São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2005

Próximo Texto | Índice

EUA

Sob intensas críticas de inoperância do governo, presidente faz anúncio de investimentos para conter possível pandemia

Bush anuncia US$ 7 bi contra gripe aviária

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Escaldado pelas crescentes críticas sobre a inaptidão de seu governo, o presidente americano, George W. Bush, anunciou ontem a injeção de US$ 7,1 bilhões (R$ 16,2 bilhões) para a prevenção da gripe aviária no país. Desse montante, US$ 2,8 bilhões serão destinados à pesquisa de novas vacinas contra futuras ameaças de epidemia de gripe.
"Ao fazer sábios investimentos em tecnologia e quebrando barreiras na produção de vacinas, trabalhamos em direção a uma meta clara: na eventualidade de uma epidemia precisamos ter vacinas suficientes para cada americano", disse Bush.
Em uma cerimônia preparada por sua assessoria, Bush fez um discurso ressaltando a necessidade de a população americana estar preparada, uma vez que o vírus H5N1 da gripe aviária -a variação mortal- ainda não é transmitido entre seres humanos. Mas especialistas afirmam que o vírus pode sofrer mutação. A doença já matou mais de 60 pessoas na Ásia desde 2003.
"Cientistas e doutores não conseguem nos dizer onde ou quando uma nova epidemia vai atacar, ou quão severa vai ser. Mas a maioria concorda: em algum momento provavelmente vamos enfrentar outra epidemia", afirmou.
A estratégia de resposta dos EUA contra epidemias de gripe começou a ser delineada há alguns anos. No ano passado, um rascunho do programa foi divulgado pelo Instituto Nacional de Saúde, mas muitos críticos observavam a demora da gestão Bush em finalizar o plano, algo que o Reino Unidos já fez.
Diferentemente do Brasil, onde o governo anunciou um programa emergencial contra a gripe aviária, o plano americano estabelece as diretrizes de prevenção contra qualquer epidemia de gripe. Baseia-se em três linhas: 1) monitorar e conter focos em qualquer país do mundo; 2) estocar e produzir vacinas e drogas antivirais; e 3) preparar autoridades municipais, estaduais e federais para responder à chegada de uma epidemia nos EUA.
Os recursos anunciados ontem por Bush seguem essas diretrizes. Dos US$ 7,1 bilhões, US$ 251 milhões estão programados para detecção de focos em outros países, US$ 2,8 bilhões serão usadas para melhorar a tecnologia de cultura de células, US$ 800 milhões vão para o desenvolvimento de novos tratamentos e vacinas, US$ 1,52 bilhão serão usados para a compra de vacinas e outro US$ 1,03 bilhão, no estoque de medicamentos antivirais. Por fim, o governo repassará US$ 644 milhões a agências locais e estaduais como verba para preparação contra possíveis epidemias.
Segundo o governo americano, os valores destinados a vacinas serão suficientes para montagem de um estoque de 20 milhões de doses, o que equivale a quase 10% dos cerca de 265,5 milhões de habitantes do país. Para atingir o objetivo, Bush pedirá ao Congresso para derrubar leis que permitem aos consumidores processar a indústria farmacêutica quando os medicamentos não dão resultado.
De início, os EUA comprarão vacinas contra a variação H5N1 da gripe aviária, mesmo sob os alertas de sua constante mutação. O medicamento escolhido foi o Tamiflu, da suíça Roche, que obteve uma licença para produzir o remédio nos EUA. Na semana passada, a companhia havia anunciado a suspensão das vendas do Tamiflu ao setor privado.
Bush afirmou que, mesmo se o vírus se transmutar, as vacinas irão ao menos oferecer algum alívio aos que se contaminarem. Para evitar a disseminação da doença, o governo quer também implementar uma rede nacional de vigilância sanitária, que facilitará a troca de informações entre os órgãos envolvidos.


Próximo Texto: Cientistas dizem poder fazer vacina em menos tempo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.