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Putin quer ser primeiro-ministro russo
Ele vai concorrer ao Parlamento e pretende chefiar o governo, já que não pode disputar terceiro mandato presidencial
Casa Branca diz que questão
é interna, e analistas crêem
até que Putin tenha o plano
de combinar renúncia com
sucessor e voltar ao Kremlin
Mikhail Metzel/Associated Press
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Sob símbolo do partido Rússia Unida, Putin discursa sobre eleição parlamentar de dezembro |
DA REDAÇÃO
Vladimir Putin, 55, o todo-poderoso presidente russo,
anunciou ontem a decisão de
encabeçar a chapa do partido
Rússia Unida nas eleições legislativas de 2 de dezembro. Também sinalizou a intenção de se
tornar primeiro-ministro.
Impedido pela Constituição
de concorrer a um terceiro
mandato presidencial, ele se
tornaria premiê e continuaria a
exercer o poder de maneira
centralizadora, tendo como sucessor no Kremlin algum político discreto, que lhe seja leal e
não ameace sua popularidade.
É ao menos essa a interpretação de boa parte dos especialistas, ontem pegos de surpresa
pelo discurso feito pelo presidente, em Moscou, no 8º Congresso do partido oficial.
"Precisaremos deixar de lado
o chavão de que o tsar da Rússia
é em verdade o presidente",
disse Gleb Pavlovsky, analista
próximo do Kremlin. Em outras palavras, o "tsar" também
pode ser o primeiro-ministro.
Em Washington, Dana Perino, uma das porta-vozes da Casa Branca, exortou as autoridades russas a promover eleições "livres e democráticas". Quanto à possibilidade de Putin se
tornar premiê, afirmou que a
questão deve ser decidida pelo
povo da Rússia.
Em seu discurso na convenção partidária, Putin disse que
os russos deverão eleger presidente "uma pessoa moderna,
decente e capaz" e que seja de
sua equipe. Em seguida, afirmou que, quanto a ocupar ele
próprio a chefia do governo,
"trata-se de uma sugestão bastante realista, embora seja muito cedo para levantá-la".
Seu segundo mandato presidencial expira em 2 de março
de 2008. Mas, antes da escolha
de seu sucessor, eleições parlamentares renovarão as 450 cadeiras da Duma, a Câmara.
50% das intenções
O Rússia Unida, que já controla aquela casa do Parlamento, encabeça amplamente as intenções de voto, com algo em torno de 50%. Os segundos colocados, que são os comunistas,
oscilam de 10% a 20%. O Rússia
Unida vai às urnas com o slogan
"Plano de Putin, Vitória para a
Rússia". É um partido incondicionalmente fechado com o
atual presidente.
Putin, que já foi primeiro-ministro, assumiu interinamente
a Presidência em 31 de dezembro de 1999, com a renúncia de
Boris Ieltsin. Elegeu-se para a
chefia de Estado em março do
ano seguinte, tendo sido amplamente reeleito em 2004.
Seus partidários afirmam
que, desde então, ele recuperou
a Rússia do caos econômico,
provocado pelas privatizações
pós-soviéticas, e ainda permitiu que o país recuperasse sua
antiga auto-estima. Seu índice
de aprovação está hoje em torno de 70%. Mas seus adversários insistem no modo autoritário com que ele controla a política e a mídia, o que o transformou num personagem autoritário e imbatível.
O próximo presidente poderá ser Dmitri Medvedev ou Sergei Ivanov, ambos primeiros-ministros adjuntos, ou então Viktor Kubkov, que Putin há
pouco nomeou como premiê.
Grigory Yavlinsky, líder do
Yabloko, um dos partidos da
oposição, disse que a decisão de
Putin "recoloca a Rússia num
regime de partido único".
Problema constitucional
Há problemas constitucionais delicados para que o atual
presidente se eleja deputado e
continue a chefiar o Estado até
março. Mas o "New York Times" cita Maya Crishina, integrante da Comissão Central
Eleitoral, para quem não há
nisso inconveniente legal.
O administrador de um fundo de investimentos em Moscou, James Fenkner, disse que,
como premiê, Putin passaria a
ser o primeiro na linha da sucessão presidencial em caso de
vacância no Kremlin. Um acordo poderia levá-lo a pedir que o
futuro presidente renuncie, para, a partir de então, reeleger-se
legalmente para dois novos
mandatos presidenciais.
Para o ex-premiê Mikhail
Kasyanov, hoje na oposição,
"nada se altera, já que o primeiro-ministro se mudará para o
Kremlin, e as pessoas continuarão a sentir quem manda de
verdade, pouco importa o cargo
formal que ele exerça".
Com agências internacionais
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