São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2007

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análise

Ação reacende sentimento antieuropeu

CLARA FAGUNDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O repúdio ao tráfico de crianças reabriu as feridas do colonialismo e da escravidão na África subsaariana. Inimigos se unem contra o que jornais locais chamam de "negreiros voadores contemporâneos" e especulam juntos sobre tráfico de órgãos e pedofilia.
Habitantes de uma terra desértica, 171ª em desenvolvimento humano dentre os 177 países pesquisados pela ONU, com uma renda per capita de US$ 302, os chadianos protestam contra o humanitarismo eurocêntrico da ONG francesa.
A mágoa ecoa em protestos dos islâmicos sudaneses, os mesmos criticados como algozes de Darfur, na agora relativamente estável República do Congo, em todos os cantos da África negra. Cada grupo político colherá como puder os frutos da indignação popular.
Na análise do francês "Le Monde", a retórica antiocidental favorece o presidente do Chade. Desgastado pela situação econômica e pela chegada de uma missão militar da União Européia que não pediu, Idriss Deby tenta catapultar sua popularidade no rastro do sentimento antifrancês. A Arca de Zoé deu a ele uma arma política poderosa para tentar ditar os termos da missão da UE que tentará atuar como tampão entre o leste do país e o conflito vizinho em Darfur.
A missão, proposta por Paris, foi aprovada sob críticas da Líbia -fornecedor de armas que Deby não quer desagradar. Até porque a estabilidade do Chade, que sob o governo centralizador de Deby pôs fim a três décadas de guerra civil semicontínua, é apenas relativa. Um bom relacionamento com o vizinho do norte é estratégico.
Rebeldes de Darfur recrutam militantes no Chade e têm relação estreita com militares chadianos. O Sudão, por sua vez, oferece asilo a opositores do país vizinho.
Mas Deby chegou ao poder, em 1990, com apoio de Líbia, França e Sudão. Manter sob controle esse intricado tabuleiro das forças que o sustentam é vital para o presidente chadiano. Uma paz "européia", que favoreça os rebeldes de Darfur contra o regime islâmico do Sudão, não é, necessariamente, o que desejam os governantes africanos.


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