São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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Crise financeira dá fôlego a líderes europeus em baixa

Ações rápidas para resgatar bancos melhoram imagem de governantes como Merkel, Berlusconi, Brown e Sarkozy

Antes com apoio em queda, alemã e italiano passam a ser bem vistos, enquanto britânico e francês reduzem rejeição; só Zapatero vai mal

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise econômica e financeira favoreceu governantes europeus que atravessavam momentos críticos em seus índices de aprovação. Há uma lógica nisso. Como a tentativa de apagar o incêndio consistiu numa violenta intervenção do Estado, presidentes e primeiros-ministros foram recompensados como bombeiros eficientes.
Peguemos o exemplo de Nicolas Sarkozy, que registrava um constante declínio em sua aprovação. Pesquisa do instituto Ifop publicada pelo "Journal du Dimanche" deu a ele seis pontos a mais de taxa de confiança. Chegou a 43%. Os que o desaprovam são ainda maioria, 56%, mas somavam 62% em setembro.
Ele aprovou um pacote de US$ 450 bilhões para socorrer bancos e pequenas empresas endividadas. E anunciou um plano para criar 100 mil novos empregos subsidiados pelo Estado -que passará a cobrir parte dos encargos patronais.
O presidente francês exerce a presidência rotativa da União Européia. Conseguiu em agosto negociar um cessar-fogo na Geórgia e, em seguida, uma solução para reverter os resultados do referendo na Irlanda, que rejeitou o Tratado de Lisboa, espécie de lei orgânica do bloco de 27 países.
Mas eram questões menos excitantes. Sarkozy só voltou a crescer quando os franceses perceberam que ele se mexeu para diminuir os efeitos da crise mundial no orçamento das famílias. Viajou aos Estados Unidos para discutir a economia, em nome da Europa, com o presidente George W. Bush. E presidiu um Conselho Europeu, reunião semestral dos governantes do bloco, em que a crise encabeçava a agenda.

Nova chance a Brown
Outro beneficiado foi o premiê britânico, Gordon Brown. Se a Câmara dos Comuns fosse hoje renovada, seus adversários do Partido Conservador formariam o novo governo. Mas a diferença entre conservadores e trabalhistas caiu de 19 para 8 pontos.
Brown, que foi ministro das Finanças de seu antecessor, Tony Blair, deixou de lado o dogma do equilíbrio fiscal (haverá um aumento extraordinário nos gastos com habitação e defesa) e, junto a Alastair Darling, ministro das Finanças, e Mervyn King, governador do Banco da Inglaterra, o BC britânico, cortou juros e montou um pacote que pode chegar a US$ 870 bilhões em favor do setor financeiro. E ainda estatizou parcialmente três bancos, o Royal Bank of Scotland, o Lloyds TSB e o HBOS.
A Alemanha tem eleições legislativas marcadas para setembro de 2009. Angela Merkel e o bloco conservador que ela lidera (União dos Democratas-Cristãos e União Social Cristã) tinham no início de setembro 48% das intenções de voto, que subiram cinco pontos, a 53%. Em termos de aprovação pessoal ela foi de 63% a 69%. É a favorita diante de Frank-Walter Steinmeier, ministro das Relações Exteriores e candidato do SPD (Partido Social Democrata) ao governo.
A chanceler, disse à agência Bloomberg o encarregado de um instituto de pesquisas, Manfred Guellner, convenceu facilmente os alemães de que, ao auxiliar os bancos, o governo defendia os interesses concretos dos cidadãos. "Era exatamente o que as pessoas queriam ouvir", segundo Guellner.
O pacote financeiro de Merkel é de US$ 643 bilhões. É dinheiro federal e dos Estados, cujos governantes se revoltaram, mas acabarão pagando a sua parcela.
Silvio Berlusconi, na Itália, teve sua aprovação aumentada em sete pontos em três meses e foi a 62%, segundo a IPR Marketing, que faz pesquisa para o "La Repubblica". Passou por um mobilizador, ao propor um fundo conjunto europeu (a idéia não pegou), ao prometer que nenhum italiano perderia dinheiro na poupança e ao destinar 20 bilhões aos bancos.
Na Espanha, o premiê socialista José Luiz Rodríguez Zapatero deixou a oposição de direita desconcertada com o plano de gastar de 10 bilhões a 30 bilhões na compra de ativos bancários. Mas ele não está bem nas pesquisas. É aprovado por 38,9% dos espanhóis e empataria em pouco mais de 39% com os conservadores em caso de eleições antecipadas.
A crise beneficiou o governo até na pequena Bélgica, onde o premiê Yves Leterme, um cristão-democrata flamengo, tem agora o apoio de 63% de seus compatriotas de língua francesa -com os quais tinha uma relação conflitiva.
Leterme socorreu o banco Dexia e pilotou a transferência de outro banco, o Fortis, para o controle do BNP-Paribas. Os dois estavam quebrados.


Com agências internacionais


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