|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Oposição suspende diálogo com Morales
Governadores acusam governo da Bolívia de "caçar" líderes dos protestos após prisão de suspeito de atacar gasoduto
Paralisação "temporária"
ameaça negociação travada
pela discordância em torno
do texto constitucional,
pendente de referendos
DA REDAÇÃO
Os governadores de oposição
na Bolívia anunciaram ontem a
suspensão "temporária" da rodada de negociações com o presidente Evo Morales porque
consideram que o governo promove uma "caça" aos líderes
dos protestos que sacudiram o
país nas últimas semanas.
O anúncio foi feito pelo governador de Tarija, Mario Cossío, porta-voz dos cinco departamentos rebeldes. "Está nas
mãos do presidente", disse ele.
A decisão dos opositores reagiu à prisão, anteontem, de José Vaca, um ativo participante
dos protestos na região gasífera
do Chaco (sul), sob acusação de
envolvimento no ataque ao duto que transporta o gás ao Brasil, em 10 de setembro. Uma das
válvulas foi danificada, provocando queda de 10% no envio
do combustível.
Cossío diz que a prisão é mais
um desrespeito ao pré-acordo
assinado para iniciar o diálogo.
O texto fala de "não promover
ações judiciais que tenham conotação política".
Para o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, não
há "argumento razoável" para a
suspensão. Afirmou -como
Morales, que jamais se comprometeu com o documento do
pré-acordo-, que é "inegociável" o julgamento dos responsáveis pelos danos e "atos terroristas" em três semanas de
protestos, que incluíram bloqueios rodoviários, invasão de
aeroportos, prédios públicos e
infra-estruturas energéticas.
A suspensão ocorre num momento delicado das negociações iniciadas no último dia 18,
com a participação de observadores internacionais, após a fase mais aguda da crise até agora. Em Pando (norte), ao menos
15 correligionários de Morales
foram mortos. O presidente teve reuniões nos últimos dias
com governadores para costurar um acordo a ser anunciado
no domingo. A divergência
maior -o quanto mudar no
texto constitucional- segue.
Mesmo antes da prisão de
José Vaca -cujos relatos ainda
são nebulosos-, os opositores
já reclamavam da beligerância
do governo, mas seguiam negociando. Segundo uma fonte do
entorno do governo de Santa
Cruz, bastião opositor, a avaliação é a de que vale a pena tentar
um acordo mesmo que pontual,
com respaldo internacional,
porque esperam uma investida
do governo, com ou sem acordo, para aprovar no Congresso
os referendos que faltam da
Constituição, com pressão dos
movimentos sociais e nova onda de protestos das alas radicais
opositoras.
A prisão de Vaca espalhou temor. Poderia ser o começo de
uma ofensiva que abarcaria outros líderes opositores. Eduardo Pérez, do conselho de segurança cidadã de Villamontes,
disse à Folha que Vaca foi "seqüestrado" por homens encapuzados na tarde de terça-feira
e levado a La Paz. Outras três
pessoas foram detidas, mas logo liberadas. O governo disse
ontem que a prisão cumpriu os
requisitos legais.
(FLÁVIA MARREIRO)
Texto Anterior: Odebrecht confirma acordo, mas Quito ainda retém funcionários Próximo Texto: Argentina diz que caso da mala não vai ficar impune Índice
|