|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Líder tribal acusa presidente de fraude em eleição afegã
Segundo a denúncia, eleitores de região pró-opositor foram impedidos de votar
Urnas foram abastecidas por policiais, e todas as 23,9 mil cédulas tinham votos favoráveis a Hamid Karzai, diz governador do distrito
DEXTER FILKINS
DO "NEW YORK TIMES", EM CABUL
Cerca de uma semana antes
da eleição presidencial afegã, os
líderes de uma tribo do sul do
país se reuniram para tomar
uma decisão audaciosa: os bariz
abandonariam o candidato situacionista, e favorito local,
presidente Harmid Karzai, e
apoiariam o oposicionista Abdullah Abdullah.
Abdullah visitou a cidade de
Candahar, no sul do país, para
receber o apoio formal da tribo.
Seus líderes, que vivem em um
distrito chamado Shorabak, organizaram um esforço eleitoral
que daria vitória esmagadora
ao oposicionista na área.
Mas não foi o que aconteceu,
disseram os líderes tribais.
Em lugar disso, assessores de
Ahmed Wali, irmão de Karzai,
líder do conselho provincial de
Candahar e o homem mais poderoso do sul do Afeganistão,
detiveram o governador de
Shorabak, Delaga Bariz, e fecharam os 45 locais de votação
do distrito, no dia da eleição.
As urnas foram levadas à sede do distrito, onde, segundo
Bariz e outros líderes tribais,
policiais as encheram. No fim
do dia, as 23,9 mil cédulas foram levadas a Cabul, diz Bariz
-e todos os votos foram atribuídos a Karzai.
"Ninguém votou no distrito
de Shorabak", disse Bariz na capital afegã, para onde ele e outros líderes tribais viajaram a
fim de prestar queixa. "O pessoal de Karzai encheu todas as
urnas de falsos votos."
As acusações de Bariz e de diversos outros líderes tribais de
Shorabak são as mais sérias alegações feitas publicamente até
agora contra a máquina eleitoral de Karzai, que enfrenta um
dilúvio de queixas de fraude.
A autoridade eleitoral afegã
anunciou ontem que o número
de queixas sobre roubo de votos e outras formas de fraude
havia atingido a marca de 2.615.
O comando da campanha de
Karzai é acusado de forjar votos, roubar cédulas e impedir
eleitores de ir às urnas.
Na Província de Candahar,
controlada pela família de Karzai, alegações como as de Shorabak surgiram em muitos distritos. Resultados preliminares
mostravam que Karzai conquistara cerca de 48 mil votos,
ante só 3.000 para Abdullah.
Pouco menos de metade dos
votos haviam sido apurados.
Karzai lidera com 46% dos votos válidos. Abdullah tem 33%.
Karzai e seus assessores negam qualquer fraude, e estão
confinados ao palácio presidencial aguardando a apuração.
Mas as denúncias têm despertado dúvidas quanto à sua campanha de reeleição, e a perspectiva de que, ainda que vença,
saia do episódio maculado.
Ao mesmo tempo, as alegações vêm resultando em pressão ainda mais forte sobre o governo dos EUA para garantir
que as acusações de fraude sejam devidamente investigadas.
Um resultado eleitoral percebido como fraudulento representaria um sério revés para
o governo Obama, que assumiu
o compromisso de encerrar
com vitória o conflito contra o
Taleban e a Al Qaeda.
Alegações como as de Bariz
põem em xeque a integridade
do processo eleitoral. Era impossível averiguar boa parte da
história contada por ele.
Mas ela parecia crível.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Japão: Realocação de tropas causa 1º atrito com EUA Próximo Texto: EUA deixam de investigar jornalistas Índice
|