São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Oposição suspende diálogo com Morales

Governadores acusam governo da Bolívia de "caçar" líderes dos protestos após prisão de suspeito de atacar gasoduto

Paralisação "temporária" ameaça negociação travada pela discordância em torno do texto constitucional, pendente de referendos

DA REDAÇÃO

Os governadores de oposição na Bolívia anunciaram ontem a suspensão "temporária" da rodada de negociações com o presidente Evo Morales porque consideram que o governo promove uma "caça" aos líderes dos protestos que sacudiram o país nas últimas semanas.
O anúncio foi feito pelo governador de Tarija, Mario Cossío, porta-voz dos cinco departamentos rebeldes. "Está nas mãos do presidente", disse ele.
A decisão dos opositores reagiu à prisão, anteontem, de José Vaca, um ativo participante dos protestos na região gasífera do Chaco (sul), sob acusação de envolvimento no ataque ao duto que transporta o gás ao Brasil, em 10 de setembro. Uma das válvulas foi danificada, provocando queda de 10% no envio do combustível.
Cossío diz que a prisão é mais um desrespeito ao pré-acordo assinado para iniciar o diálogo. O texto fala de "não promover ações judiciais que tenham conotação política".
Para o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, não há "argumento razoável" para a suspensão. Afirmou -como Morales, que jamais se comprometeu com o documento do pré-acordo-, que é "inegociável" o julgamento dos responsáveis pelos danos e "atos terroristas" em três semanas de protestos, que incluíram bloqueios rodoviários, invasão de aeroportos, prédios públicos e infra-estruturas energéticas.
A suspensão ocorre num momento delicado das negociações iniciadas no último dia 18, com a participação de observadores internacionais, após a fase mais aguda da crise até agora. Em Pando (norte), ao menos 15 correligionários de Morales foram mortos. O presidente teve reuniões nos últimos dias com governadores para costurar um acordo a ser anunciado no domingo. A divergência maior -o quanto mudar no texto constitucional- segue.
Mesmo antes da prisão de José Vaca -cujos relatos ainda são nebulosos-, os opositores já reclamavam da beligerância do governo, mas seguiam negociando. Segundo uma fonte do entorno do governo de Santa Cruz, bastião opositor, a avaliação é a de que vale a pena tentar um acordo mesmo que pontual, com respaldo internacional, porque esperam uma investida do governo, com ou sem acordo, para aprovar no Congresso os referendos que faltam da Constituição, com pressão dos movimentos sociais e nova onda de protestos das alas radicais opositoras.
A prisão de Vaca espalhou temor. Poderia ser o começo de uma ofensiva que abarcaria outros líderes opositores. Eduardo Pérez, do conselho de segurança cidadã de Villamontes, disse à Folha que Vaca foi "seqüestrado" por homens encapuzados na tarde de terça-feira e levado a La Paz. Outras três pessoas foram detidas, mas logo liberadas. O governo disse ontem que a prisão cumpriu os requisitos legais.
(FLÁVIA MARREIRO)


Texto Anterior: Odebrecht confirma acordo, mas Quito ainda retém funcionários
Próximo Texto: Argentina diz que caso da mala não vai ficar impune
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.