São Paulo, quarta-feira, 02 de setembro de 2009

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Para Arias, eleição pode pacificar Honduras

"É possível" que pleito de novembro encerre conflito mesmo sem a volta de Zelaya, diz à Folha mediador do impasse

GUSTAVO HENNEMANN
DA REDAÇÃO

O presidente da Costa Rica e mediador do impasse político de Honduras, Óscar Arias, disse ontem que "é possível" que o conflito originado com o golpe que destituiu Manuel Zelaya se encerre com as eleições previstas para 29 novembro, mesmo que elas ocorram sob o regime golpista. A restituição de Zelaya, reiteradamente rejeitada pelo governo interino, é o entrave do Acordo de San José, proposto pelo costa-riquenho.
Em entrevista exclusiva à Folha, falando de San José por telefone, Arias também questionou a posição de boicote ao pleito em Honduras, cuja campanha começou anteontem sob ameaças internas e externas de não reconhecimento.
Segundo o costa-riquenho, se as eleições realizadas em países governados por "regimes tirânicos" não têm validade, "não poderíamos ter conquistado a transição dos regimes ditatoriais na América Latina -produtos de golpes de Estado- para a democracia".
"Porque foi com [o ditador Augusto] Pinochet que se realizaram eleições [no Chile em 1989] e foi com regimes de força na América Central que houve eleições", disse Arias.
No entanto, Arias afirma que a negociação do conflito hondurenho está no meio do caminho e que ele e a OEA (Organização dos Estados Americanos) insistirão para que o governo interino, chefiado por Roberto Micheletti, aceite os 12 pontos do acordo, que, além da restituição de Zelaya, exige a anistia do presidente deposto, acusado de 18 crimes políticos.
Zelaya foi sequestrado pelo Exército em 28 de junho e levado de avião à Costa Rica após insistir em realizar uma consulta popular sobre uma Assembleia Constituinte, considerada ilegal pelo Congresso e pela Justiça de Honduras.
O não reconhecimento internacional do governo instaurado após o golpe resultou em sanções econômicas e políticas ao país e é a esperança de Zelaya para voltar ao governo.
Para forçar a capitulação dos golpistas, a OEA, que suspendeu Honduras em 4 de julho, e a União Europeia ameaçam não reconhecer o resultado da eleição hondurenha se ela ocorrer sob o governo interino.
Os principais concorrentes à Presidência são o ex-vice-presidente Elvin Santos, do Partido Liberal de Zelaya e Micheletti, e o opositor, Porfirio Lobo, do Partido Nacional.

O mediador
A volta de Honduras à comunidade internacional ficou oficialmente condicionada à aceitação do acordo formulado por Arias, convidado pela OEA para coordenar as tratativas em função da bem-sucedida mediação de conflitos internos de países centro-americanos em 1987, quando tornou-se o primeiro político latino-americano a receber o prêmio Nobel da Paz.
À Folha afirmou que "são casos diferentes", mas não quis dizer qual considerou mais difícil de mediar. Ao assumir a Presidência da Costa Rica pela primeira vez em 1986, Arias se deparou com uma América Central conturbada por guerras civis e convenceu Exércitos e guerrilheiros de Honduras, Nicarágua, Guatemala e El Salvador a baixarem as armas por meio do Acordo de Esquipulas.
Presidente de um país sem Forças Armadas desde 1948, Arias diz que foi por "acidente" que chegou a posição de líder mediador latino-americano.
"Se tivessem me eleito dez anos antes ou 15 depois, não teria que apresentar um plano de paz, pedido a deposição de armas, não teria recebido o Nobel e não haveria documentário sobre minha vida", disse, em alusão à sua biografia, que será exibida neste mês pelo canal de TV por assinatura Biography Channel. O documentário estreia no dia 13, data em que Arias completa 68 anos.
Para ele, o filme mostra que "a América Central pode ter dado uma sábia lição ao mundo: com trabalho e tolerância é possível solucionar guerras na mesa de negociação".


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