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EUROPA
Papa o beatifica no domingo
Áustria se divide sobre o novo beato Carlos 1º
WILLIAM J. KOLE
DA ASSOCIATED PRESS, EM VIENA
Alguns acreditam que ele tenha
sido um santo, porque procurou
um fim pacífico para a Primeira
Guerra Mundial. Outros o consideram um calhorda, por comandar tropas que usavam gás venenoso como arma e por encetar
duas sangrentas tentativas de retomar o trono.
No domingo, o papa João Paulo
2º beatificará Carlos 1º, o último
imperador austríaco, mas a decisão do Vaticano de colocá-lo no
caminho da santidade deflagrou
um acalorado debate político e religioso na Áustria.
Viena sofreu ataques por pretender enviar uma delegação de
notáveis a Roma. E a Igreja Católica foi ridicularizada pelo milagre
que atribui a Carlos: uma freira
brasileira cujas veias varicosas se
curaram depois que ela orou pela
beatificação do monarca.
"Como católico praticante, protesto contra a beatificação do imperador Carlos", disse Rudolf
Stanzel, um dos fiéis que acreditam que o Vaticano esteja cometendo um erro. "A Igreja está se
posicionando em favor daqueles
que têm a riqueza e o poder."
Carlos 1º assumiu o trono em
1916, e trabalhou pela paz com o
Império Austro-Húngaro chegando ao fim. Abdicou no fim da
guerra, em 1918, e morreu em
Portugal, em 1922, aos 34 anos.
O Vaticano, que em dezembro
formalmente atribuiu um milagre
a Carlos -um dos diversos passos necessários à beatificação-,
em abril aprovou a "virtude heróica" do imperador. O cardeal
José Saraiva Martins, diretor da
Congregação das Causas dos Santos, disse que o monarca "serviu
ao povo com justiça e caridade".
"Ele procurou a paz, ajudou os
pobres, cultivou a vida espiritual
com grande dedicação", disse.
Martin Kugler, porta-voz dos
Habsburgo, dinastia do Império
Austro-Húngaro, disse não compreender o motivo da agitação.
"Como imperador, Carlos promoveu um programa social
abrangente", disse Kugler à Austria Press Agency. "Criou o primeiro Ministério de Assuntos Sociais do mundo, e protegeu os inquilinos e as crianças. Instituiu
um sistema de proteção para os
trabalhadores e o direito familiar
ao seguro social. A essência de
suas medidas continua em vigor."
Mas os críticos alegam que Carlos 1º, como imperador, era responsável pelo comando de tropas
que usavam gás venenoso na
frente italiana, se bem que historiadores digam que tentou limitar
o uso dessa arma, irritando o comando de suas Forças Armadas.
Alguns desdenham o milagre
que o Vaticano atribui a Carlos 1º.
O Vaticano alega que uma freira
que vivia enclausurada no Brasil
se curou depois de orar pela beatificação do imperador nos anos 70.
Os líderes da igreja austríaca alegam que ela sofria de um caso severo de veias varicosas.
Outros argumentam que Carlos
1º fez duas tentativas de retomar o
poder à força, depois que a monarquia foi abolida, em 1918, como parte do acordo que pôs fim à
Primeira Guerra Mundial, e que
algumas dezenas de pessoas foram mortas em combates de rua
em ambas as ocasiões.
O imperador e sua família foram embarcados num navio sob
escolta britânica e conduzidos à
ilha da Madeira, de Portugal, onde ele morreu de pneumonia.
"Carlos era um jovem fraco e indeciso, que dependia totalmente
daqueles que o cercavam", disse a
historiadora Brigitte Hartmann à
respeitada revista "Profil".
A decisão do governo de enviar
uma delegação comandada pelo
presidente do Parlamento, Andreas Khol e outros importantes
funcionários austríacos foi criticada como flagrante violação da
separação entre igreja e Estado.
Khol defendeu sua decisão de
participar da cerimônia na praça
de São Pedro, em Roma, onde
Carlos 1º se tornará o 11º austríaco
beatificado pela Igreja.
Carlos 1º "procurou a paz e levou uma vida dedicada e religiosa", disse Khol, insistindo que
"igreja e Estado são completamente separados" na Áustria.
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