São Paulo, sexta-feira, 02 de dezembro de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Premiê israelense afirma que manterá assentamentos na Cisjordânia e quer pressão diplomática sobre o Irã

Sharon diz que não abre mão de colônias

DA REDAÇÃO

Embora afirmasse que sua prioridade como provável chefe do próximo gabinete israelense seria negociar uma paz definitiva com os palestinos, o primeiro-ministro Ariel Sharon disse ontem que não abrirá mão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia.
As duas intenções são em princípio contraditórias, já que os assentamentos inviabilizam a formação de um Estado palestino com continuidade territorial.
De qualquer modo, dizem analistas, Sharon já está em campanha para as legislativas antecipadas de 28 de março, e seu discurso é endereçado aos eleitores. Numa mesa de negociações suas posições seriam mais flexíveis.
Ao discorrer sobre seu programa de governo a um grupo de editores da mídia, Sharon afirmou "não haver a mínima possibilidade de os assentamentos não continuarem a existir, contíguos [na Cisjordânia] a Israel". Qualificou-os de "vitais" para a segurança territorial de seu país.
A prova de que a questão não está fechada foi dada por um dos mais próximos aliados do premiê, o ministro da Justiça, Tzipi Livni, que exprimiu outra posição.
Ele disse que a fronteira entre Israel e o futuro Estado palestino provavelmente passará pelo muro de separação construída entre os dois territórios.
O muro, embora incorpore terras que até 1967 pertenciam aos palestinos (é o caso sobretudo de Jerusalém oriental), protege apenas os assentamentos próximos da linha internacionalmente reconhecida como fronteira.
Fora do muro há dezenas de outros assentamentos. Todos eles tinham, em setembro, 242,7 mil colonos judeus, segundo dados de ontem do departamento demográfico do governo.
A barreira -que é em alguns trechos um muro de concreto e, em outros, uma cerca eletrificada- foi construída por Sharon para evitar a infiltração de terroristas vindos da Cisjordânia. Mas ela é objeto de controvérsias, com decisões adversas na Suprema Corte israelense e com a queixa dos palestinos de que constitui uma anexação de suas terras.
"Não é preciso que sejamos gênios para perceber que a barreira sinalizará a passagem da futura fronteira", disse Livni durante uma conferência, relatada por seu porta-voz. "Não foi por isso que foi construída, mas é inevitável que tenha essa implicação."
Sharon deixou na semana passada o Likud, partido que ajudou a criar em 1973, e está formando um partido de centro, o Kadima, que anteontem recebeu o apoio do líder histórico trabalhista Shimon Peres, que por sua vez também deixou seu partido.
O jornal "Haaretz" publica hoje pesquisa segundo a qual o Kadima encabeçaria a votação de março, elegendo 37 dos 120 deputados da Knesset, o Parlamento unicameral. São três cadeiras a mais que as atribuídas à formação, na véspera, por outra pesquisa, a do jornal "Yediot Ahronot".
O Likud ficaria reduzido a 9 de seus 40 deputados. Apenas 16% de seus antigos eleitores votariam agora nele, contra 66% dos que optaram pelo novo partido do primeiro-ministro.
No mesmo encontro com editores, Sharon evitou qualquer bravata em relação aos planos atribuídos ao Irã de construir artefatos nucleares. Afirmou que tal plano é "intolerável" e representa um perigo para seu país.
Mas disse que Israel não encabeçaria uma operação militar contra o regime islâmico -cujo presidente fez recentemente declarações anti-semitas- e que se integrava aos esforços diplomáticos da comunidade internacional para que aquele país não construa a bomba atômica.
"Antes que alguém proponha uma solução militar, todo esforço deve ser feito para pressionar o Irã a cessar tais atividades. Creio que essas pressões darão resultados", afirmou Sharon.


Com agências internacionais

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