São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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Potências e Irã sinalizam distensão nuclear

Em encontro, grupo negociador e país acertam continuar diálogo neste mês e inspeção da recém-revelada usina de Qom

EUA ressaltam diálogo, mas reiteram prazo para "passos concretos'; Irã, "a princípio", aceita enriquecer urânio no exterior, garante diplomata


DA REDAÇÃO

A primeira negociação oficial entre EUA e Irã em três décadas, no encontro do chamado P5+1 em Genebra, acabou ontem com Teerã se comprometendo a abrir a inspeções internacionais a recém-revelada usina nuclear de Qom, além de participantes acertando outra reunião até o final de outubro.
Os acenos conciliatórios de parte a parte amenizam a escalada de tensões em torno do programa nuclear do Irã, que culminou com a acusação das potências ocidentais na semana passada de que o país omitiu da AIEA (a Agência Internacional de Energia Atômica) a construção da sua segunda central de enriquecimento de urânio.
"Deixamos claro que faremos a nossa parte para engajar o Irã [no diálogo nuclear] na base do interesse e do respeito mútuos, mas a nossa paciência não é ilimitada", alertou depois o presidente dos EUA, Barack Obama. "Começamos um bom diálogo nas negociações de hoje", disse o negociador-chefe para questões nucleares iraniano, Saeed Jalili. "Temos pontos em comum sobre os quais trataremos nos próximos encontros."
O P5+1 é integrado pelos cinco países-membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, França, Reino Unido, China e Rússia) e a Alemanha e lidera esforços de diálogo com o Irã desde 2006. O último encontro, há 15 meses, havia terminado em impasse. Os EUA -que só anunciaram a participação direta no diálogo multilateral já sob Obama- foram representados por William Burns, subsecretário de Estado para Assuntos Políticos. Ele e Jalili tiveram reunião a sós.
Após a reunião do P5+1, a AIEA, ligada à ONU, anunciou para os próximos dias a visita de seu secretário-geral, Mohamed El Baradei, a Teerã, a primeira desde janeiro de 2008. O chefe da diplomacia da UE (União Europeia), Javier Solana, que integrou a delegação ocidental, disse esperar do governo iraniano "completa cooperação" na busca por informações da usina nuclear de Qom, o que o Irã já garantira que fará.
O governo iraniano também já havia afirmado, porém, que não está em questão o seu programa de enriquecimento de urânio e não deu mostras ontem de que recuará da posição. As potências ocidentais suspeitam que o programa nuclear iraniano vise a obtenção de uma bomba. Mas Teerã nega e garante que ele é voltado a fins civis, o que é permitido ao Irã pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear, desde que em cooperação com a AIEA.
Na última sexta, ao acusar em tom duro o Irã de esconder por anos a construção da central de enriquecimento de urânio em Qom, os líderes de EUA, França e Reino Unido ameaçaram aplicar uma quarta rodada de sanções contra o país. "O governo iraniano ouviu a clara e unificada mensagem da comunidade internacional e deve demonstrar por meio de passos concretos que irá cumprir com sua responsabilidade em relação ao seu programa nuclear", disse ontem Obama.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que o encontro do P5+1 com o Irã "abriu a porta, mas vamos esperar para ver o que acontece". Solana disse ainda que o Irã aceitou "a princípio" enriquecer urânio no exterior, provavelmente na Rússia, a fim de aplacar suspeitas sobre a finalidade do combustível nuclear. Para Obama, a medida seria "um passo no sentido da construção da confiança" bilateral.

Nível mais elevado
Ao assumir a Casa Branca e anunciar a intenção de engajar os EUA em negociações com o Irã, Obama estipulara setembro como prazo para que Teerã mostrasse reciprocidade. Agora, a data-limite imposta pelo Ocidente para os "passos concretos" do país é o fim do ano.
Em nova York, o chanceler do Irã, Manouchehr Mottaki, disse ontem que o país está pronto para discussões em nível mais elevado, de cúpula, o que poderia significar conversas entre Obama e o colega iraniano Mahmoud Ahmadinejad. "O Irã tem a prontidão para aumentar o nível das conversas", disse na sede da ONU.
Mottaki negou que o país tenha outras instalações nucleares em construção além da de Qom. "Qualquer atividade nuclear que o Irã tem já foi comunicada à AIEA e o único caso em construção é Qom."

Com JANAINA LAGE, de Nova York, e agências internacionais



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