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CINEMA E POLÍTICA
Produzido e financiado por republicanos, documentário que contesta "Fahrenheit 11 de Setembro" tem pré-estréia nos EUA
"Celsius 41.11" rebate tese de Michael Moore
JOHN TIERNEY
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
Os republicanos americanos finalmente encontraram uma resposta a Michael Moore: "Celsius
41.11 - The Temperature at Which
the Brain Begins to Die" (41,11
Graus Celsius -A Temperatura
em que o Cérebro Começa a Morrer). Trata-se de um documentário feito em seis semanas e que
vem sendo divulgado como "a
verdade que existe por trás de
"Fahrenheit 11 de Setembro" ".
O filme teve sua pré-estréia na
noite de terça-feira, em Georgetown, e após a exibição as reações
dominantes entre o público presente, formado por 300 pessoas
quase todas republicanas, se dividiram em duas principais. Uma
das opiniões era que o "Celsius
41.11" é bem mais preciso do que
"Fahrenheit 11 de Setembro". A
outra era que o filme não vai render US$100 milhões.
Mas o objetivo não era mesmo
esse, como não paravam de insistir os conservadores de Hollywood (sim, existem alguns). "Poderíamos ter ido muito mais longe com isso, mas não o fizemos
propositalmente", comentou Lionel Chetwynd, roteirista e um dos
produtores do filme. Chetwynd
tem entre seus créditos o roteiro
de "The Apprenticeship of Duddy
Kravitz" e documentários sobre o
Dia D, o Vietnã e o 11 de Setembro. "As farpas gratuitas ou injustificadas do filme de Moore podem ser divertidas", acrescentou,
"mas nós quisemos apresentar argumentos intelectuais e fazer
mais do que apenas pregar para
os já convertidos."
A versão de Hollywood da campanha presidencial parece ser o
avesso daquela que está sendo
travada a partir de Washington.
Os democratas se lamentam de
que seu candidato tem cérebro
demais e coração de menos, em
contraste com a mensagem republicana, que apela para as emoções dos eleitores.
Na tela grande, porém, os republicanos optaram por uma abordagem cerebral, procurando
mostrar que seus cérebros não estão superaquecidos. "Celsius
41.11" faz uma defesa do presidente Bush divida em pontos organizados, apresentada por políticos,
jornalistas e acadêmicos que falam da legalidade da recontagem
dos votos na Flórida em 2000, do
histórico da gestão Clinton no
combate ao terrorismo e da teoria
da excepcionalidade dos EUA.
O filme traz alguns momentos
de justaposição ao estilo "Fahrenheit", como, por exemplo, uma
imagem do World Trade Center
em chamas enquanto Michael
Moore declara: "Isto precisa ser
dito na televisão nacional. Não
existe ameaça terrorista". A discussão da demora da Europa em
reagir a Hitler é ilustrada com
uma imagem de manifestantes
antiguerra franceses em 1938 erguendo cartazes dizendo "Non".
Essa imagem, aliás, foi recebida
com uma leve vaia pelos republicanos na terça-feira.
Música country
O senador John Kerry é saudado
com uma canção do cantor
country Larry Gatlin. Soando um
pouco como Pete Seeger, ele canta: "John, menino, conte para nós
em que sentido o vento está soprando". Mas a canção não é
acompanhada pela já famosa foto
de Kerry fazendo windsurf.
"Seria fácil fazer uma montagem de imagens de Kerry mostrando-o como atleta em suas horas vagas, como um diletante rico,
do mesmo jeito que Moore fez
com Bush", comentou Chetwynd,
aludindo às imagens constantes
de Bush em férias em "Fahrenheit
11 de Setembro". "Mas queríamos
desconstruir o argumento "qualquer pessoa, menos Bush", enfrentando Kerry como o que ele é,
um homem sério."
O filme foi financiado e produzido pelo Citizens United (Cidadãos Unidos), grupo conservador
de Washington. Em junho o grupo pediu à Comissão Eleitoral Federal que proibisse Moore de publicar anúncios de seu filme durante o período pré-eleitoral em
que é proibida a publicidade política por grupos externos. O pedido foi arquivado quando Moore
declarou que não publicaria os
anúncios em questão.
Em decisão separada tomada
este mês, a comissão proibiu o Citizens United de anunciar "Celsius 41.11" ou de pagar para que
seja exibido na televisão. O presidente do grupo, David Bossie, disse esta semana que várias distribuidoras estão interessadas em
"Celsius 41.11" e que ele espera
que o filme comece a ser exibido
em cinemas em duas semanas.
Ninguém, nem mesmo seus
criadores, espera que o filme exerça o mesmo impacto popular de
"Fahrenheit 11 de Setembro", e a
pré-estréia, na terça-feira, não
contou com celebridades de Washington como as que compareceram à pré-estréia do filme de
Moore. As pessoas que compareceram, porém, pareceram muito
satisfeitas por alguém estar enfrentando Michael Moore.
Debra Burlingame, cujo irmão
era piloto do avião que se chocou
com o Pentágono em 11 de setembro, disse que achou o tom sóbrio
de "Celsius 41.11" um contraste
bem-vindo com a abordagem de
Michael Moore. "Moore chegou a
utilizar imagens do Pentágono
em chamas como gag visual", comentou Burlingame, fundadora
de um grupo de familiares de vítimas de 11 de setembro que estão
manifestando seu apoio a Bush.
Tradução de Clara Allain
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