São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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Deixando a tensão de lado, Bush se diverte

Kevin Lamarque/Reuters
Republicana durante ato da campanha de Bush, em Milwaukee


RICHARD W. STEVENSON
DO "NEW YORK TIMES", NA FLÓRIDA

Um dos melhores indicativos do estado de ânimo do presidente George W. Bush, dizem seus assessores, é até que ponto ele se deixa levar por seu humor juvenil e impaciência entusiasmada. Assim, disseram eles, foi revelador o fato de que, enquanto atravessou o país, nos últimos dias, aguardando para saber como a nação vai julgar sua atuação, o candidato que sempre promete proteger a honra e dignidade da Presidência fez questão de fazer palhaçadas a bordo do avião presidencial.
No sábado, Bush foi flagrado perto da cabine girando os braços como um samurai com sua espada. Se a pose deixou alguns de seus assessores sem saber o que pensar, também lhes mostrou que Bush não apenas sente confiança em relação ao resultado da eleição, mas também está se divertindo para valer nas últimas e mais frenéticas e exaustivas etapas da corrida.
"Dois dias atrás ele se virou para mim e perguntou: "Você acha que John Kerry também está se divertindo?'", contou Karen Hughes, assessora de comunicação de Bush e confidente de longa data. "Fiquei meio surpresa, perguntei: "Como assim?" E ele respondeu: "Bom, é que eu, pelo menos, estou me divertindo para valer"."
"Bush se sente energizado pelas pessoas. Estamos cansados, todo o mundo está cansado, a gente vem trabalhando muitas horas por dia. Mas todos nós também nos sentimos cheios de energia."
Quer seja calculado ou real, o otimismo brincalhão de Bush já virou parte de sua campanha, enquanto ele se aproxima do dia da eleição numa posição estressante que nenhum presidente em exercício, candidato à reeleição, enfrenta desde pelo menos 1948: enfrentando sondagens de intenção de voto que não dão nenhum indicativo claro sobre se, quando ele acordar na Casa Branca na manhã de quarta-feira, ele terá sido recontratado, demitido ou largado no limbo da recontagem de votos.
Sejam quais forem as tensões que o presidente possa estar sentindo, ele não revela nenhuma em público, sem dúvida, como dizem seus assessores, ciente de que a menor falha em sua fachada poderia jogar um balde de água fria no ardor de seus partidários e das centenas de milhares de voluntários que ele está convocando.
Mas, com a Presidência em jogo, até mesmo alguns dos familiares de Bush admitem que a tensão atingiu níveis extraordinários e dizem que o presidente pode não estar tão tranqüilo quanto se esforça para aparentar.
Alguns dias atrás, sua mãe, Barbara Bush, fez um discurso em que afirmou que os últimos dias da corrida presidencial serão terríveis para ela. "Pretendo sofrer um colapso nervoso", disse, segundo comentários ao "The Cleveland Plain Dealer".
Aos 58 anos de idade, Bush se orgulha de sua boa forma física. Embora não possa mais correr com freqüência em função de seus joelhos fracos e embora o cronograma da campanha o tenha privado de seu novo tipo favorito de exercício, longos percursos feitos de mountain bike, quando está na estrada ele costuma se exercitar com a ajuda de um personal trainer.
A jornada vem sendo longa para Bush e seus principais assessores. O presidente começou a percorrer o país para levantar fundos na metade do ano passado.
Ele vem criticando Kerry desde fevereiro, praticamente desde o instante em que se tornou o principal candidato à indicação pelo Partido Democrata.
Bush vem enfrentando uma sucessão de más notícias vindas do Iraque, uma economia que em nenhum momento conseguiu gerar empregos ao ritmo que ele prometeu e, além disso, sua própria performance desigual nos debates.
Aconteça o que acontecer, disse Karen Hughes, Bush já disse a ela que estará em paz. Mas suas previsões sobre os resultados, ela afirmou, não deixam muito espaço para uma derrota. "Bush é competitivo. Ele quer continuar na Presidência."

Tradução de Clara Allain


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