São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2011

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ANÁLISE

Campanha anti-consulta deve ter impacto sobre o projeto europeu

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

De todos os problemas da União Europeia, o "deficit democrático" figura entre os maiores. Burocratas em Bruxelas, sem rosto e sem voto, debatem legislação que afeta a vida dos europeus.
O único órgão eleito é o Parlamento Europeu, mas sempre com alta abstenção nos pleitos. Sua falta de poderes provoca bocejos.
É irônico, portanto, que o mundo tenha caído sobre o premiê grego pela proposta de uma consulta popular.
George Papandreou é uma conhecida raposa da política europeia e dificilmente tinha em mente honrar o milenar DNA democrático de seu povo ao pedir um referendo.
Mais provável que seja uma manobra para tirar de seus ombros o custo recessivo do pacote acordado.
Não importa. Por mais racionais que sejam os argumentos contra a consulta, o que fica do dia de ontem é uma sucessão de líderes europeus vociferando contra uma manifestação popular.
Há precedentes. Em 2005, consultas na França e na Holanda rejeitaram uma nova Constituição europeia.
O continente fingiu que nada aconteceu e saiu-se alguns anos depois com o Tratado de Lisboa, basicamente a mesma coisa, mas envelopada de forma a excluir a necessidade de passar pelas urnas.
Mesmo assim, a Irlanda levou o tratado a voto em junho de 2008. O povo não gostou e teve de votar de novo, até aprová-lo, no ano seguinte.
A Europa agora de novo defende não deixar coisas importantes demais nas mãos da população. Pode fazer sentido econômico imediato, mas ao custo provável de mais descrença na legitimidade do projeto europeu.


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