São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2011

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CLÓVIS ROSSI

Obama-2011: "No, you can't"


Acuado entre alternativas de perder ou perder, presidente capitula, mas nem assim as nuvens de tormenta deixam o mundo respirar aliviado


Bem que um dos analistas da CNN avisou ontem à tarde que só Deus sabe como os mercados reagirão hoje à Grande Confusão que se vai instalando no mundo rico, mal saído da Grande Recessão de 2008/09.
Este segundo rótulo é do FMI, mas o primeiro é meu mesmo, com pequena colaboração de um certo Barack Obama, que classificou de "messy" (uma bagunça) o processo que conduziu ao acordo sobre a elevação do teto da dívida norte-americana, acoplada a um corte de despesas em duas etapas.
Escrevo antes da votação do acordo no Congresso dos EUA. Se não for aprovado, será um suicídio, e a reação dos mercados, histérica, como é óbvio. Mesmo que seja aprovado, a bagunça já armada leva a crer numa espécie de suicídio lento.
Vejamos por que: só a fanática teologia dos republicanos pode crer que corte de gastos leve a crescimento econômico com a consequente redução do desemprego. Pode até acontecer, quando um país vive situação de relativa normalidade, o que não é o caso dos EUA hoje. Basta lembrar que a indústria manufatureira, conforme dado ontem divulgado, teve o menor crescimento desde o fim oficial da recessão, em 2009.
Sem contar que o crescimento do segundo trimestre foi pífio. Ambos os dados apontam para o risco de ocorrer o tal de "double dip" do jargão dos economistas, ou seja, um novo mergulho na recessão.
Não preciso lembrar o lamentável estado de muitas economias europeias nem o fato de que a crise da dívida na Europa não está nem de longe resolvida, do que dá prova o recorde ontem fixado no índice de risco-país da Itália, terceira maior economia europeia e sexta maior do mundo (não vale incluir a China, cuja renda per capita é ridícula).
Nesse cenário, inexiste qualquer possibilidade de estímulos governamentais para içar da catatonia as economias do mundo rico. Foram tais estímulos que evitaram que a Grande Recessão virasse uma Grande Depressão. Agora, Barack Obama, um dos principais impulsores dos estímulos, está derrotado e humilhado pelo que a representante Maxine Walters, democrata da Califórnia, chamou de, "talvez, a pior peça de política pública jamais saída desta instituição" [a Câmara de Representantes].
Refere-se, como é óbvio, ao acordo entre Obama e os líderes dos dois partidos, que, como comentou a ex-presidente da Casa, a também democrata Nancy Pelosi, "não inclui nem um bendito centavo das pessoas mais ricas do país", ao contrário do que pretendia originalmente o presidente, disposto a fazer o ajuste com 80% de corte de gastos e 20% de aumento de receitas, como se faz em qualquer processo negociador menos "bagunçado".
Ao contrário das democratas Pelosi e Walters, os líderes republicanos não escondiam, na entrevista coletiva da tarde de ontem, a alegria pelo triunfo que obtiveram.
Tornava evidente que o presidente capitulara, ante a típica situação de perder, fazendo as concessões que fez, ou perder, se ficasse impossibilitado de pagar as dívidas do governo.
Agora, o canto que embalou a campanha de Obama em 2008 pode ser mudado para "No, you can't".

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Mark Weisbrot


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