São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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Putin acusa a Geórgia de terrorismo e de fazer reféns

Crise foi deflagrada pela prisão de militares russos suspeitos de espionagem

Líder georgiano minimiza declarações e diz que russos "não são irracionais o suficiente" para fazer uso da força contra seu país

DA REDAÇÃO

O presidente russo, Vladimir Putin, acusou ontem a Geórgia de praticar "terrorismo de Estado com a tomada de reféns". A linguagem, incomumente animosa, sugere uma resposta enérgica à decisão da Geórgia de prender quatro militares russos sob a acusação de espionagem na semana passada.
As declarações de Putin ocorrem depois de uma reunião de urgência que manteve nos arredores de Moscou com os comandantes militares, principais ministros e chefes dos serviços de inteligência para discutir a crise entre as duas ex-repúblicas soviéticas.
"O presidente qualificou as ações da liderança georgiana como um ato de terrorismo de Estado com a tomada de reféns", afirma comunicado.
Putin também comparou as ações da Geórgia com as da polícia secreta do ex-ditador da União Soviética Josef Stálin, dizendo que elas fazem parte do "legado político de Laurenti Pavlovitch Beria". Beria, como Stálin, era georgiano -a Geórgia integrava a União Soviética. Foi chefe da temida polícia secreta NKVD e promoveu o expurgo de milhões de soviéticos nos anos 30 e 40. Também supervisionou a fabricação da bomba atômica russa.
O chanceler georgiano reagiu classificando as declarações de Moscou de "ameaça explícita de uso da força militar". O presidente Mikhail Saakashvili, no entanto, minimizou-as, dizendo que "não as estava levando a sério". "É uma reação exagerada, causada pelo nervosismo que eles mesmos criaram." Saakashvili disse ainda não acreditar que Moscou planeje fazer uso da força contra os georgianos. "Não acredito que eles sejam irracionais o suficiente."
A Geórgia havia acusado Putin de se encontrar em segredo com líderes separatistas georgianos e de apoiá-los. Desde que a crise se instalou, na semana passada, a Rússia já retirou seu embaixador de Tbilisi, reduziu o pessoal diplomático ao mínimo e deixou de conceder vistos de entrada para cidadãos georgianos.

Retirada
Apesar do tom animoso, Putin disse ao Ministério da Defesa para continuar com os planos para a retirada das tropas russas da Geórgia, afirmou o porta-voz da Presidência, Alexei Gromov. O Ministério da Defesa russo havia informado no sábado que a retirada fora suspensa, porque não seria possível garantir a segurança das tropas quando atravessassem território georgiano. A Rússia deve tirar seus homens das bases que ainda mantém na Geórgia até o fim de 2008.
O comandante das forças russas na Geórgia disse que as tropas estão em estado de alerta e receberam ordem de matar se preciso. "Estamos prontos para demover qualquer tentativa de penetrar em nossas bases usando todos os meios, incluindo atirar para matar", disse o general Andrei Popov.
A atual crise foi deflagrada pela prisão, na quarta, de quatro oficiais russos sob acusação de espionagem, mas as relações entre os dois países vêm se deteriorando há vários meses. Putin desaprova as políticas abertamente pró-ocidentais de Saakashvili, e este critica Moscou.

Separatismo
A Geórgia acusa a Rússia de fomentar o sentimento separatista na Abkházia e na Ossétia do Sul, regiões que romperam com o governo central e têm planos de formalizar a secessão para se incorporar à Rússia.
A Geórgia tem 5 milhões de habitantes, muitos dos quais dependem de remessas de dinheiro enviadas por parentes que trabalham na Rússia. O país também depende de Moscou para seu suprimento de gás e eletricidade.


Com agências internacionais


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