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Potências e Irã sinalizam distensão nuclear
Em encontro, grupo negociador e país acertam continuar diálogo neste mês e inspeção da recém-revelada usina de Qom
EUA ressaltam diálogo, mas reiteram prazo para "passos concretos'; Irã, "a princípio", aceita enriquecer urânio no exterior, garante diplomata
DA REDAÇÃO
A primeira negociação oficial
entre EUA e Irã em três décadas, no encontro do chamado
P5+1 em Genebra, acabou ontem com Teerã se comprometendo a abrir a inspeções internacionais a recém-revelada
usina nuclear de Qom, além de
participantes acertando outra
reunião até o final de outubro.
Os acenos conciliatórios de
parte a parte amenizam a escalada de tensões em torno do
programa nuclear do Irã, que
culminou com a acusação das
potências ocidentais na semana passada de que o país omitiu
da AIEA (a Agência Internacional de Energia Atômica) a construção da sua segunda central
de enriquecimento de urânio.
"Deixamos claro que faremos
a nossa parte para engajar o Irã
[no diálogo nuclear] na base do
interesse e do respeito mútuos,
mas a nossa paciência não é ilimitada", alertou depois o presidente dos EUA, Barack Obama.
"Começamos um bom diálogo nas negociações de hoje",
disse o negociador-chefe para
questões nucleares iraniano,
Saeed Jalili. "Temos pontos em
comum sobre os quais trataremos nos próximos encontros."
O P5+1 é integrado pelos cinco países-membros permanentes do Conselho de Segurança
da ONU (EUA, França, Reino
Unido, China e Rússia) e a Alemanha e lidera esforços de diálogo com o Irã desde 2006. O
último encontro, há 15 meses,
havia terminado em impasse.
Os EUA -que só anunciaram
a participação direta no diálogo
multilateral já sob Obama- foram representados por William
Burns, subsecretário de Estado
para Assuntos Políticos. Ele e
Jalili tiveram reunião a sós.
Após a reunião do P5+1, a
AIEA, ligada à ONU, anunciou
para os próximos dias a visita
de seu secretário-geral, Mohamed El Baradei, a Teerã, a primeira desde janeiro de 2008.
O chefe da diplomacia da UE
(União Europeia), Javier Solana, que integrou a delegação
ocidental, disse esperar do governo iraniano "completa cooperação" na busca por informações da usina nuclear de Qom, o
que o Irã já garantira que fará.
O governo iraniano também
já havia afirmado, porém, que
não está em questão o seu programa de enriquecimento de
urânio e não deu mostras ontem de que recuará da posição.
As potências ocidentais suspeitam que o programa nuclear
iraniano vise a obtenção de
uma bomba. Mas Teerã nega e
garante que ele é voltado a fins
civis, o que é permitido ao Irã
pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear, desde que em cooperação com a AIEA.
Na última sexta, ao acusar
em tom duro o Irã de esconder
por anos a construção da central de enriquecimento de urânio em Qom, os líderes de EUA,
França e Reino Unido ameaçaram aplicar uma quarta rodada
de sanções contra o país.
"O governo iraniano ouviu a
clara e unificada mensagem da
comunidade internacional e
deve demonstrar por meio de
passos concretos que irá cumprir com sua responsabilidade
em relação ao seu programa
nuclear", disse ontem Obama.
A secretária de Estado dos
EUA, Hillary Clinton, disse que
o encontro do P5+1 com o Irã
"abriu a porta, mas vamos esperar para ver o que acontece".
Solana disse ainda que o Irã
aceitou "a princípio" enriquecer urânio no exterior, provavelmente na Rússia, a fim de
aplacar suspeitas sobre a finalidade do combustível nuclear.
Para Obama, a medida seria
"um passo no sentido da construção da confiança" bilateral.
Nível mais elevado
Ao assumir a Casa Branca e
anunciar a intenção de engajar
os EUA em negociações com o
Irã, Obama estipulara setembro como prazo para que Teerã
mostrasse reciprocidade. Agora, a data-limite imposta pelo
Ocidente para os "passos concretos" do país é o fim do ano.
Em nova York, o chanceler
do Irã, Manouchehr Mottaki,
disse ontem que o país está
pronto para discussões em nível mais elevado, de cúpula, o
que poderia significar conversas entre Obama e o colega iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
"O Irã tem a prontidão para
aumentar o nível das conversas", disse na sede da ONU.
Mottaki negou que o país tenha
outras instalações nucleares
em construção além da de
Qom. "Qualquer atividade nuclear que o Irã tem já foi comunicada à AIEA e o único caso
em construção é Qom."
Com JANAINA LAGE, de Nova York, e agências internacionais
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