São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / BEBÊ A BORDO

Gravidez precoce de filha põe Palin em xeque

Ultraconservadora, vice republicana fez anúncio para dissipar rumores de que seu caçula fosse na realidade filho de Bristol, 17

Expectativa agora é a de como notícia irá repercutir no eleitorado mais radical, que defende abstinência sexual antes do casamento

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL

Escolhida candidata a vice-presidente dos EUA na chapa do republicano John McCain muito por causa de suas credenciais conservadoras, Sarah Palin revelou ontem que uma de suas filhas, Bristol, 17, está grávida -o que suscitou dúvidas de como o eleitorado que ela visa atrair, em especial a direita cristã, reagirá à notícia.
Irá esse público criticar a família Palin por deixar haver sexo antes do casamento, ao contrário do que pregam o presidente George W. Bush e boa parte do partido? Ou elogiá-la por levar adiante uma gravidez não planejada e anunciar que a adolescente subirá ao altar?
Nos corredores do Xcel Energy Center, sede da Convenção Republicana, os fiéis delegados do partido se diziam defensores da segunda opção. "Sarah é muito conservadora e mostrou novamente que é uma mulher forte, de valores, que não permite a covardia do aborto e que orientou sua filha a se casar. O que a garota fez foi um erro, mas o papel da mãe é dar apoio", declarou à Folha. Barbara Thorburn, do Texas.
Analistas consideravam, no entanto, que a repercussão pudesse ser negativa longe da base engajada na candidatura de McCain, em especial dos mais conservadores, que já têm ressalvas contra o discurso liberal do candidato em alguns temas.
A escolha de Palin já gerava questionamentos dos que a consideram muito jovem (44 anos) e inexperiente (foi prefeita de uma pequena cidade do Alasca por seis anos e governa o Estado há um e meio), o que enfraquece a crítica de McCain de que o rival Barack Obama não está pronto para governar.
Juntava-se a isso o currículo intelectual de Palin, que estudou na pouco prestigiada Universidade de Idaho -o que também colocou em xeque a meta de conquistar o eleitorado feminino independente, descontente com a derrota da senadora Hillary Clinton (tida como experiente e preparada) nas prévias democratas.
Há ainda a possibilidade de que a candidata a vice pareça incoerente em seu discurso. Em 2006, ela escreveu em questionário do grupo conservador Eagle Forum que era contra a educação sexual na escola, sendo favorável apenas à orientação sobre abstinência. "Programas explícitos de sexo não terão meu apoio", disse ela na ocasião, segundo a CNN.

Telhado de vidro
A revelação da gravidez da filha não foi a única sobre a vice de McCain, o que, dizem analistas, pode levar a questionamentos do eleitorado sobre o que pode surgir na campanha.
Ontem soube-se que Palin contratou um advogado para defendê-la em processo movido por um funcionário rodoviário que diz ter perdido o emprego ao se negar a demitir um subordinado que foi casado com a irmã dela. Também ressoou a notícia de que o marido de Palin, Todd, foi preso por embriaguez ao volante há 24 anos.
A campanha de McCain tentou manter um perfil baixo. "Coisas da vida acontecem", disse o presidenciável. Segundo seus assessores, ele já sabia da gravidez ao escolher sua vice, e a decisão de divulgar a notícia foi uma tentativa de conter boatos na blogosfera de que o bebê de cinco meses da governadora seria filho de Bristol.
Quando a família de Palin subiu ao palco em seu anúncio como vice, sexta, Bristol levava no colo o irmão caçula, disfarçando o volume abdominal.
Sobre o pai do bebê, o partido disse apenas se tratar de um "jovem rapaz", chamado Levi.
Obama baixou o tom e declarou que demitiria quem, em sua campanha, tentasse fazer uso político da gravidez. "Isso não tem relevância para a performance de Palin como governadora ou eventual vice-presidente", afirmou, lembrando que sua mãe o teve aos 18 anos.


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