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Sutilmente, Obama muda o foco do Plano Colômbia
No Orçamento, ação original antidrogas perde dinheiro para programas militares
Números chamam atenção no momento em que países da América Latina discutem o aumento da presença militar dos EUA naquele país
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Sutilmente, o governo de Barack Obama parece desviar o
foco do Plano Colômbia da proposta original -de auxílio ao
combate da produção e do tráfico de drogas para operações
militares de contrainsurgência.
A ação é nítida na parte militar
da proposta de Orçamento do
democrata para o ano fiscal de
2010, que se inicia em outubro.
O presidente dos EUA pede
US$ 31,5 milhões a menos para
operações de controle de narcóticos e cumprimento da lei
-queda de 13% em relação ao
orçamento anterior do Plano
Colômbia, aprovado ainda sob
George W. Bush (2001-2009).
Ao mesmo tempo, aumenta
em US$ 17 milhões o destinado
a operações militares não especificamente relacionadas ao
combate às drogas -salto de
30% em relação ao republicano. As versões aprovadas pela
Câmara dos Representantes
(deputados federais) e pelo Senado dos EUA têm valores um
pouco diferentes do pedido,
mas respeitam o desvio de foco.
O Orçamento prevê um gasto
total de US$ 513 milhões em
2010 com o país, sendo US$
200,7 milhões para ajuda econômica e social e a maior parte
-os 57% restantes- para operações militares.
Autoridades americanas monitoram o emprego do dinheiro, que sai dos EUA com finalidade específica e é objeto de um
relatório anual do Congresso
com detalhamento dos gastos.
Fora os países do Oriente
Médio, a Colômbia é quem
mais recebe ajuda militar dos
EUA no mundo e é seu principal aliado na América do Sul.
A análise do destino desse dinheiro, feita primeiro pelo centro de estudos progressista
Center for International Policy, de Washington, ganha relevância num momento em que
a negociação entre os dois países para ampliar a presença militar norte-americana em bases
na Colômbia causa desconforto
nos governos da região, liderados pelos vizinhos Venezuela e
Brasil, e começa a chamar a
atenção do resto do mundo.
O venezuelano Hugo Chávez
convocou seu embaixador na
Colômbia, país que havia cobrado publicamente explicações de Caracas sobre a presença de armas do Exército venezuelano com as Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia), o que o venezuelano disse ser "cortina de fumaça" para desviar a atenção da
ampliação da presença norte-americana naquele país.
Já o Itamaraty orientou o
embaixador brasileiro em Washington, Antonio Patriota, a
questionar detalhes da ampliação nas três bases, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que seja convocado o Conselho de Defesa no âmbito da
Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que se reúne no
Equador, no próximo dia 10.
Por enquanto, o comando
obamista evita se pronunciar a
respeito. O atual titular do Departamento de Estado para a
região, Thomas Shannon,
aguarda em silêncio sua confirmação no Senado para o posto
de embaixador no Brasil. O
mesmo faz o indicado por Obama para ser seu sucessor, o acadêmico Arturo Valenzuela.
Na única manifestação recente sobre o assunto, na quarta, o porta-voz da chancelaria
norte-americana, Ian Kelly,
disse que a disputa entre Colômbia e Venezuela "não é na
verdade problema dos EUA".
Sobre o resto, afirmou, "não temos nenhum comentário".
Ao assumir a chefia do Comando Sul (Southcom, na sigla
original), divisão do Pentágono
que responde pelas atividades
militares dos EUA na América
Latina, em junho último, o general Douglas Fraser indicou
que o combate às drogas seria o
foco principal de seu trabalho.
Preocupação com as Farc
O militar, que viveu na Colômbia por três anos quando
adolescente e que visitou o Brasil na semana passada, disse
também que as Farc eram motivo de preocupação. "As Farc
não estão derrotadas, e nós temos de continuar esse esforço."
Comentou o aumento da influência iraniana na região, que
chamou de "risco potencial",
disse que havia preocupação
real da ligação do país persa
com "grupos extremistas" locais e que se preocupava com a
corrida às armas venezuelana.
"Eu me preocupo com o crescimento militar da Venezuela
porque eu não entendo a ameaça que eles veem", disse então.
"Não vejo uma ameaça militar
convencional na região, então
não vejo sua necessidade de aumentar suas Forças Armadas
ao ponto que estão fazendo."
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