São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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Hebron vira cidade símbolo do conflito

Protegidos pelo Exército israelense, colonos se vingam de ataque palestino atacando suas casas e plantações

Assentados batizam política de "etiqueta de preço", cobrando caro pelo ataque que matou quatro civis anteontem


ENVIADO ESPECIAL A HEBRON

Um dia depois do atentado que matou quatro colonos judeus perto de Hebron, a cidade conhecida como um dos principais focos de tensão entre palestinos e israelenses parecia concentrar todo o pessimismo e o descrédito que cercam mais um reinício do processo de paz.
As mortes dos quatro colonos, reivindicadas pela ala militar do grupo islâmico Hamas, levaram o Exército israelense a declarar estado de alerta em torno de Hebron, tornando ainda mais segregada uma região em que árabes e judeus vivem lado a lado, mas mal convivem. Na estrada em que ocorreu o atentado, quase todos os carros eram parados ontem por soldados.
A cena havia se tornado incomum nos últimos anos, quando a queda drástica no nível de violência foi atribuída à cooperação entre forças israelenses e palestinas.
"Acho que essa sensação de segurança era só dos israelenses, porque nós nunca nos sentimos seguros com tantos soldados nos cercando", diz Kahil, enquanto caminha por uma feira de alimentos em Hebron.

300 PRISÕES
A volta da violência às vésperas da retomada do diálogo ressalta os temas principais de ambos os lados da mesa de negociação: a segurança para os israelenses, a ocupação para os palestinos.
Na busca pelos autores do atentado, mais de 300 ativistas do Hamas foram detidos ontem por forças da Autoridade Nacional Palestina, que administra a Cisjordânia.
Um porta-voz do Hamas, o grupo islâmico rival da ANP, que é controlada pelo secular Fatah, chamou as prisões de "ato político".
As quatro vítimas do atentado viviam em Beit Hagai, um pequeno assentamento ao sul de Hebron.
Ontem, depois dos funerais, colonos queimaram plantações e atacaram casas de palestinos, em mais uma demonstração da politica batizada por eles de "etiqueta de preço".
É destinada a cobrar caro por cada ato de violência ou qualquer concessão aos palestinos. Espalhados em grande número pela região para buscar os assassinos dos colonos, os soldados israelenses se viram obrigados a enfrentar outros colonos, desta vez para proteger os palestinos.
Em resposta ao atentado, a liderança dos colonos na Cisjordânia anunciou que recomeçará a construir nos territórios ocupados, ignorando a moratória de dez meses imposta pelo governo, que termina no dia 26 de setembro. "Começaremos nesta noite a construir em toda a Judeia e Samaria [nome bíblico da Cisjordânia]", disse Naftali Bennett, líder dos colonos.(MARCELO NINIO)

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