São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / VENTO A FAVOR

McCain tenta faturar com discurso solidário

Com Convenção Republicana esvaziada por furacão no sul, candidato aproveita para se distanciar de Bush e fortalecer imagem de líder

Com a memória avivada da inação no furacão Katrina, que matou mais de 1.800 em 2005, partido recolhe doações para flagelados

Stephan Savoia/Associated
PressMcCain embala suprimentos para vítimas do Gustav em Toledo; candidato capitaliza tragédia

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL

Sem poder falar de política partidária-eleitoral para evitar constrangimentos pelos efeitos do furacão Gustav, o candidato republicano a presidente dos EUA, John McCain, transformou sua agenda nos últimos dois dias numa pregação por solidariedade às pessoas atingidas. Viajou para a região da tragédia e fez apelos para que os americanos ajudem as vítimas.
O candidato já esteve nos Estados de Mississippi e Ohio, onde visitou centros de apoio às vitimas. Ontem, em Toledo (Ohio), cumprimentou voluntários que empacotavam suprimentos a serem enviados para as regiões atingidas. Posou para fotos e soltou várias frases de efeito, sempre tentando vender a imagem de líder e estadista.
"Isto [o trabalho voluntário] sintetiza os milhões de americanos que estão servindo a causas maiores do que os seus próprios interesses e estão colocando o seu país em primeiro lugar." Usou o mesmo lema de sua convenção, em St. Paul, "Country First" (em português, "o país em primeiro lugar").
A frase está espalhada em cartazes por todo o ginásio Xcel Energy Center, onde ocorre o encontro. Ao usar esse mote para ocupar a mídia falando do furacão Gustav, McCain tenta compensar a suspensão dos discursos políticos e a repercussão de uma outra notícia com potencial negativo para uma parte conservadora do eleitorado: a de que uma filha solteira de 17 anos de sua candidata a vice, Sarah Palin, está grávida.

Tema único
A Convenção Republicana ontem foi quase monotemática, sempre tratando de enviar sinais de que o partido está pensando nas vítimas do furacão Gustav e em como ajudá-las. Logo na abertura oficial, o presidente da sigla, Robert "Mike" Duncan, fez um apelo aos cerca de 2.000 delegados presentes. Pediu que acionassem os seus celulares e doassem US$ 5 à Cruz Vermelha.
Imediatamente, muitos dos presentes passaram a digitar um código de uma mensagem de texto para enviar a doação. A primeira-dama Laura Bush e a mulher de McCain, Cindy McCain, tomariam a palavra no final do dia para novos apelos por solidariedade.
Na parte da manhã, as duas já haviam participado de um evento em St. Paul, quando se encontraram com a delegação republicana de Louisiana, um dos Estados mais afetados pelo furacão. "A América está com vocês neste momento de necessidade", disse Cindy McCain.
A mulher do candidato republicano estava acompanhada de quatro de seus filhos. Aproveitou para enaltecer o comportamento do marido nas horas de crise. "Em momentos em que este país está sob pressão, certamente em necessidade de um grande líder, como sempre, meu marido é a pessoa certa" para essa função, disse ela.
Laura Bush falou aos convencionais no início da noite. Disse que as vítimas nos Estados afetados pelo furacão sabem que tudo está sendo feito para assisti-los. E terão, disse, tudo "de que precisam do governo federal". Em seguida, apresentou vídeos de governadores das regiões afetadas.
Até agora, não está claro qual será o efeito exato da suspensão parcial dos trabalhos da Convenção Republicana sobre a candidatura de McCain. Ele perdeu muitas horas de exposição gratuita nas TVs por causa do desastre climático. Mas também se livrou ontem de dois discursos constrangedores que estavam programados para a parte da noite: o do presidente George W. Bush e o do vice, Dick Cheney, cancelados por causa do Gustav.
Bem avaliados pelos delegados à Convenção Republicana, Bush e Cheney têm uma imagem deteriorada diante do eleitorado em geral. O problema para McCain é que ainda há uma chance de os dois aparecerem em St. Paul até o final da convenção, na quinta.
A Casa Branca disse ontem ser "possível" que Bush ainda compareça. Há também a possibilidade de essa participação ocorrer no formato de um depoimento gravado ou transmitido ao vivo para St. Paul. Seria em qualquer hipótese um pequeno revés para McCain. Ao ter programado Bush para o primeiro dia, a idéia era distanciar ao máximo o candidato do presidente, uma vez que o discurso de aceitação da candidatura é sempre no último dia.


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