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Para Arias, eleição pode pacificar Honduras
"É possível" que pleito de novembro encerre conflito mesmo sem a volta de Zelaya, diz à Folha mediador do impasse
GUSTAVO HENNEMANN
DA REDAÇÃO
O presidente da Costa Rica e
mediador do impasse político
de Honduras, Óscar Arias, disse
ontem que "é possível" que o
conflito originado com o golpe
que destituiu Manuel Zelaya se
encerre com as eleições previstas para 29 novembro, mesmo
que elas ocorram sob o regime
golpista. A restituição de Zelaya, reiteradamente rejeitada
pelo governo interino, é o entrave do Acordo de San José,
proposto pelo costa-riquenho.
Em entrevista exclusiva à
Folha, falando de San José por
telefone, Arias também questionou a posição de boicote ao
pleito em Honduras, cuja campanha começou anteontem sob
ameaças internas e externas de
não reconhecimento.
Segundo o costa-riquenho, se
as eleições realizadas em países
governados por "regimes tirânicos" não têm validade, "não
poderíamos ter conquistado a
transição dos regimes ditatoriais na América Latina -produtos de golpes de Estado- para a democracia".
"Porque foi com [o ditador
Augusto] Pinochet que se realizaram eleições [no Chile em
1989] e foi com regimes de força na América Central que houve eleições", disse Arias.
No entanto, Arias afirma que
a negociação do conflito hondurenho está no meio do caminho e que ele e a OEA (Organização dos Estados Americanos)
insistirão para que o governo
interino, chefiado por Roberto
Micheletti, aceite os 12 pontos
do acordo, que, além da restituição de Zelaya, exige a anistia
do presidente deposto, acusado
de 18 crimes políticos.
Zelaya foi sequestrado pelo
Exército em 28 de junho e levado de avião à Costa Rica após
insistir em realizar uma consulta popular sobre uma Assembleia Constituinte, considerada ilegal pelo Congresso e
pela Justiça de Honduras.
O não reconhecimento internacional do governo instaurado após o golpe resultou em
sanções econômicas e políticas
ao país e é a esperança de Zelaya para voltar ao governo.
Para forçar a capitulação dos
golpistas, a OEA, que suspendeu Honduras em 4 de julho, e a
União Europeia ameaçam não
reconhecer o resultado da eleição hondurenha se ela ocorrer
sob o governo interino.
Os principais concorrentes à
Presidência são o ex-vice-presidente Elvin Santos, do Partido Liberal de Zelaya e Micheletti, e o opositor, Porfirio Lobo, do Partido Nacional.
O mediador
A volta de Honduras à comunidade internacional ficou oficialmente condicionada à aceitação do acordo formulado por
Arias, convidado pela OEA para
coordenar as tratativas em função da bem-sucedida mediação
de conflitos internos de países
centro-americanos em 1987,
quando tornou-se o primeiro
político latino-americano a receber o prêmio Nobel da Paz.
À Folha afirmou que "são casos diferentes", mas não quis
dizer qual considerou mais difícil de mediar. Ao assumir a
Presidência da Costa Rica pela
primeira vez em 1986, Arias se
deparou com uma América
Central conturbada por guerras civis e convenceu Exércitos
e guerrilheiros de Honduras,
Nicarágua, Guatemala e El Salvador a baixarem as armas por
meio do Acordo de Esquipulas.
Presidente de um país sem
Forças Armadas desde 1948,
Arias diz que foi por "acidente"
que chegou a posição de líder
mediador latino-americano.
"Se tivessem me eleito dez
anos antes ou 15 depois, não teria que apresentar um plano de
paz, pedido a deposição de armas, não teria recebido o Nobel
e não haveria documentário
sobre minha vida", disse, em
alusão à sua biografia, que será
exibida neste mês pelo canal de
TV por assinatura Biography
Channel. O documentário estreia no dia 13, data em que
Arias completa 68 anos.
Para ele, o filme mostra que
"a América Central pode ter
dado uma sábia lição ao mundo: com trabalho e tolerância é
possível solucionar guerras na
mesa de negociação".
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