São Paulo, quarta-feira, 02 de setembro de 2009

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Líder tribal acusa presidente de fraude em eleição afegã

Segundo a denúncia, eleitores de região pró-opositor foram impedidos de votar

Urnas foram abastecidas por policiais, e todas as 23,9 mil cédulas tinham votos favoráveis a Hamid Karzai, diz governador do distrito

DEXTER FILKINS
DO "NEW YORK TIMES", EM CABUL

Cerca de uma semana antes da eleição presidencial afegã, os líderes de uma tribo do sul do país se reuniram para tomar uma decisão audaciosa: os bariz abandonariam o candidato situacionista, e favorito local, presidente Harmid Karzai, e apoiariam o oposicionista Abdullah Abdullah.
Abdullah visitou a cidade de Candahar, no sul do país, para receber o apoio formal da tribo. Seus líderes, que vivem em um distrito chamado Shorabak, organizaram um esforço eleitoral que daria vitória esmagadora ao oposicionista na área.
Mas não foi o que aconteceu, disseram os líderes tribais. Em lugar disso, assessores de Ahmed Wali, irmão de Karzai, líder do conselho provincial de Candahar e o homem mais poderoso do sul do Afeganistão, detiveram o governador de Shorabak, Delaga Bariz, e fecharam os 45 locais de votação do distrito, no dia da eleição.
As urnas foram levadas à sede do distrito, onde, segundo Bariz e outros líderes tribais, policiais as encheram. No fim do dia, as 23,9 mil cédulas foram levadas a Cabul, diz Bariz -e todos os votos foram atribuídos a Karzai.
"Ninguém votou no distrito de Shorabak", disse Bariz na capital afegã, para onde ele e outros líderes tribais viajaram a fim de prestar queixa. "O pessoal de Karzai encheu todas as urnas de falsos votos."
As acusações de Bariz e de diversos outros líderes tribais de Shorabak são as mais sérias alegações feitas publicamente até agora contra a máquina eleitoral de Karzai, que enfrenta um dilúvio de queixas de fraude.
A autoridade eleitoral afegã anunciou ontem que o número de queixas sobre roubo de votos e outras formas de fraude havia atingido a marca de 2.615.
O comando da campanha de Karzai é acusado de forjar votos, roubar cédulas e impedir eleitores de ir às urnas.
Na Província de Candahar, controlada pela família de Karzai, alegações como as de Shorabak surgiram em muitos distritos. Resultados preliminares mostravam que Karzai conquistara cerca de 48 mil votos, ante só 3.000 para Abdullah.
Pouco menos de metade dos votos haviam sido apurados. Karzai lidera com 46% dos votos válidos. Abdullah tem 33%. Karzai e seus assessores negam qualquer fraude, e estão confinados ao palácio presidencial aguardando a apuração.
Mas as denúncias têm despertado dúvidas quanto à sua campanha de reeleição, e a perspectiva de que, ainda que vença, saia do episódio maculado.
Ao mesmo tempo, as alegações vêm resultando em pressão ainda mais forte sobre o governo dos EUA para garantir que as acusações de fraude sejam devidamente investigadas.
Um resultado eleitoral percebido como fraudulento representaria um sério revés para o governo Obama, que assumiu o compromisso de encerrar com vitória o conflito contra o Taleban e a Al Qaeda.
Alegações como as de Bariz põem em xeque a integridade do processo eleitoral. Era impossível averiguar boa parte da história contada por ele.
Mas ela parecia crível.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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