Ele pondera que o Brasil conta com atenuantes. Os juros altos podem ser reduzidos para estimular a economia no caso de um novo choque global. Além disso, o país depende mais do mercado interno do que da demanda global para crescer.


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