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Carta garantirá governabilidade, diz Rafael Correa
Presidente do Equador afirma que não acumulará poderes e aponta prerrogativa do Congresso de destituir presidente
Equatoriano mantém críticas à Odebrecht e diz que, quanto menos obras a empreiteira brasileira tiver, melhor para o seu país
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Fortalecido pela vitória no
referendo do último domingo
que ratificou a nova Constituição do país, o presidente do
Equador, Rafael Correa, defendeu a Carta e negou que esteja
promovendo um regime "hiperpresidencialista", com acúmulo de poderes. "[A Constituição] vai acabar com a falta de
governabilidade de que o país
vem sofrendo", disse. Os três
presidentes eleitos no Equador
antes de Correa não terminaram seus mandatos.
Em entrevista exclusiva à
Folha após um dia de reuniões
em Manaus com os presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva, Evo
Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela), o economista
de 45 anos disse que, embora
esteja agora autorizado a dissolver o Congresso, o Legislativo detém a mesma prerrogativa
quanto à Presidência. Em ambos os casos, argumentou, novas eleições têm de ser convocadas, no que é chamado de
"morte cruzada".
Correa afirmou ainda que
não irá "retroceder um passo"
na intervenção nas operações
da empreiteira brasileira Odebrecht no Equador. Seu governo embargou as operações da
empresa no país na semana
passada, sob acusação de falhas
na construção de uma hidrelétrica: "Quanto menos contratos
tiver a Odebrecht, melhor para
o país". Leia trechos da entrevista, concedida por Correa ao
lado de assessores, membros
do governo e técnicos que filmaram a conversa.
FOLHA - O que ocorreu com a Odebrecht no Equador?
RAFAEL CORREA - A Odebrecht
fez uma obra [hidrelétrica San
Francisco] com terríveis problemas. Em menos de um ano,
uma obra de mais de US$ 300
milhões e que deveria durar
mais de 30 anos ter deixado de
funcionar é responsabilidade
direta da empresa.
Estamos estudando um acordo por iniciativa da empresa [a
Odebrecht divulgou nota ontem à tarde dizendo que concordava com as exigências do
governo equatoriano]. Parece
que ela não entende que há um
novo governo no Equador, que
não pode ser subornado, pressionado. Não estamos negociando com a empresa, mas exigindo nossos direitos e não vamos retroceder nem um passo.
FOLHA - Como ficará o futuro da
Odebrecht no Equador? A empreiteira poderá participar de licitações,
como a do projeto Manta-Manaus?
CORREA - Depois do que temos
vivido, quanto menos contratos tiver a Odebrecht, melhor
para o país, porque começamos
a analisar outros contratos,
sempre lesivos ao interesse nacional [...], coisas inauditas que
só puderam ser feitas por ousadia da empresa, com cumplicidade de funcionários equatorianos corruptos. A Odebrecht
tem que entender que esse velho país acabou em 15 de março
de 2007 [data de sua posse].
FOLHA - A Petrobras recentemente
devolveu ao Equador o bloco de exploração de petróleo 31, após o sr.
aumentar a carga tributária das petroleiras. Essas mudanças não afugentarão investimentos externos?
CORREA - Qual será o papel do
Estado? O que sempre deveria
ter sido, de acordo com a Constituição atual e com a aprovada:
o petróleo é dos equatorianos, e
o que se fez foi um contrato de
participação, em que o Estado
era um sócio minoritário e sem
voz. Estamos renegociando rumo a contratos de prestação de
serviços, onde o dono do recurso é o Estado.
FOLHA - Sobre a Constituição, a
principal crítica é que ela garantiu
superpoderes ao sr., que poderá inclusive dissolver o Congresso. Por
que a inclusão desse artigo?
CORREA - Temo que a sra. tenha
má informação. A Constituição
não é hiperpresidencialista. Pelo contrário, prevê uma série de
controles ao presidente, devolve ao Congresso a atribuição de
destituir ministros de Estado.
Há apenas duas atribuições novas [do presidente]: planificação, capacidade que tinha antes
da Constituição de 1998 e que
foi destruída pelo neoliberalismo, e dissolver o Congresso.
Posso dissolver o Congresso
em caso de boicote ao plano de
desenvolvimento do país, mas
nesse momento tenho que colocar meu cargo à disposição do
povo equatoriano. O que não se
diz é que o Congresso também
pode destituir o presidente em
caso de grave comoção interna,
mas nesse momento se antecipam as eleições presidenciais e
legislativas. Isso é o que se chama de "morte cruzada", um instrumento moderno para promover a governabilidade.
Na história recente do Equador, a todo momento o Congresso destituiu presidentes,
declarando-os loucos por conveniência política, porque nada
acontecia ao Congresso. Com
essa possibilidade de destituir o
Congresso uma única vez, se
elimina essa fonte de boicote, e
acabará a falta de governabilidade de que o país vem sofrendo nos últimos anos.
FOLHA - E quais são os planos do sr.
sobre uma futura reeleição, que lhe
permitiria ficar no poder até 2017?
CORREA - Não penso nisso. Isso
será uma decisão do partido ao
qual pertenço.
FOLHA - Está superada pelo seu governo a questão com o governo da
Colômbia [que em março invadiu o
território equatoriano para atacar
uma base das Farc]?
CORREA - De nenhuma maneira. Nossas relações estão cortadas porque, entre outras coisas,
a Colômbia tem informações
de gravações do bombardeio e
nada nos informou. Esse caso
nunca será superado porque há
uma clara agressão deliberada e
desleal ao território equatoriano por parte de um país que
consideramos irmão, porém
tem um governo [Álvaro Uribe]
que não consideramos amigo.
Temos que seguir com dignidade e isso implica, entre outras coisas, que a Colômbia entregue todas as informações de
como se realizou esse ataque e
que compense ao menos a vítima equatoriana desse ataque.
FOLHA - O presidente Lula disse
que está tranqüilo com a crise nos
EUA, mas a vê com apreensão. A crise atingirá o Equador?
CORREA - O efeito efeito dependerá da resposta que os EUA
derem à crise. Em todo caso, a
América Latina tem que se preparar para não depender do
que acontece nos EUA.
Colaborou FABIANO MAISONNAVE
Leia a íntegra da
entrevista www.folha.com.br/082752
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