São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2011

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Referendo da Grécia derruba as Bolsas e invade cúpula do G20

Em reunião em Cannes, líderes tentarão demover premiê da ideia de uma consulta sobre pacote anticrise

Se consulta popular for mantida, todo o pacote fica congelado, o que inclui a redução de 50% da dívida pública grega

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O presidente de turno do G20, Nicolas Sarkozy, respondeu ao pânico desatado ontem nos mercados com uma convocação ao primeiro-ministro grego, George Papandreou, para participar da cúpula do grupo, que começa amanhã em Cannes.
É menos para dar explicações e mais para ser pressionado para que abandone a proposta de realizar um referendo em que o eleitorado grego decida se concorda com os programas de ajuste em troca do socorro europeu.
O anúncio do referendo e a perspectiva de os gregos rejeitarem os pacotes fizeram as Bolsas do mundo despencarem, o que subverteu a já complicada agenda do G20, centrada na crise europeia.
Comunicado da Presidência francesa deixou claríssimo o recado que Papandreou ouvirá: "A França e a Alemanha estão determinadas a assegurar, com seus parceiros europeus, a completa implementação, no prazo mais curto possível, das decisões adotadas na cúpula, hoje mais importantes que nunca".
É uma alusão à cúpula europeia do dia 27 que, entre outras medidas, determinou negociações com a banca para reduzir em 50% a dívida grega, em troca de um novo socorro, de € 100 bilhões.
O comunicado de Sarkozy foi emitido após conversa entre ele e a chanceler alemã Angela Merkel, os dois governantes que costuraram o acordo da cúpula europeia e assumem, crescentemente, o papel de porta-vozes dos 17 países que usam o euro.

BLINDAGEM
Na cúpula do G20, a Europa tentaria convencer seus parceiros de que o acordo é suficiente para blindar outros países com dívidas elevadas, em especial a Itália.
Se a Grécia mantiver o referendo, todo o pacote fica congelado, o que torna ocioso discuti-lo em Cannes.
Mesmo que Papandreou ceda à pressão de seus pares europeus e retire a proposta de referendo, já subverteu também a política grega: a deputada Melina Apostolaki deixou o Pasok (Partido Socialista Pan-Helênico), reduzindo a maioria do primeiro-ministro a 152 parlamentares em 300, justamente quando está em discussão um voto de confiança no premiê.
Se Papandreou perder a votação, terá que renunciar, iniciativa já antecipada ontem por outro deputado do próprio partido governista, Vasso Papandreou (não é parente do primeiro-ministro).
O deputado quer a formação de um governo de unidade nacional e a imediata convocação de eleições -o que também congelaria a aplicação dos planos de ajuste e, por extensão, a liberação das parcelas do pacote.
Todos os cenários conduzem, à primeira vista, ao que o jornal "Kathimerini" chamou ontem de "derretimento" da Grécia.
Evitar o colapso exige que Papandreou ceda à inevitável -e forte- pressão de seus pares, abandone o referendo e ainda ganhe o voto de confiança, o que deve ser decidido na sexta-feira -justamente o dia em que termina o G20 com a declaração final.
A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, informaram-se no avião que os trouxe a Cannes, mas não fizeram comentários no desembarque ontem.


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