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análise
Ação reacende sentimento antieuropeu
CLARA FAGUNDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O repúdio ao tráfico de
crianças reabriu as feridas do
colonialismo e da escravidão
na África subsaariana. Inimigos se unem contra o que jornais locais chamam de "negreiros voadores contemporâneos" e especulam juntos
sobre tráfico de órgãos e pedofilia.
Habitantes de uma terra
desértica, 171ª em desenvolvimento humano dentre os
177 países pesquisados pela
ONU, com uma renda per capita de US$ 302, os chadianos protestam contra o humanitarismo eurocêntrico
da ONG francesa.
A mágoa ecoa em protestos dos islâmicos sudaneses,
os mesmos criticados como
algozes de Darfur, na agora
relativamente estável República do Congo, em todos os
cantos da África negra. Cada
grupo político colherá como
puder os frutos da indignação popular.
Na análise do francês "Le
Monde", a retórica antiocidental favorece o presidente
do Chade. Desgastado pela
situação econômica e pela
chegada de uma missão militar da União Européia que
não pediu, Idriss Deby tenta
catapultar sua popularidade
no rastro do sentimento antifrancês. A Arca de Zoé deu a
ele uma arma política poderosa para tentar ditar os termos da missão da UE que
tentará atuar como tampão
entre o leste do país e o conflito vizinho em Darfur.
A missão, proposta por Paris, foi aprovada sob críticas
da Líbia -fornecedor de armas que Deby não quer desagradar. Até porque a estabilidade do Chade, que sob o governo centralizador de Deby
pôs fim a três décadas de
guerra civil semicontínua, é
apenas relativa. Um bom relacionamento com o vizinho
do norte é estratégico.
Rebeldes de Darfur recrutam militantes no Chade e
têm relação estreita com militares chadianos. O Sudão,
por sua vez, oferece asilo a
opositores do país vizinho.
Mas Deby chegou ao poder, em 1990, com apoio de
Líbia, França e Sudão. Manter sob controle esse intricado tabuleiro das forças que o
sustentam é vital para o presidente chadiano. Uma paz
"européia", que favoreça os
rebeldes de Darfur contra o
regime islâmico do Sudão,
não é, necessariamente, o
que desejam os governantes
africanos.
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