São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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Ativistas

Geração do Milênio descobre política

Sérgio Dávila, em Fairfax (Virgínia)


Jovens deram impulso à campanha de Obama, mas dúvida é se comparecerão às urnas

"Sabe como você chama o candidato que depende do voto jovem para vencer?". Quem pergunta ao repórter da Folha é uma espécie rara: um jovem e republicano, do mesmo do partido do senador John McCain e do presidente George W. Bush. "Não sabe? Você chama de perdedor."
David Skiles tem 21 anos e é o diretor do escritório de campanha da dupla John McCain-Sarah Palin em Fairfaix, no norte rico do Estado da Virgínia, que os democratas tentam "roubar" dos republicanos nesta terça. Acaba de citar uma conhecida frase do estrategista político democrata James Carville, ex-assessor de Bill Clinton (1993-2001) e autor de outra expressão já puída de tanto uso: "É a economia, estúpido".
Carville e, agora, Skiles se referem ao fato de que o voto jovem é pouco confiável: historicamente, os eleitores abaixo de 30 anos mostram entusiasmo durante as prévias, participam das campanhas de registro de eleitores -em suma, inflam a campanha do candidato. E não dão as caras para votar.
A última vez que desmentiram a regra em peso foi em 1972. Naquele ano, a idade mínima para votar nos EUA caiu de 21 anos para 18 anos, e 55% dos abaixo de 30 anos votaram.
Ainda assim, o candidato preferido dos jovens então, o democrata George McGovern, perdeu em 49 dos 50 Estados para o republicano Richard Nixon, que foi eleito presidente.
O universo de pessoas entre 18 e 30 anos aptas a votar hoje representa um quarto do eleitorado, mas o recorde de participação de 1972 nunca mais foi batido. Nos pleitos de 1996 e 2000, apenas quatro em cada dez jovens compareceram às urnas. Em 2008, 58% se registraram para votar -o que não garante que irão, pois o voto nos EUA não é obrigatório-, ante 83% dos acima de 30 anos, diz o Pew Research Center.
O potencial problema para Barack Obama é que um dos trunfos da candidatura democrata é a chamada Geração do Milênio, eleitores que nasceram entre 1979 e 1990. O democrata vem contando com ela para movimentar sua bem azeitada máquina de arrecadação de fundos, registro de eleitores, militância e boca-de-urna.
Também para ajudar bater recordes de público em comícios. Segundo informou a diretora dos Estados-pêndulo de Obama, Jen O'Malley, durante teleconferência na semana passada, a campanha conta com 770 escritórios espalhados no país.
Neles, os jovens são maioria.
"Fazem 400 mil contatos com eleitores indecisos ou independentes por dia, por telefone ou pessoalmente, e esse número salta para 1 milhão nos fins de semana", disse ela.
A Folha visitou vários desses escritórios nos últimos meses.
A cena se repete: espalhadas pelo chão, centenas de pessoas falam em seus próprios celulares para convencer eleitores ou saem em grupos atrás de endereços dados pela campanha para distribuir material. São de todas as idades, mas a maior parte é mesmo de jovens.

O esquema funcionou até agora, principalmente durante as primárias partidárias e nos Estados que realizaram "caucus", assembléias de eleitores mais informais e por isso mais atrativas para gente de pouca idade. O número de participantes jovens nessa fase foi três vezes o das eleições de 2004; desses, 80% votaram em democratas.
Tem funcionado também no mundo virtual. O democrata bate o republicano em todos os sites de relacionamento social e em tecnologias mais ou menos recentes, como o Twitter, site de mensagens curtas, e o SMS, de mensagens pelo celular -o candidato a vice, Joe Biden, foi anunciado por esse meio.
A dúvida é se essa multidão aparecerá na terça-feira para votar em seu candidato. "O uso que a equipe de Obama faz da internet é brilhante, ao mesmo tempo que a admissão de McCain de que está aprendendo a usar o meio choca muitos americanos como se ele estivesse dizendo orgulhosamente que aprendeu recentemente a usar o telefone", disse à Folha Michael Rogers, consultor de novas mídias e até o mês passado futurista-residente do jornal "The New York Times".
"O que descobriremos agora é se esses jovens que Obama atraiu à internet sairão da frente de seus computadores durante tempo suficiente para se registrar e para votar, algo que não pode ser feito pelo Facebook", afirmou.
Se comparecerem, acrescentarão entre 1% a 2% ao total dos votos de Obama, segundo um estudo da Universidade Harvard, o que poderia anular o "roubado" pelo fator racial. Comparecerão, acredita Jen O'Malley, da campanha.
Não comparecerão, rebate David Skiles, o jovem republicano. "As pessoas de minha geração são apáticas", diz. Indagado sobre se ele não se deixa levar pelo apelo da idade -aos 47 anos, Obama é mais próximo dos "milenials", como são chamados os membros da geração, do que o republicano de 72 anos-, ele diz outra frase de efeito: "Prefiro um avô confiável na Casa Branca do que um tio louco".

58% DOS JOVENS
entre 18 e 30 anos se registraram para votar neste ano, mas, nos pleitos de 1996 e 2000, apenas quatro em cada dez eleitores nessa faixa etária de fato votaram


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