São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

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Correa reage e promete "depurar" polícia

De volta ao palácio, presidente do Equador reafirma ter sofrido tentativa de golpe e diz que não haverá perdão

Comandante da polícia renuncia após revolta; governo rejeita recuar em lei que detonou os protestos pelo país

Guillermo Granja/Reuters
Presidente equatoriano Rafael Correa discursa no palácio de governo, após ser resgatado do hospital onde permaneceu 12 horas sob sítio de rebeldes

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A QUITO

O presidente Rafael Correa retomou ontem o controle do Equador, reafirmou ter sido alvo de uma tentativa de golpe e de assassinato e prometeu uma "profunda depuração na Polícia Nacional".
Na noite anterior, ele saiu sob tiros do hospital onde ficou 12 horas, dizendo-se sitiado por policiais rebeldes.
Foi "resgatado" pelo GOE (Grupo de Operações Especiais), uma tropa de elite da polícia que se manteve fiel.
Os rebeldes protestavam contra uma reforma que diminui alguns benefícios.
Anteontem, barricadas foram erguidas na capital Quito e outras cidades, e Correa foi atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo. A situação, apesar de ainda tensa, estava mais calma ontem.
O resgate do presidente deixou rastro de mal-estar que sinaliza que a crise entre governo e policiais e entre as próprias forças de segurança do país ainda não acabou.
Dois policiais morreram e dois estão gravemente feridos, internados na UTI do hospital visitado ontem pela Folha -além de três mortos no restante do país.
A morte dos policiais foi o resultado do enfrentamento entre militares, policiais rebeldes e leais ao presidente durante cerca de uma hora.
Na sala contígua ao pequeno quarto do hospital onde Correa se internou é possível ver o buraco de um tiro.

FERIDA ABERTA
Enquanto o presidente fala em expurgar a polícia dos que promoveram a sublevação - "nem esquecimento nem perdão", bradou- um dos policiais que o salvaram mostra desconforto.
"Ficou uma ferida aberta. Pessoalmente, estou completamente em desacordo pela forma como utilizaram as armas", diz o major Cristian Miño, 36, que participou da operação de resgate.
Miño teve de enfrentar seus próprios companheiros de força para conseguir tirar Correa do hospital.
Quando o carro com o presidente a salvo partiu, disse ele, seus homens foram atacados. "Foi a situação mais difícil da minha vida."
Ontem, o chefe da Polícia Nacional, Freddy Martínez, assumiu a responsabilidade pelos protestos, embora não os tenha apoiado.
Agora, especula-se que Correa, em dificuldade política, lance ofensiva para capitalizar a suposta tentativa de golpe e destitua a Assembleia Nacional.
Isso lhe permitiria governar, mediante decreto, até a realização de um novo pleito presidencial e legislativo.
A manobra, que está prevista na Constituição com o nome de "morte cruzada", precisaria, porém, ser aprovada pela Corte de Justiça.


Com agências de notícias


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