São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2007

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Putin quer ser primeiro-ministro russo

Ele vai concorrer ao Parlamento e pretende chefiar o governo, já que não pode disputar terceiro mandato presidencial

Casa Branca diz que questão é interna, e analistas crêem até que Putin tenha o plano de combinar renúncia com sucessor e voltar ao Kremlin

Mikhail Metzel/Associated Press
Sob símbolo do partido Rússia Unida, Putin discursa sobre eleição parlamentar de dezembro


DA REDAÇÃO

Vladimir Putin, 55, o todo-poderoso presidente russo, anunciou ontem a decisão de encabeçar a chapa do partido Rússia Unida nas eleições legislativas de 2 de dezembro. Também sinalizou a intenção de se tornar primeiro-ministro.
Impedido pela Constituição de concorrer a um terceiro mandato presidencial, ele se tornaria premiê e continuaria a exercer o poder de maneira centralizadora, tendo como sucessor no Kremlin algum político discreto, que lhe seja leal e não ameace sua popularidade.
É ao menos essa a interpretação de boa parte dos especialistas, ontem pegos de surpresa pelo discurso feito pelo presidente, em Moscou, no 8º Congresso do partido oficial.
"Precisaremos deixar de lado o chavão de que o tsar da Rússia é em verdade o presidente", disse Gleb Pavlovsky, analista próximo do Kremlin. Em outras palavras, o "tsar" também pode ser o primeiro-ministro.
Em Washington, Dana Perino, uma das porta-vozes da Casa Branca, exortou as autoridades russas a promover eleições "livres e democráticas". Quanto à possibilidade de Putin se tornar premiê, afirmou que a questão deve ser decidida pelo povo da Rússia.
Em seu discurso na convenção partidária, Putin disse que os russos deverão eleger presidente "uma pessoa moderna, decente e capaz" e que seja de sua equipe. Em seguida, afirmou que, quanto a ocupar ele próprio a chefia do governo, "trata-se de uma sugestão bastante realista, embora seja muito cedo para levantá-la".
Seu segundo mandato presidencial expira em 2 de março de 2008. Mas, antes da escolha de seu sucessor, eleições parlamentares renovarão as 450 cadeiras da Duma, a Câmara.

50% das intenções
O Rússia Unida, que já controla aquela casa do Parlamento, encabeça amplamente as intenções de voto, com algo em torno de 50%. Os segundos colocados, que são os comunistas, oscilam de 10% a 20%. O Rússia Unida vai às urnas com o slogan "Plano de Putin, Vitória para a Rússia". É um partido incondicionalmente fechado com o atual presidente.
Putin, que já foi primeiro-ministro, assumiu interinamente a Presidência em 31 de dezembro de 1999, com a renúncia de Boris Ieltsin. Elegeu-se para a chefia de Estado em março do ano seguinte, tendo sido amplamente reeleito em 2004.
Seus partidários afirmam que, desde então, ele recuperou a Rússia do caos econômico, provocado pelas privatizações pós-soviéticas, e ainda permitiu que o país recuperasse sua antiga auto-estima. Seu índice de aprovação está hoje em torno de 70%. Mas seus adversários insistem no modo autoritário com que ele controla a política e a mídia, o que o transformou num personagem autoritário e imbatível.
O próximo presidente poderá ser Dmitri Medvedev ou Sergei Ivanov, ambos primeiros-ministros adjuntos, ou então Viktor Kubkov, que Putin há pouco nomeou como premiê.
Grigory Yavlinsky, líder do Yabloko, um dos partidos da oposição, disse que a decisão de Putin "recoloca a Rússia num regime de partido único".

Problema constitucional
Há problemas constitucionais delicados para que o atual presidente se eleja deputado e continue a chefiar o Estado até março. Mas o "New York Times" cita Maya Crishina, integrante da Comissão Central Eleitoral, para quem não há nisso inconveniente legal.
O administrador de um fundo de investimentos em Moscou, James Fenkner, disse que, como premiê, Putin passaria a ser o primeiro na linha da sucessão presidencial em caso de vacância no Kremlin. Um acordo poderia levá-lo a pedir que o futuro presidente renuncie, para, a partir de então, reeleger-se legalmente para dois novos mandatos presidenciais.
Para o ex-premiê Mikhail Kasyanov, hoje na oposição, "nada se altera, já que o primeiro-ministro se mudará para o Kremlin, e as pessoas continuarão a sentir quem manda de verdade, pouco importa o cargo formal que ele exerça".


Com agências internacionais


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