São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Clérigo suspeita que ataque tenha sido vingança contra xiitas pela morte de membro sunita da Al Qaeda

Terror mata 25 em mesquita no Paquistão

ASIF SHAHZAD
DA ASSOCIATED PRESS

Um terrorista suicida carregando uma bomba dentro de uma pasta atacou ontem uma mesquita xiita repleta de fiéis no leste do Paquistão, matando pelo menos 25 pessoas e ferindo mais de 50.
Tropas foram enviadas à cidade de Sialkot para restaurar a ordem após a explosão.
Para um importante clérigo xiita, pode ter sido retaliação pela morte, no último fim de semana, pelas forças de segurança, de Hussain Farooqi, importante integrante da Al Qaeda e militante sunita acusado de participação na morte do jornalista americano Daniel Pearl, em 2002.
Pouco após a explosão, especialistas desarmaram uma segunda bomba de 5 kg do lado de fora da mesma mesquita, onde centenas de xiitas enfurecidos tinham se reunido para protestar, e, com isso, provavelmente salvaram muitas outras vidas, disse a polícia.
O ditador Pervez Musharraf, aliado-chave dos EUA, disse que o ataque mostra que "os terroristas não têm religião e são inimigos da humanidade". Ele reafirmou o compromisso de seu governo com o combate aos terroristas.
Nos três anos passados desde que Musharraf comprometeu o país com a guerra contra o terror, militantes islâmicos, muitas vezes ligados à Al Qaeda, têm lançado repetidos ataques contra alvos do governo e ocidentais.
A violência também sido dirigida contra a minoria muçulmana xiita, que compõe cerca de 20% da população de 150 milhões de habitantes, a maioria da qual é formada por sunitas.
Como acontece no Iraque, onde militantes sunitas são suspeitos de lançar ataques provocadores contra xiitas, as tensões sectárias permanecem sempre quase em ebulição no Paquistão, que possui um histórico de atritos entre as duas correntes do islã.

Carne humana
Nenhum grupo assumiu a responsabilidade pelo ataque contra as centenas de fiéis que estavam na mesquita de Zainabia, no centro de Sialkot, cidade situada 230 km a sudeste de Islamabad. Eles participavam das tradicionais orações da sexta-feira.
A explosão deixou uma cratera na mesquita e danificou suas paredes. Carne humana ficou espalhada pelo chão, recoberto de cacos de vidro, e sangue manchava o teto da mesquita.
"Eu estava orando quando vi uma luz forte, e então alguma coisa explodiu com um ruído enorme, e eu caí", contou Sajjad Anwar, 36. "Uma onda espessa de fumaça se formou após a explosão, e vi pedaços de corpos humanos atingindo as paredes e o teto da mesquita."
Mumtaz Ali Shah, 43, também ferido, contou: "Minha cabeça parou de funcionar por um momento depois da explosão, mas, quando abri os olhos, me vi deitado em meio a corpos de mortos".
De acordo com o chefe de polícia de Sialkot, Nisar Ahmed, testemunhas contaram que um homem com uma pasta entrou na mesquita pouco antes da explosão e que a pasta explodiu. "Estamos quase certos de que foi um ataque suicida", disse Ahmed à Associated Press.
Pouco após a explosão, uma equipe de desarmadores de bombas encontrou outra bomba numa pasta do lado de fora da mesquita. Mohammed Nazir, o chefe da equipe, disse: "Essa bomba de 5 kg poderia ter matado dezenas de pessoas se não tivesse sido desarmada".


Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: EUA atrapalham reféns, diz francês
Próximo Texto: Número dois da Al Qaeda exorta novos ataques
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.